COM GRANDE OTELO POR OUTROS CAMPOS DE TRIGO
Sebastião Bernardes de Souza Prata, o Grande Otelo, ator, cantor e compositor mineiro (Uberlândia 1915 – Paris, França 1993) teve sua primeira experiência artística quando conheceu uma companhia de teatro mambembe e decidiu sair de Uberlândia acompanhando essa companhia, com a anuência, é claro, da diretora Abigail Parecis que o levou para São Paulo. O pequeno Sebastião, depois disso, foi adotado pela família do político Antônio de Queiroz, chegando a estudar até a terceira série ginasial. Na década de 1920 chegou a trabalhar ao lado de Pixinguinha que era o maestro na Companhia Negra de Revista. Em 1932, na Companhia de Teatro de Revista Jardel Jércolis (pai do ator Jardel Filho) ganhou o apelido que o consagrou. Os amigos o chamavam Pequeno Otelo, mas ele preferia o pseudônimo “The Great Otelo” que depois traduziu para o português. Seu grande parceiro no cinema foi Oscarito, outro mito do cinema brasileiro; juntos participaram de mais de dez chanchadas como: Carnaval no Fogo, de 1949; Aviso aos Navegantes, de 1950 e Matar ou Correr, de 1954. Mas foi em 1935 que Otelo apareceu pela primeira vez na tela participando do filme “Noites Cariocas”. Depois de trabalhar em filmes conhecidos como: Futebol em Família, de 1939 e Laranja da China, de 1940; foi chamado para trabalhar no primeiro filme produzido pela Atlântica: Moleque Tião, em 1943. Além de comediante, Otelo representava muito bem papéis dramáticos como nos filmes “Lúcio Flávio – Passageiro da Agonia, de 1977” e “Rio, Zona Norte”, de 1957. Otelo tinha 1,50 m de altura, olhos esbugalhados e os lábios espichados de bebê chorão. No Cinema Novo encarou seu principal papel nas telas no filme “Macunaíma”, de 1969. Ainda em 1942 participou do filme “It´s All True” dirigido por Orson Welles. Em Fitzcarraldo, de 1982, do alemão Werner Herzog, filmado nas selvas do Peru, quase enlouqueceu o ator Klaus Kinski, que tinha o ego do tamanho da Amazônia. Otelo precisava fazer uma cena em inglês, mas resolveu falar em espanhol, idioma que Kinski desconhecia. Irado, Kinski retirou-se do set. Quando o filme estreou na Alemanha, aquela foi a única cena aplaudida pelo público, contou depois o diretor Herzog. Uma tragédia familiar abalou as filmagens de Carnaval no Fogo: a mulher de Otelo matou o filho do casal de seis anos e suicidou-se. Otelo filmou a cena em que fazia o papel de Julieta (Oscarito fazia o de Romeu) sem saber de nada. Abalado, afastou-se da fita e só assistiu a cena quase 30 anos depois. Otelo trabalhou, também, em novelas globais, como: Sinhá Moça (primeira versão), 1986; Uma Rosa com Amor, 1972 – 1973) e Renascer, 1993. Como compositor Otelo deixou alguns excelentes trabalhos: A guerra acaba amanhã (com Herivelto Martins), A pátria está chamando (com Herivelto Martins), Bate o Sino Juvenal (com Haroldo Lobo), Batuque de Salvador (com Blecaute), Bom-dia avenida (com Herivelto Martins). Como cantor Grande Otelo gravou alguns discos que hoje são verdadeiras relíquias: Maria Bonita (1939), Columbia; Botafogo / Já Tenho Compromisso (1944), Odeon; Avec, Vous Madame! / Mano e Mano (1946), RCA Victor; A Marcha do Tatu (1954), Sinter; Samba Comunicado (1957), Continental; Carnaval com Quem? Mulheres à Vista (1959), Columbia; Co-co-co-ró! / Umbigo de Vedete (1959), Columbia; Ta Certo Sim! / Neném Transviado (1961), Columbia. Otelo participou de mais de 140 produções cinematográficas deixando um legado inapreciável às artes brasileiras. Portanto, a música, a televisão e o cinema nacional devem muito a Grande Otelo, esse gênio brasileiro que também trabalhou ao lado de Chico Anysio na Escolhinha do Professor Raimundo, da Rede Globo. Depois de lançar o livro de poesias “Bom-dia Manhã”, Otelo morreu em Paris ao sofrer um enfarto.