Eu

Simplesmente eu sou eu. E você é você. É vasto, vai durar. Por enquanto tu olhas para mim e me amas. Não: tu olhas para ti e te amas. É o que está certo.

Clarice Lispector

Este texto não é uma biografia, porém eu quis classificá-lo assim para torná-lo mais curioso.

Nasci em um dia de quinta-feira na cidade de Patos, PB. Fui a quarta filha a nascer, antes de mim nasceram as gêmeas: Maria do Socorro e Maria da Guia em seguida, Maria José. Mamãe era apaixonada pelo nome de Maria, então todas nós somos Marias. Eu fui a quarta Maria, as outras três morreram anjinhas. Eu fui a primeira filha que conseguiu sobreviver e nasci pouco tempo depois de minha avó materna morrer, por isso, recebi o nome de Umbelina, em sua homenagem. Eu não tive o prazer de conhecer as minhas avós e senti essa ausência durante toda a minha infância e adolescência. Eu gostaria de saber como elas seriam comigo, mas a minha curiosidade não pode ser satisfeita, em compensação tive o imenso prazer de conhecer os meus avôs.

Tentando responder a mim mesma quem sou, eu me apanhei listando o que gosto e o que não gosto. Então me perguntei o que admiro nas pessoas e conclui que são o caráter, a determinação, a lealdade e a perseverança. E sobre o que não gosto, penso que a maioria das pessoas são assim como eu, pois é impossível se gostar de gente falsa, bajuladora, egocêntrica, hipócrita, invejosa e gananciosa.

Eu sou alguém de poucos amigos, pois sou muito seletiva neste ponto. Quando eu era criança, umas duas vezes, confiei nas coleguinhas de escola e me decepcionei, daí cresci sempre pensando se poderia confiar ou não nas pessoas que se aproximavam de mim. Então me fechei em casulo e foram poucas as pessoas que conseguiram ultrapassar as barreiras de minha desconfiança.

Eu tenho muitos defeitos. Sou muito exigente, espontânea e autocrítica. Além da timidez que faz com que as pessoas me vejam como orgulhosa e antipática – eu posso até ser antipática para algumas pessoas –, portanto o meu maior empecilho é a timidez que me é muito prejudicial, pois incapacita o diálogo. Mas todos nós temos defeitos e virtudes e eu também as tenho, pois sei ouvir, sou leal, sou fiel aos meus princípios, adapto-me facilmente e sou pacífica.

Há muitas coisas que me revoltam como a injustiça e a ganância desmedida daqueles que destroem os sonhos, a esperança e a oportunidade das pessoas viverem dignamente. Tudo seria melhor sem ideologia religiosa e partidária e se política e a sede de poder não corrompessem tanto e, as pessoas não se deixassem corromper. Eu reconheço que o dinheiro é necessário e indispensável, mas não deveria ser a coisa mais valiosa na vida dos homens. O mais valioso deveria ser a humanidade, a fraternidade, o amor, a harmonia e paz.

Uma das coisas que mais me preocupa é a falta de fé, a falta de religião, o materialismo e a total inversão de valores. Tudo isso é demasiadamente preocupante, pois as pessoas não estão sabendo mais distinguir o certo do errado. E a falta de perspectiva das pessoas causa um grande desengano levando-as ao caos, por isso a fé é tão necessária na vida dos homens. A fé é um guia que orienta as pessoas na busca de um caminho iluminado e feliz. Deus é Pai, Criador, amantíssimo e justo. Eu estou me sentindo ultrapassada visto que, o meu conceito de beleza inclui caráter, inteligência e educação, coisas que ficaram perdidas no tempo.

O meu maior tesouro é a minha família. Os meus filhos, genro, noras e netos são a minha razão de viver, realização, satisfação e preocupação constante porque a minha família é minha essência, a minha motivação para acordar todos os dias e encarar as surpresas nem sempre agradáveis que a vida nos reserva.

Há algumas pessoas que eu admiro muito e a principal delas, é a minha mãe, por ter sido uma mulher de garra, corajosa e de caráter. Ela foi pai e mãe dos seus filhos naturais e adotivos. Desdobrou-se trabalhando em até três hospitais para cumprir com as suas responsabilidades de chefe de família. Mamãe é uma das pessoas mais íntegras que conheço.

Eu sou uma pessoa feliz. Obviamente a felicidade permanente não existe, o que existem são os momentos felizes e, eu os tenho muito e aprendi que só reconhecemos a felicidade quando bate à nossa porta a infelicidade, mas essa é um estado de espírito não permanente, tal qual a felicidade.

Dizem que eu sou corajosa, mas reconheço as minhas fraquezas. Tenho muita preocupação com a perda dos valores e a violência que tantos danos nos causam. Tenho preocupação com o mundo que estamos deixando para os nossos descendentes. Tenho medo do que desconheço, tenho medo de perder as pessoas que amo, sim eu tenho medo da morte e muito, pois ela é uma viagem indesejável, mas inevitável.

Eu tenho grande paixão pela arte, por todas as linguagens artísticas: artes visuais, dança, música, cinema, teatro, literatura e fotografia. A arte me abstrai, me faz viajar, me leva a voar além do horizonte e me esquecer de mim. Eu gosto de ler, de escrever, de cantar, de dançar, de desenhar, de pintar, de olhar coisas belas, de viajar e também de ficar em casa com a minha família.

Eu tenho sede. Sede de conhecimento e aspirei o mestrado, o doutorado..., mas o destino me traçou outros planos. Nem tudo que se aspira, é possível se alcançar.

Eu não sei o que farei quando a minha aposentadoria chegar. Talvez possa me dedicar à pintura, ao desenho, a leitura, enfim, possa fazer o que desejo e não encontro tempo para fazer. Ou talvez nem a veja chegar. O futuro é uma grande incógnita.

Umbelina Marçal Gadelha

Umbelarte
Enviado por Umbelarte em 05/06/2023
Reeditado em 05/06/2023
Código do texto: T7806044
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