Meus vinte e cinco
Um dia qualquer, acordei e comecei a pensar e repensar algumas situações pelas quais estava passando.
Ressignifiquei algumas coisas aprendidas, refleti outras ouvidas, e percebi que essa reflexão matinal havia despertado em mim um aliado, o desabafo íntimo.
Assim fui passeando por dentro de mim lentamente, me conhecendo melhor, sem qualquer tipo de julgamento apressado e me encarando de frente, coisa que eu nunca tinha feito.
Verifiquei que com essa imersão na minha própria intimidade, tive um grande crescimento pessoal, absorvendo sensibilidade, amor próprio e aos outros, discernimento, segurança, atitude, enfim, vários acréscimos de componentes para minha futura personalidade.
Percebi ainda que esse desabafo no espelho estava sendo imprescindível pra minha saúde mental, pois sem perceber eu estava me tornando meu inimigo, quando devia ser exatamente o contrário.
Talvez por abrigar pensamentos entristecidos e muita coisa retesada em meu interior, eu não estava conseguindo assimilar tudo aquilo que me consumia aos poucos e me deixava infeliz e meio que desiludido.
Filosofei então, que seres humano parecem vulcões com muita lava embutida, que vão se juntando aos poucos, e quando expelem o calor abundante das suas emoções acumuladas, a quantidade vem sempre maior que a imaginada ou suportada.
Talvez o ideal seria extravasar aos poucos essas emoções íntimas, pra poder curtir mais cada sensação, cada emoção, bem devagarinho, sem apressar as etapas, sejam elas sentimentais ou de qualquer outra ordem pessoal.
Assim, concluí que o importante era desabafar sempre, não importando como, eu teria que aprender o modo ideal pra cada momento que me incomodava, pois naquele momento da minha vida eu me encontrava meio que sozinho e estagnado.
Nesse dia então, descobri um modo especial e maravilhoso de desabafar as emoções, que era escrevendo tudo aquilo que sentia, pensava e precisava externar de alguma forma pra descarregar as tensões daquela época.
Ai, quando começava a escrever, a minha sensação era que as letras desabrochavam naturalmente, saíam dos meus dedos, fluíam como água escorrendo entre as pedras, querendo encontrar o mar e seus encantos e segredos.
Saiam coisas nas minhas escritas que eu nem imaginava ser capaz de escrever, coisas que relendo depois não conseguia nem entender, viajava para tão longe, sem ao menos sair do lugar, apenas nas asas de uma folha de caderno.
Naquele dia, em que eu só pensava nas contradições da minha vida e me sentia injustiçado por ela, ao jogar a tinta no papel percebi que um novo mundo de alegria inexplicável estava se abrindo, onde eu seria livre pra criar, falar e ouvir o que eu quisesse, sem preocupações ou censuras e libertando minhas inspirações.
E foi assim, escrevendo, rascunhando, apagando, relendo e entrando nesse mundo maravilhoso que é a leitura e a escrita, descobri que meus vinte e cinco anos haviam chegado e não eram tão ruins assim como eu achava.
Me dei os parabéns em forma de poesia, que foi o melhor presente de aniversário que recebi até então.
E tive a certeza de que eu não seria mais o mesmo a partir daquela descoberta que mudou o rumo da minha vida.