MEU PAI E EU

Muitas vezes papai me levava a pescar com ele e subíamos o rio de canoa. Parece-me ouvir o chape-chape do remo de um lado e do outro nas águas, e papai recomendando: ”Fique quieta, não levante na canoa.” Não me levantava, mas ia colhendo a água na concha da mão. Olhava para ele admirando seus lindos olhos verdes e dizia: “Papai, seu olho é da cor da mata que eu vejo aqui na água; da cor das penas do papagaio também". Ele dizia: “E o seu é da cor das folhas secas no barranco.” E contava para ele que a tia Ilda dizia que o olho dele era cor de titica de papagaio, e que eu ficava muito zangada, mas papai ria... “Ela só tava brincando com você, bobinha!”. Eu pensava que os adultos só diziam a verdade.

Papai era alto, magro, bonito. Não só eu achava, mas as moças brincavam comigo, comentando para que eu contasse para ele. Eu, muito zangada dizia que ia contar para a mamãe! E como todo homem elegante daquele tempo, usava a brilhantina Glostora – um gel que realmente dava brilho e forte perfume aos cabelos.

Trecho do livro "Das janelas de minha infância" - Life Editora, 2010, Campo Grande - MS.