Assustada com a nova missão, cheguei à fazenda sede da Escola Agrícola para  a gestão daquela Instituição. 

Longe da minha morada, da família, da minha Lavrinhas. Costumes diferentes, protocolos muito diferentes...

Para a comunidade escolar... eu era  uma figura chegada das barrancas do Rio de Janeiro. Olhares estranhos  permeavam a desconfiança daquelas pessoas. Sozinha, ao lado de um presídio com mais de quatro mil detentos,

um complexo da Fundação Casa e do outro lado, uma Penitenciária feminina, instalados nas terras desmembradas  da fazenda escola pelo governo estadual.

 

O interior da propriedade escolar  abrigava  a estrada de servidão pública com destino ao Assentamento do MST. Três quilômetros de estrada de terra, escuros e obscuros, carregados de passantes com intenções diversas e reversas.

 

O prédio neocolonial de 1945 encontrava-se em péssimo estado de conservação. A parte central, com vinte mil metros quadrados, no formato de uma aeronave, rodeado pelas casas dos funcionários e outros prédios agregados para o desenvolvimento dos estudos voltados ao agronegócio, parecia um museu abandonado sem riso, nem ciso.  Os quase trezentos alqueires acolhiam  a bela construção, escondido junto aos projetos vizinhos... assustadores!  O paradoxal ninho do saber carecia de força, coragem e desejo de transformação junto à emoção de viver um momento novo na Educação Profissional.

 

Além da Escola.... muitos alunos viviam na moradia improvisada numa ala  do prédio.

Sem estrutura, prédio judiado, quase abandonado, sem cores e albores, o desafio tornara-se assustador. As histórias, lendas e malvadezas percorriam as boas vindas à  nova diretora, medrosa e ansiosa pelas cores no novo cenário desprezado.

 

A visita da supervisora de ensino motivou  conhecer  as áreas  misteriosas da garbosa edificação, ainda não vistas.

Resolvemos começar pela parte desabitada... quando a porta foi aberta, como num terremoto, o teto desceu abruptamente. Por um triz...  as pessoas não foram soterradas.

O segurança nos acompanhava e dizia..."não querem vocês visitando essa área...."

 

O medo tomava conta. Calafrios percorriam as intenções, o desejo de ficar... ou ir e nem olhar para trás!

 

Foram cinco anos  recheados de  sustos e sobressaltos.

Valeu a pena..."...a alma não é pequena."

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

foto by Zaciss