Natanael Medeiros

Por Nemilson Vieira de Morais (*)

"O tempo passa/ mas a gente acha/ um velho amigo perdido na praça/...". — Edigar Muniz

Nos encontramos na praça central da cidade e nos acomodamos num velho banco de concreto, sob a proteção arbórea (em sombra), e ao propor-lhe a produção desse texto, disse-me:

"Em relação a minha vida, essa é a minha primeira entrevista". — Natanael Medeiros

Jardinense de nascimento e campos-belense de coração, fora um grande amigo de papai e amigo meu também (de garoto, de rapaz e de agora). Em bom grado deu-me a honra da feitura desse registro.

Alegrei-me nesse encontro, não vou mentir: pela prosa e por vê-lo bem, em vários os sentidos, visto a idade que carrega (faltam 2 mêses e uns dias para alcançar 90 anos).

Sua visão para perto está comprometida e não consegue mais ler; óculos de gráus não resolve mais. Isso doi-lhe, pelo gosto que tinha da leitura.

É bastante visto pela cidade usando óculos escuros, cuidando bem onde pisa, e atravessando as ruas pelas faixas de pedestres.

Ama de paixão uma boa conversa com os amigos; num mexer de cabelos, no alto da cabeça.

A inteligência (admirável), a memória, aparentemente boa, preserva... seu senso de humor ainda é percebivel e onde chega é bem recebido (pela persona-grata que sempre fora).

Natural da gema de repentistas, cordelistas carrega algo poético consigo, que não esconde. Vive a deixar essas coisas de poeta por onde passa, num recitar de versos, textos, de sua autoria ou de outrem.

Nessa quinta-feira, inspirado, jogou poesias em mim... Num texto que ressitou, sobre Tancredo de Almeida Neves.

UM POUCO DE SUA HISTÓRIA

Natanael Medeiros é filho de José Marreco de Medeiros e Francisca Genesiana de Medeiros (ambos, in memoriam).

Ao todo, além de Natanael, seus pais tiveram mais 7 filhos: Natália, Otavia, Elisete, José, Maria do Carmo, Antônio e Rogério.

Nasceu no sertão nordestino, na cidade mais plana que já vi: Jardim do Seridó (RN), em 3 de maio de 1934. Hoje, a cidade conta com uma população de 18 mil habitantes.

Na sua infância as brincadeiras das meninas eram de "anel" e "casamento oculto"; dos meninos: eram de correr atrás um do outro, e de futebol.

Aos 6 anos Natanael mudou-se com os pais para Carnaúba dos Dantas, em 1940.

Estudou no Grupo Escolar Caitano Dantas e ainda se lembra (do nome e sobrenomes) das professoras que mais marcaram sua primeira infância. Como a professora Astrogilda Meira de Azevedo, Clóvia Marinho Lopes e Marta Medeiros.

Trabalhou um bom tempo com o pai, quando este tocava suas lavouras em roças de toco e num comércio da família (na cidade).

RIO DE JANEIRO

Ao perguntá-lo o motivo de ter deixado à 'terrinha', respondeu:

"Simplesmente por curiosidade em conhecer o mundo. Naquela época as pessoas se locomoviam muito, pois a vida era muito difícil... " — Ponderou Medeiros

Natanael teve uma passagem relâmpago pelo Rio de Janeiro, quando, aos 17 anos aventurou-se a conhecer a 'Cidade Maravilhosa'. Não se tratava de um passeio; a viagem fora como um treino, um teste da sua capacidade de voar, sair do ninho. Conhecer lugares e pessoas diferentes.

Na encantadora metrópole (Rio), Natanael ainda trabalhou por 8 mêses, numa unidade da Consul, em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense.

— Nos bons tempos essa empresa fora, e provavelmente ainda seja, a maior fabricante de eletrodomésticos do mundo; tendo sido fundada na cidade de Joinville (SC), em 1950.

Não é sabido se foi a saudade de casa que apertou demais (talvez). O certo é que, Natanael do nada, jogou tudo para o alto...

O emprego, a beleza do litoral, das garotas de Ipanema, os banhos de mar. Nada conseguiu detê-lo na 'cidade de encantos mil'.

VOLTOU À CASA DOS PAIS

Como dito, após os oito mêses trabalhados na capital carioca, Natanael retorna à casa dos pais em Carnaúba dos Dantas e repensou a vida...

PELOS CAMINHOS DE MINAS

Após o muito matutar Natanael deve ter concluído que o Rio de Janeiro era para os fracos; bom mesmo seria Minas Gerais.

Em 1953, aos 19 anos deixa tudo de mais precioso em sua terra... Os pais, os irmãos, amigos... e ganha a a estrada das Alterosas.

— Compondo uma leva de trabalhadores braçais para as colheitas de arroz em Capinópolis (Triângulo Mineiro), limítrofe a Cachoeira Dourada, Ituiutaba, Cupuaçu...

— A formação populacional dessa cidade mineira se deu por imigrantes nordestinos também, além de japoneses, e outros. Pelas lavouras de café, arroz... que cultivavam por lá na época. Nesses termos Natanael permaneceu até 1956. — Quando saiu para continuar sua trajetória de vida...

DISTRITO FEDERAL

No Planalto Central virou candango, na construção de Brasília, que lentamente ganhava forma de cidade, longe ainda de ser concluída, inaugurada.

Na então futura Capital Federal que se erguia no meio do nada, dentre outros, prestou serviços de apontador, na Divisão e Viação de Obras Urbanizadora da Nova CAP.

— Só arredou o pé de lá, após a sua inauguração, em 1960. Pelo então chefe maior da Nação (o estadista Juscelino Kubitschek de Oliveira), que cantou o "Peixe Vivo" abraçado com a mãe, dona Júlia Kubitschek.

Pouco ou muito, Natanael, cidadão Campos-belense de alma, deixou (com trabalho e suor) o registro nos anais da história da edificação de uma das mais modernas capitais do mundo.

NO ARAGUAIA

Mundo Novo, à margem do quixamirim, São Miguel do Araguaia (GO), o aguardava. — E Natanael se fez presente nessa cidade, há trabalhar no que viesse pela frente; e assim o fez por 2 anos consecutivos (1961/1962).

RETORNO A BRASÍLIA

Em 1963 Natanael retornou à Brasília e, em Vila Planalto, ao ver uma nota fiscal com o nome de Ivan Almeida Murta, soube pelo documento, se tratar do amigo mineiro (que conhecera na sua viagem ao Rio) e que, o mesmo residia em Campos Belos (GO).

Luiz Gonzaga (não é o sanfoneiro famoso) conhecido seu de Anápolis (GO), representante do Café Pina, fez a ponte para o encontro dos 2 amigos (Natanael e Ivan) na cidade goiana (Nordeste do Estado). — No dia 4 de julho de 1966, foi possível esse encontro acontecer.

No ano seguinte, em 9 de janeiro de 1967, Natanael veio de mudança para Campos Belos. Onde fincou suas raizes...

UMA FAMÍLIA FAZ FALTA

Faz muita falta uma adjustora, uns meninos para alegrar a casa, a vida; um lar para chamar de seu...

Com o avançar da idade não deu mais para prosseguir seu viver solitário e logo tratou de construir uma família e Deus o abençoou ricamente nesse aspecto.

Em 17 de setembro de 1971, nos ditames do sacramento divino, casou-se com Mariana Urcina de Medeiros. — Desse amor vieram Natelson, Natelma e Diorgenes.

TRABALHO

No setor privado, em Campos Belos trabalhou com o Ivan, no seu mercadinho da Rua do Comércio.

... Pelas experiências laborais adquiridas na extração minerária, no garimpo do Riacho e de Nova Roma, com Elias Vieira, e outros companheiros houve uma facilidade a mais, no tocante ao seu ingresso na Companhia Tricontinental.

... Empresa de Mineração estabelecida no distrito do Riacho dos Cavalos, Monte Alegre (GO), que desenvolvia suas atividades de prospecção, pesquisas... Estabelecida na região em 1975.

No setor Público trabalhou na Prefeitura Municipal de Campos Belos (gestão Adelino José dos Santos), na administração (de uma unidade) no sistema de abastecimento de água potável do distrito do Barreirão.

Um pouco mais stabilizado financeiramente, tornou-se dono do seu próprio negócio: virou micro empreendedor individual em 1977, e continuou nessa atividade comercial até a década de 1990.

Como já dito, sua amizade com Ivan Almeida Murta (in memóriam), vem de longa data: iniciou-se em 1949, ao viajarem juntos (lado a lado) para o Rio de Janeiro.

Preserva em grande estima a amizade com grande amigo, na boa relação que têm aos seus familiares; muito deles ainda residem em Campos Belos.

VISITA AOS FAMILIARES

Natanael retornou à terra natal após 24 anos, um mês e 4 dias (de ter deixado os pais). Não encontrou mais o velho pai, por ter falecido em 1962. A mãe estava firme, o esperando.

Após essa primeira visita houve outras, com outros filhos.

Seus irmãos já o visitaram em Campos Belos também, e a alegria desses reencontros foi uma só, em gratificação e júbilo...

*Nemilson Vieira de Morais, Gestor Ambiental, Acadêmico Literário.

(23:02:23)

Texto com base numa entrevista ao biografado (pelo autor) na praça da Igreja Matriz, de Campos Belos - GO, em 23 de fevereiro de 2023.

Nemilson Vieira de Morais
Enviado por Nemilson Vieira de Morais em 24/02/2023
Reeditado em 15/03/2024
Código do texto: T7726763
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