Minhas Memorias
EDIMAR ALVES DE LIMA
MEMORIAL DESCRITIVO
Paragominas, 09 de junho de 2020.
Edimar Alves de lima,
Mãe: Maria Rita Alves de Lima
Pai: Lourival Bezerra Lima
Nascido em 05 de Janeiro de 1977, na cidade de Taguatinga-DF.
Professor de Matemática na escola Municipal de Ensino Fundamental Hilda Oliveira Sá.
Endereço: Rua Terezinha Rodrigues de Souza, 197, Bairro Jardim Bela Vista, Paragominas-Pa.
MEMORIAL DESCRITIVO
As palavras empregadas neste trabalho irão expor as memórias que trago comigo, por serem relevantes e significativas para mim, e por acreditar que elas podem ajudar, adolescentes. Jovens e adultos, a superarem as agruras e sofrimentos conscientes e inconscientes, comum nesta sociedade excludente, são grilhões mentais que lhes condenam a um triste futuro, alguns fatos serão ricos em detalhes outras não, pois, nem todos acontecimentos podem serem expostos detalhadamente devido envolverem a pessoas outras, no qual, não é o objetivo deste trabalho.
INFÂNCIA
Foi no dia 05 de janeiro de 1977, em Taguatinga-DF, que minha mãe, Maria Rita Alves de Lima me trousse ou mundo dos viventes. Abandonada, semanas depois do meu nascimento, pelo meu pai, Lourival Bezerra Lima, e devido às dificuldades em poder prover o sustento dos agora três (03) filhos, minha mãe teve que retornar ao nordeste, para a cidade de Imperatriz-MA. La, ela trabalhava em carvoaria, lavando roupas para terceiros, fazia e vendia comidas (sarapatel, panelada, rabada, peixe frito e mais vendida, galinha caipira), em uma barraca montada na localidade bem conhecida na cidade, “quatro boca”.
No bairro Santa Rita, na Rua Santa Rira, sobre os cuidados da minha mãe, Maria Rita, foi onde tive o prazer dar meus primeiros passos e pronunciar minhas primeiras palavras, também, foi onde começaram a serem armazenadas as memorias que integram este trabalho.
Foram dias difíceis, minha mão teve de trabalhar muito, sempre na época da colheita, íamos para zona rural, onde cortávamos o arroz, pelo cacho, usávamos para isso um faca entrelaçada nos dedos, não eram poucos os calos feitos nos dedos da mão; depois de cortado, o arroz era levado até o paiol para ser pesado e armazenado ainda no cacho, era necessário cortar três (03) arrobas, para os proprietário do roçado e uma para nós, os dias se faziam longos e árduos, contudo, tínhamos alimentos em abundância, três vezes durante o dia, frutas, verduras e legumes, muito melhor que a rotina no cotidiano da minha vida na cidade naquele tempo.
Recordo da casa onde morávamos, tampada com barro, e coberta com palha de cocô babaçu, chão batido, também lembro, tínhamos um pote e um fogareiro feito com uma lata de ferro e barro, uns poucos pratos e panelas, o quintal da casa era bem espaçoso, com árvores frutíferas, manga, cajú, goiaba e abacate, os meus canteiros de cebolinha e coentro, vinagreira, couve e alface, o duro, era tirar águas do poço, precisava de muito esforço para rodar a gangorra até o balde com água chegar a superfície, mas era o único meio de regar os canteiros, pois das hortaliças vinha o dinheiro das minhas roupas e calçados. Neste cenário de labor e muita dedicação minha mãe criava meus dois irmãos e a mim.
ADOLECÊNCIA
Daí, a necessidade que se impõe de superar a situação opressora. Isto implica no reconhecimento crítico, na “razão” desta situação, para que, através de uma ação transformadora que incida sobre ela, se instaure uma outra, que possibilite aquela busca do ser mais. (Paulo Freire, 1970, pedagogia do oprimido, 1970, p.18)
Para frequentar a escola, não era nada fácil, a distância, um fator preponderante no baixo desempenho de aprendizagens, já chegava na escola fadigado, os professores eram dedicados, mas severos, nos moldes da imposição, não da conquista, assim é o modelo de “educação bancária” aplicada e deixada como herança pela ditadura militar no Brasil.
Daí, então, que nela:
a) O educador é o que educa; os educandos, os que são educados;
b) O educador é o que sabe; os educandos, os que não sabem;
c) O educador é o que pensa; os educandos, os que são pensados;
d) O educador é o que diz a palavras; os educandos os que escutam o docilmente;
e) O educador é o que disciplina; os educandos, os disciplinados;
f) O educador é o que opta e prescreve sua opção; os educandos os que seguem a prescrição;
g) O educador é o que atua; os educandos, os que têm a ilusão de que atuam, na atuação do educador;
h) O educador escolhe o conteúdo programático; os educandos, jamais ouvidos nesta escolha, se acomodam a ela;
i) O educador idêntico a autoridade do saber com sua autoridade funcional, que opõe antagonicamente a liberdade dos educandos, estes devem adapta-se as determinações daqueles;
j) O educador, finalmente, é o sujeito do processor; os educandos, meros objetos.
Na verdade, o que pretendem os opressores “é transformar a mentalidade dos que oprimidos e não a situação que os oprime”, isto para que, melhor adaptando-os a esta situação, melhor os domine. (Paulo Freire, pedagogia do oprimido, 1970, p.34)
Já na quinta séria, em um dia durante a aula, fui obrigado a sair da sala por não está usando o uniforme da escola, nem me foi perguntado porque eu estava sem ou se ao menos tinha condições para compra-lo, o medo de levar uma surra, não me permitiu contar a mão, achava que podia engana-la, saía de casa todo dia para ia a escola, entretanto, ficava mesmo era perambulando pelas ruas do barrio, foi quando tudo começou a dar errado, as ruas me ensinava tudo de ruim, não demorou muito para conhecer e usar o cigarro e as drogas, a ideia de esconder da minha mãe não deu certo, logo ela tomou ciência e tentou me aconselhar, não adiantou, eu já estava revoltado com tudo e com todos, deixei a minha família e fui morar nas ruas, onde fui chamado de “trombadinha”, como eram chamado os meninos que viviam perambulando nas ruas, dormindo nas calçadas e praças. Em um curto tempo comecei a ser figura carimbada nas delegacias da cidade, furtos, roubos, e tantos outros delitos e crimes que praticava, achava ser o dono do pedaço, o cara respeitado, o que eu não via, era que, eu não passava de um errante destinado a morte, ou no mínimo, ao fracasso em um desumanizado presídio brasileiro.
Já com a idade de 17 anos, em um dia, por volta das 4:00hs, da manhã de uma segunda feira do mês de maio de 1994, quando na companhia de dois marginais, tentávamos realizar um assalto, ao render um vigilante, outro que não tínhamos avistado, nos surpreendeu com um tiro de espingarda, Dezessetes caroços de chumbos me alvejaram, um deles penetrou e se alojou em meu pulmão, outro cortou a córnea do olho esquerda, fique sego do lado esquerdo no mesmo instante.
O AMADURECIMENTO.
Como já não era um anônimo do submundo, tive de fugir, percorri várias cidades, mas em 1996 chegava na cidade de Paragominas-PA, e no ano seguinte fui convidado por quatro parceiros para estudar na escola Professora Maria da Silva Nunes. No ano seguinte já cursando a 6ª série do ensino fundamental na mesma escola, tive a oportunidade de concorrer a representantes dos estudante no conselho escolar, vale ressaltar o incentivo fundamental da Diretora, Terezinha Leão, e da vice, Marli Pereira, ambas em saudosa memória, eu não sabia nado do assunto, mas como gostava de futebol, pensei “é uma boa oportunidade de fomentar jogos entre turmas da escola” então me candidatei, fui eleito, e logo depois os conselheiros me escolheram como tesoureiro do conselho escolar, mas que ironia, pela primeira vez alguém além da minha mãe depositava confiança em me, então comecei a ver o mundo e suas injustiças, o quanto fui vítima de suas exclusões, então vir a necessidade das lutas sociais.
O conselho escolar me levou um amadurecimento social, foi ai que comecei a escrever poemas, contos e crônicas, e lutar para fundar uma organização estudantil para enfrentar as barreiras impostas pela Secretaria de Municipal Educação, cheguei a ser proibição de entrar nas escola da rede, mas não desistir, como ajuda do meu amigo e camarada Bruno Farias, fundamos a UMESP-União Municipal dos Estudantes Secundarista de Paragominas, e consequentemente as lutas sociais passaram a fazer parte da minha vida, foi ai, que levantamos a luta da meia entrada e meia passagem em Paragominas, direitos esses desconhecidos e negados até naquela época, depois de muitas lutas, esses direitos foram reconhecidos e garante em lei aprovada na Câmara Municipal de Paragominas.
O processo de definição de políticas públicas para uma sociedade é marcado por conflitos de interesses e disputas de poder. A partir do surgimento de fatos sociais ou de movimentos de classe que, diante da sua importância política, econômica ou cultural, insistem com o Estado a organizar as medidas pertinentes que configurem a realização das necessidades levantadas. Por isso, voltamos à discussão inicial deste texto: uma lei é resultado de lutas e disputas de interesses, entre os que atuam no Estado Ampliado. (Maria Margarida Machado. A educação de jovens e adultos: após 20 vinte anos da Lei nº 9394, de 1996. p . 441)
No ano de 1999 fui aprovado no concurso público para a função de auxiliar operacional de segurança patrimonial, função exerci em várias escolas e sempre no período da noite, até 2004, e no ano de 2001 comecei a cursar o curso normal, no período da manhã, curso esse, equivalente ao magistério, em 2004 já finalizando o curso fui aprovado novamente em concurso público municipal, agora para professor de nível I, onde comecei a descobrir o prazer de educar, primeiro as crianças e depois os adolescentes e adultos, trabalhei na escola Associação da Paz, na escola Maria Luza e na escola Luiz Guilherme, sempre lecionando para 3ª e 4ª série, hoje 4º e 5º ano, ainda tive magnífica experiência na escola Luiz Guilherme de trabalhar com a Educação de Jovens e Adultos (EJA), 1ª e 2ª etapas. Em 2006 fui aprovado no processo seletivo de licenciatura plena em matemática, sendo este, o primeiro curso ministrado pela UEPA, na modalidade a distância, porém, todas as disciplinas eram no prédio do no prédio da UEPA na cidade, também fiz parte do Diretório Acadêmico da UEPA-Paragominas, o que me permitiu participar de vários congressos da UNE-UBES, enriquecendo meu saber e melhorando a forma de aplicação de aulas, já que durante todo o curso eu lecionava na rede municipal de ensino, tinha uma rotina cheia e trabalhosa, porém, muito gratificante, principalmente quando alunos da EJA conseguiam assimilar o que lhes ensinava. Em 2011, já formado, fui chamando para ser empossado no cargo de professor de nível II, agora licenciado em matemática, concurso este que tinha sido realizado em 2008, ainda quando eu estava cursando a licenciatura na UEPA.
O ano 2011, foi sem dúvida o mais dolorido da minha vida, tive de passar pela perda da minha mãe, morte provocada por um câncer no pulmão, provavelmente ocasionado pelos vários anos trabalhos em carvoaria. Contudo sei, ela partiu realizada, viu de corpo presente a formatura do filho e logo o que tanto lhe fez sofrer e que, muitos acreditavam na sua morte precoce, mas foi justamente este o primeiro dos três filhos a ter um diploma de graduação superior.
Em 2012 o meu coração recebeu um balsamo de conforto, para contrapô a minha grande perda, veio a primeira grande graça divina na minha vida, descobrir, mesmo sem planejar, o sabor de ser chamado de pai, fui agraciado com o meu primeiro filho Hudson Theylor, e em 1013, a dádiva se repete, igualmente agradável, agora é a filha, Tayla Sofia.
CONCLUSÃO
A história não se repete, mas as contradições que movem a história nos provocam a olhar o vivido e retomar o curso. (Maria Margarida Machado. A educação de jovens e adultos: após 20 vinte anos da Lei nº 9394, de 1996. p . 441)
Foram muitos sofrimentos, cicatrizes visíveis e invisíveis que não me deixarão esquecer jamais o caminho percorrido, e que serão o alento motivador no trabalho e na vida pessoal para ajudar todo e qualquer que seja, que necessite de mim, pois sei o quanto é triste passar situações similares, mas é possível recomeçar e vencer, pois hoje tenho orgulho de ser pai, ser educador, ser quem hoje sou. Eu não melhor que você, então você pode chegar ainda mais longe, é só querer.
No infinito do saber, não há limites para quem deseja aprender.
Autor: Edimar Alves de Lima.