Rotas de Aprendizado
E eu me lancei nesse novo caminho, uma cidade que parecia um caldeirão de tão quente mas com o frescor e a beleza da natureza em cada passo. Aprendemos a admirar, ter esperança e nos motivar com o nascer e o pôr do sol maravilhosos e as araras e tuiuiús em plena cidade. Estava em Corumbá, no Pantanal.
Com a promessa de um novo começar, de olhar a vida sob um outro prisma, uma nova possibilidade.
Tinha na minha bagagem o estritamente necessário e os conhecimentos que trazia da Gastronomia e da terapias integrativas.
Comecei dando um passo de cada vez, conhecendo a rotina da cidade, das pessoas.
Meu coração que bate o sangue árabe, logo foi atraído para a comunidade árabe local. Fiz amizade com a dona de uma loja de comidas e com ela conheci a cidade e as pessoas. Sentávamos, tomávamos café e conversávamos muito. Fui conhecendo através daquela senhora muitas mulheres, muitas vidas, seus sonhos, suas conquistas. Comecei a fazer parte da vida delas e atendê-las em casa com massagem, acupuntura e as conversas e o grupo foi se ampliando. Fui convidada para festas e pude sentir a alegria delas, nas conversas, na dança. Talvez o mencionar minha origem trouxe essa proximidade, mas a maior conexão foi ouvirmos umas às outras.
Elas me apresentaram a cidade, me inscrevi numa academia, que me possibilitou conhecer a esposa de um fisioterapeuta e a partir daí uma nova parceria surgiu. Em algumas tardes era nessa nova clínica que atendia e em alguns finais de semana também comecei a participar de alguns eventos.
Tudo era perto e percorria as distâncias curtas a pé e as longa de moto-táxi.
E foram surgindo novas possibilidades me inscrevi como voluntária na ONG local, conheci a cultura daquele povo, a grandeza de seu coração. Eles sempre compartilhavam frutas, algo que para eles era bem especial, como forma de agradecimento. E assim, comecei a participar de reuniões com outras mulheres, mães e filhas. Havia uma preocupação muito grande por ser uma cidade de fronteira, e pela primeira vez me vi com a triste realidade da prostituição infantil, daquelas meninas em troca de comida, de dinheiro para ajudar a família.
Fiquei por dias escutando-as e vendo cada profissional daquela roda orientá-las e motivá-las a cuidarem-se e iniciar um ofício que devolvesse a elas a alegria, o sabor da vida. Muitas conseguiram, outras não, mas o aprendizado ficou.
Algo dentro de mim me mantinha confiante e me inspirava a ir além. Fiz uma proposta para dona de um espaço urbano que deu certo e as coisas se ampliavam. Naquele lugar conheci esposas de profissionais da Marinha que também vinham dos mais diferentes lugares. Com elas aprendi o tempo de espera, o viver o hoje e por beleza em tudo que fizer. Elas não tinham certeza de nada, de uma hora para outra seu destino poderia mudar e serem transferidos para um novo local. Assim o que tinham era o que estavam vivendo agora.
Aprendi a trazer a festa, o contentamento para dentro do espaço que vivia que era a princípio um pequeno quarto de hotel. Punha flores. Arrumava a pequena mesa para lanches rápidos, Criava um ambiente aconchegante para mim e meu companheiro ao voltarmos do trabalho. Com o tempo nos mudamos para um apartamento mas mantive os ensinamentos que fizeram toda a diferença nos fortalecendo nos momentos mais desafiadores.
Guardo esses momentos com muito respeito e carinho por tudo que aprendi, por todos que conheci e com quem até hoje tenho contato. Eles tocaram minha vida e me permitiram tocar a deles. E quando sentia perder minhas forças me reabastecia no por do sol, à beira do Rio.