Processos...

“Para entendermos a nós mesmos,

antes temos que abandonar as certezas e,

depois, procurar as respostas”

(São João Paulo II)

Foi no dia 6 de agosto de 2017, num domingo à tarde na sala de estar da casa de meus pais, com a minha irmã e a minha mãe, assistindo ao filme “Uma amizade com Papa João Paulo II” (2014), quando, pela primeira vez, ouvi essa frase sendo pronunciada pelo personagem que então interpretava esse grande santo. Naquele momento, essa sentença me fez pensar muito e, desde então, nunca mais a esqueci. Depois desse episódio, assisti a esse longa-metragem em duas outras oportunidades até o momento e, em ambos os casos, o impacto fora semelhante. A profundidade e sabedoria desses dizeres são atemporais, servem para todos em quaisquer épocas e contextos históricos.

Para ser bem sincero eu não me lembrava desta data especificamente. Mas, não é de hoje, que possuo o hábito de publicar em minhas redes sociais trechos de livros, filmes, aulas, pensamentos... os quais de algum modo me fazem refletir, como uma forma de partilhar com os outros um pouco dos meus aprendizados. Sinceramente, não creio que a grande maioria das pessoas leiam essas publicações e, de fato, pensem sobre elas com a devida atenção – já dizia Bauman estamos em tempos líquidos, nada é para durar, tudo é instável, rápido e, consequentemente, pouco refletido –, porém, mesmo que provavelmente não atinja a quase ninguém, tornam-se lembranças registradas em meio virtual as quais me aparecem em forma de notificações e refrescam, de maneira mais detalhada, algumas de minhas memórias.

Explicações à parte, hoje, completando meus 25 anos, percebo novamente o quanto já avancei nesse sentido e, por outro lado, pareço não ter saído do lugar ainda. É estranho pensar assim, mas é exatamente isso que têm ocorrido quando me observo mais à fundo. Definitivamente, sou bem diferente daquele Marcos – dos 19 para os 20 anos –, ao ouvir a referida frase pela primeira vez: amadureci em muitos aspectos, porém ainda me sinto um recém-nascido em outros. Quanto mais tento colocar esse pensamento do Santo Padre em prática menos reconheço a pessoa que fui e mais ao desconhecido me entrego. Por outro lado, não deixo de ser quem antes eu era, entretanto, o meu eu de hoje mostra-se melhorado – e talvez ampliado –, todavia não concluído, mas em um constante processo o qual somente termina com a interrupção desta vida terrena.

Com o tempo, somando as experiências que se constroem no emaranhado da minha existência, novas percepções sobre os dizeres de São João Paulo II vou adquirindo. Faço minhas palavras os dizeres da poetiza Cora Carolina, em seu texto “Colcha de retalhos” as quais bem descrevem isso: “Sou feito de retalhos. Pedacinhos coloridos de cada vida que passa pela minha e que vou costurando na alma. Nem sempre bonitos, nem sempre felizes, mas me acrescentam e me fazem ser quem eu sou”.

Nesse sentido, quanto mais avanço rumo ao incerto, mais percebo a necessidade de retornar a quem um dia eu fui, pois é justamente ao fazer e refazer esse processo que vou desconstruindo as certezas em relação a mi mesmo e conseguindo perceber um pouquinho melhor quem de fato eu posso chegar a ser segundo os desígnios de Deus, porém sem deixar de possuir em mente os dizeres da filósofa e santa Edith Stein: "O que acreditamos entender da nossa própria história é apenas um reflexo passageiro daquilo que permanece no segredo divino, até o dia em que tudo será revelado".

Confesso não saber bem como desenvolver e concluir essas breves reflexões, por isso estou me permitindo ao longo dela citar de alguns pensadores que souberam com grande sabedoria expressar algo semelhante e de maneira mais clara do que em suas próprias vidas. Encerro minhas colocações com um pequeno trecho do poema “A criança que fui chora na estrada” de Fernando Pessoa: “A criança que fui chora na estrada. / Deixei-a ali quando vim ser quem sou; / Mas hoje, vendo que o que sou é nada, / Quero ir buscar quem fui onde ficou”. Com a graça de Deus, celebrando hoje estes 25 anos de idade, desejo muito mais vida durante o tempo vindouro que ainda terei nesta terra e quero o mesmo a todos aquele os quais, em algum momento, compartilharam ou ainda compartilharão parte de sua existência comigo.

Escritos do MHLima
Enviado por Escritos do MHLima em 31/10/2022
Código do texto: T7639741
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