Belchior
Hoje Belchior ela aniversário!
Outubro de 1946 - Estação das flores
O ano se findava com música no ar: Vicente Celestino, Nelson Gonçalves, Francisco Alves, Dick Farney, Isaura Garcia, Tonico & Tinoco, compunham a sinfonia de vozes ao som dos auto-falantes, das vitrolas e dos rádios que, ressoavam do Pração da Várzea, até a Praça do São João; da Praça da Sé, até a Praça da Coluna. Noticiários para todos os desejos: O Jornal “Unitário” imprimia em letras garrafais a instabilidade política no estado do Ceará com a Intervenção Federal; A volta do tráfego dos aviões da Cruzeiro do Sul; O Teatro José de Alencar anuncia a peça “A Cegonha atrasou da Cia Déa Cazarré”; No Cine Moderno: Carmen Miranda – “Entre Loura/Morena”; No Magestic: “Navio Negreiro”. Neste mês dedicado à Virgem do rosário e anjos da guarda, o dia 26 foi especial na casa dos Belchior. A Lua Nova despontava no horizonte, seguida dos “Deuses do céu”: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão. Senhoras e senhoritas desfilam com seus leques para espantar o calor. Os homens faziam o mesmo abanando suas mãos em longas conversas: Política, religião, vida alheia, chove ou não chove, etc. A Astrologia anunciava: “Escorpião. Um ser governado pelo planeta Marte que tem como convergente o planeta Plutão. Um ser de grandes contrates, grandes sentimentos e adoram pesquisar as profundezas da alma humana”. Nesse contexto, ali naquela pequena casa na Rua Santo Antônio, nascia um predestinado: - Desses como Elvis, Louis Armstrong, Bob Dylan, Jimmy Hendrix, Jackson do Pandeiro, Elizete Cardoso, Dolores Duran, Luiz Gonzaga, Nelson Gonçalves e muitos outros; raros pela espécie, que surgem uma vez e são imortalizados na história. Brotou para amar e mudar as coisas, sem teorias, sem fronteiras, sem romances astrais, que viveria o cotidiano com coisas reais, como mais tarde deixaria explícito em suas músicas. De quem falamos? Do terceiro filho de Otávio e Dolores. Que ao cair do Sol no dia 26 de outubro (Dia de Santo Evaristo) do ano de 1946, um sábado, exatamente às 18 horas, com ajuda da parteira dona Mariinha Paiva e a tratadeira dona Mirosa Boeiro, trazia ao mundo uma criança ainda sem nome. Horas antes, dona Dolores, começou a sentir contrações. “Não há mais tempo, Otávio? Chame dona Mariinha!” Em seu ventre a criança rogava para sair dos bastidores e entrar em cena. Em menos de uma hora se ouviu o primeiro choro da criança que chegava ao mundo. “Seja bem-vinda! Deus ilumine sua vida!”, bravejou dona Mariinha. Já seu Otávio, na hora do parto, andava pela sala de um lado para o outro a questionar um amigo: Menino ou menina? Terá algo em comum com o avô Antonio ou João Batista? O amigo frente àquelas indagações respondeu:- Deixe que o destino traga as respostas. Deus nos deu o livre arbítrio. Homem ou mulher, pouco importa! O que podemos deduzir é que em suas poucas palavras já antevia ou até mesmo, profetizava o futuro. Pensativo, Otávio acomodou-se numa cadeira e começou a reler as manchetes dos jornais daquele dia. Por alguns instantes pressentia o tempo futuro, uma nova morada – Fortaleza!
Logo após o nascimento, como de costume, dona Mariinha, anotou em sua Caderneta: - "Dolores do Snr. Otávio descansou no dia 26 de Outubro 1946, às 6 horas da tarde: sexo masc.”
Em breve a biografia oficial de Belchior escrita por mim e Ângela Belchior e seus outros irmãos.