DIDI, O CARA QUE JOGAVA DE TERNO NO BOTAFOGO
Sabe quando um jogador é tão refinado que os narradores da televisão costumam dizer que joga de terno? Pois bem. Valdir Pereira, o Didi, marcou época no Botafogo e é um desses casos. Mas era além de jogar de terno. Não era qualquer terno. Era um Armani, era fina alfaiataria italiana.
A primeira passagem de Didi pelo Botafogo se deu de 1956 a 1959. Ficou um tempo curto no Real Madrid e voltou ao Fogão em 1960, ficando até 1962. Foi para o Sporting Cristal, do Peru. Em 1964 retorna ao Botafogo, e fica até 1965.
Ao todo atuou em 313 partidas pelo clube, marcando 114 gols e conquistando três Campeonatos Cariocas (1957, 61 e 62) e um Torneio Rio-São Paulo (1962). Praticamente um gol marcado a cada três jogos, uma marca para um jogador de meio de campo absurda. É basicamente números de atacante. O número de assistências e jogadas de gol é ainda maior que isso. Infelizmente não havia um departamento para contar com exatidão esses números.
O futebol de Didi foi muito mais do que simples números. Era um artista da bola, um mágico. Inventou a chamada “folha seca”, que é uma cobrança de falta belíssima e fatal. É um chute de três dedos em que a bola sobe e faz um efeito repentino de descaída, tal qual à queda de uma folha seca da árvore.
A folha seca passou a ser utilizada pelos craques no mundo inteiro. O brasileiro Zico passou a ser um especialista na cobrança. Didi sempre se mostrou orgulhoso pela invenção, pela contribuição artística ao mundo do futebol.
Didi foi também um astro internacional, brilhando em três copas do mundo com a camisa da seleção brasileira: 1954, 58 e 62. Foi campeão das duas últimas. Em 1958, no primeiro título mundial do Brasil, foi eleito o melhor jogador da Copa. Um feito e tanto, considerando que o selecionado brasileiro contava com Pelé e Garrincha.
Os comentaristas da época elogiavam o porte de Didi. Nelson Rodrigues, o maior dos cronistas de futebol de todos os tempos, o chamava de “Príncipe Etíope”. Ele jogava de cabeça erguida. Tinha visão ampla do jogo. Já sabia o que fazer antes de a bola chegar aos seus pés. E o passe era refinado, tratava a bola com carinho.
Didi foi reconhecido como um dos maiores nomes do futebol carioca, brasileiro e mundial. Em 1999 foi eleito o 7º maior jogador brasileiro da história. O Grande Júri da Fifa o escolheu como o 25º maior jogador de todos os tempos no futebol mundial, uma marca impressionante.
Didi fazia o jogo ficar fácil, a bola chegar até os atacantes. O passe saia redondo, a bola deslizava no gramado. Era um luxo tê-lo como companheiro de time. E era um pesadelo tê-lo como adversário. Ele descobria as brechas mais impenetráveis e colocava um colega de time na cara do gol. E o pior: às vezes, pisava a grande área e finalizava com perfeição. Era um mestre, no sentido mais sublime da palavra.
Fez parte de um time do Botafogo que era praticamente uma seleção mundial: jogou ao lado de Nilton Santos, Garrincha, Zagallo, todos bi-campeões mundiais com a seleção. Nilton Santos o craque da Copa de 58, Garrincha o craque da Copa de 62. Didi um dos melhores de ambas, o maestro da seleção, o maestro que estava a serviço do Botafogo.
Quando pendurou as chuteiras, continuou em campo, mas desta vez ao lado do campo, como treinador. Seu prestígio era tanto que foi técnico da seleção do Peru na Copa de 1970. Comandou times no Brasil e em outros cinco países, incluindo seleções. Claro que também foi treinador do Botafogo, sua grande paixão.
Morreu aos 73 anos, em 2001, no Rio de Janeiro. Perto do Maracanã, o templo sagrado do futebol, que foi testemunha ocular de vários de seus espetáculos com a camisa gloriosa do Alvinegro.