HELENO DE FREITAS, O GRANDE ÍDOLO DO BOTAFIGO NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX
O Botafogo é um clube que tem na sua galeria de ídolos muitos jogadores fantásticos, que fizeram coisas grandes, gols inesquecíveis, títulos históricos e geraram comoção com a imensa torcida do Glorioso.
Heleno de Freitas é um desses heróis que vestiram a armadura alvinegra e fizeram história. Heleno viveu e jogou em uma época que não existia glamour no futebol. Não existia luxo. Jogadores não ganhavam milhões, não ostentavam carrões e mansões. Não eram tão famosos como são hoje. Não eram marcas e empresas valiosas financeiramente como são hoje.
Mesmo assim, sem existir televisão na época, sem existir internet, sendo acompanhado por torcedores nas arquibancadas e tendo feitos alardeados por jornais impressos e rádios, Heleno foi ídolo da torcida do Botafogo e admirado pelos torcedores brasileiros de uma forma geral.
É considerado o primeiro bad boy do futebol brasileiro, por causa do seu controverso comportamento fora dos campos. E até dentro deles. Era irreverente, rebelde, sanguíneo, não levava desaforo para casa. Tinha tudo isso. Mas dentro do gramado, resolvia, decidia jogos, impunha terror aos zagueiros e goleiros.
Heleno, como muitos jogadores, começou a carreira no futebol de praia, que era muito popular na primeira metade do século XX. Começou no próprio Botafogo, mas logo jogar no Fluminense. No profissional do Fluminense. Mas por pouco tempo. Em 1940, chega a General Severiano com a missão quase impossível de ser o substituto de Carvalho Leite, até então o maior ídolo do clube, sendo o herói e artilheiro do tetracampeonato Carioca (de 1932 a 35).
Com 1,82 de altura, forte, com boa visão de jogo e capacidade ímpar de finalização, Heleno de Freitas era um centroavante moderno para a sua época. Ele era um 9, mas que tinha habilidade de um 10. Sabia receber a bola no meio-campo e chegar ao ataque para decidir a jogada. Não era apenas um centroavante que ficava na área esperando a bola chegar. Era as duas coisas, o que lhe dava uma vantagem insuperável.
Em números a história de Heleno é absurda. Foram 204 gols marcados em 233 jogos com a camisa do clube. Uma média que poucos jogadores no mundo, em todos os tempos, conseguem. Se Heleno jogasse nos dias de hoje, certamente brilharia na Europa, na seleção, seria milionário, famoso no planeta inteiro.
A torcida do Botafogo lotava os estádios para ver Heleno jogar. Com pose de galã, as mulheres deliravam. Os homens viam um lutador em campo, um gladiador e tudo isso com técnica refinada, com faro de gols. De muitos gols.
Na seleção brasileira, Heleno também deixou uma marca. Não foram muitos jogos, mas os que fez, ele marcou gols e fez grandes partidas. Foram 18 partidas e 15 gols, média de quase um gol por jogo.
Por falta de sorte em relação à época que jogava, Heleno não chegou a disputar Copa do Mundo. As copas de 42 e 46 não aconteceram por causa da Segunda Guerra Mundial. Heleno estava no auge nessa época, sendo o principal jogador brasileiro. Para a Copa de 50, no Brasil, Heleno já demonstrava falta de interesse, estava encerrando a carreira e não foi convocado.
Heleno encantou inclusive dois gênios da literatura mundial. Sobre ele, o escritor uruguaio Eduardo Galeano escreveu sobre um gol de placa que ele marcou contra o Flamengo em 1947. ”Heleno estava de costas para o gol. A bola veio de cima. Ele a parou com o peito e deu meia volta sem deixá-la cair. Com o corpo arqueado e bola no peito, enfrentou a situação. Entre o gol e ele, uma multidão. Na área do Flamengo havia mais gente que no Brasil inteiro. Se a bola caísse no chão, tudo estaria perdido. E então, Heleno pôs-se a caminhar, sempre curvado para trás, e com a bola no peito atravessou tranquilamente as linhas inimigas. Ninguém podia tirá-la sem cometer falta, e estavam na zona de perigo. Quando chegou à cara do gol, Heleno endireitou o corpo. A bola deslizou até os seus pés. E arrematou”.
Outro escritor famoso que era fã de Heleno é o colombiano Gabriel Garcia Marquez, vencedor do prêmio Nobel de Literatura. Quando Heleno jogava no Júnior Barranquilla, da Colômbia, o famoso escritor foi ver um jogo e ficou tão encantado que chegou a escrever um texto, tendo o brasileiro como personagem.
Eis Heleno de Freitas, uma besta-fera, um jogador indomável, alguém que fazia a história mudar em questão de minutos. O maior ídolo do Botafogo antes do surgimento de Garrincha. E até hoje o quarto maior artilheiro da galeria de goleadores do clube.