BIOGRAFIA RICARDO FONTOURA – TRAJETÓRIA DE COMPETÊNCIA

Quando Ricardo atendeu ao chamado do pai, Otávio Lage, para ficar à frente da “Planagri - Sementes e Rações”, em 1978, aos 27 anos, não tinha experiência de gestão em larga escala. E muito menos conhecimento do setor de agronegócio. Sabia pouco, o que sabia era de ouvir o pai falar nas reuniões de família. Precisava aprender rápido. A vantagem é que ele sempre foi de entrar de corpo e alma em qualquer empreitada. Não foi diferente quando decidiu abandonar a carreira de empreiteiro da construção civil para ser um gestor de agronegócio.

A Planagri não era um negócio apenas da família Lage. Ela tinha como sócios, além de Otávio Lage, Fabrizio D´Ayala Valva, João Bosco Umbelino dos Santos e José Ludovico dos Reis. O foco da empresa era o plantio e a comercialização de sementes de milho híbrido.

Com a chegada de Ricardo, a família aumentou sua participação no negócio, comprando mais 10%. Com incentivos do Governo Federal, a atividade prosperou e foi ganhando campo, crescendo e sendo referência, sendo um importante apoio aos produtores goianos.

Não foi algo da noite para o dia. Com disciplina, Ricardo estudou o mercado de sementes no Brasil e no exterior. Sempre atento às novas tecnologias, junto aos sócios, começou a agregar técnicas novas à Planagri, fazendo com que a empresa fosse crescendo em qualidade e alcançando mercados novos.

Em 1980, surge o que é hoje a Jalles Machado. A pecuária e o setor de sementes não eram suficientes para empregar todas as pessoas da cidade e Otávio Lage começou a articular a implantação de uma destilaria de álcool na região, atendendo ao chamamento do Governo Federal. Naquela época, para enfrentar a crise do petróleo, o Governo Federal, por meio do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), investiu na produção e incentivou o consumo do combustível de cana.

Então, com a liderança de Otávio Lage e a participação dos proprietários de terra, foi instituída em 16 de julho de 1980, a Cooperativa dos Produtores de Cana de Goianésia Ltda (Cooperálcool) e, em 14 de novembro de 1980, foi fundada a Destilaria Goianésia Álcool S/A. Assim, os fazendeiros da região produziam a cana e forneciam a matéria-prima para a indústria. A destilaria fazia o processamento da cana e fabricava álcool.

Otavinho, o irmão caçula de Ricardo, tocava o projeto, ao lado do pai. Otávio Lage liderava também a Vera Cruz Agropecuária, o braço pecuário do grupo. Jalles Fontoura estava mais envolvido com a atividade política, sendo prefeito de Goianésia, de 1977 a 1981. Em 1982 foi eleito deputado estadual e em 1986 deputado federal constituinte, posto que ocupou até 1990.

Os ventos sopravam favoráveis na Planagri. Mas uma tempestade começou a se formar no horizonte, quando em 1986, o Banco Central começou a alterar sua política de financiamento. Antes havia um subsídio e apoio ao comércio de sementes certificadas e fiscalizadas. No seu livro “Otávio Lage – Empreendedor, Político e Inovador”, o escritor Jales Naves explica que “a atividade caiu, pois muitos agricultores queriam os recursos, mas não se interessavam se a semente tinha procedência. O setor entrou em crise e eles não tiveram como concorrer com as multinacionais, que dispunham de mais tecnologia”.

Onze anos depois de chegar à Planagri, em 1989, Ricardo recebeu o diagnóstico que mudou sua vida: estava com esclerose múltipla, uma doença sem cura e degenerativa. A Planagri, na época, atravessava um momento muito conturbado, com mudança na política de governo em relação ao subsídio da semente. O setor enfrentava uma crise sem precedentes. Isso era fonte permanente de estresse para Ricardo, que com o diagnóstico, teria que evitar situações assim.

Ainda em 1990, Jalles Fontoura saiu candidato a vice-prefeito na chapa com Paulo Roberto Cunha, contra Iris Rezende. O projeto de Jalles não foi vencedor, o que acabou sendo bom para a família. Jalles poderia voltar a Goianésia, para ajudar nos negócios das empresas e contribuir com Ricardo. Por decisão familiar, ficou acertado que Jalles assumiria o comando da Planagri e Ricardo iria para a Vera Cruz Agropecuária, trabalhar ao lado do pai, que tinha que dividir a atenção com a Goianésia Álcool (atual Jalles Machado), que estava crescendo bastante.

Longe do estresse que estava o setor de sementes, Ricardo se concentrou em desenvolver outra atividade, a pecuária. Era preciso ampliar o confinamento de gado que a Vera Cruz mantinha e gerar mais lucro com a atividade, que também enfrentava desvalorização. Os custos estavam altos e o lucro encolhia.

Junto com Otávio Lage, Ricardo entendeu que a saída era investir em melhoramento genético, algo que ainda não era uma realidade sólida no país. A Vera Cruz Agropecuária, que já trabalhava com cria, recria e engorda dentro do setor pecuário; e grãos, sementes e tomate, no setor agrícola, passou a investir em melhoramento genético da raça Nelore pelo programa da CIA de Melhoramento. Atualmente conta com 1.700 fêmeas em reprodução. O rebanho total conta com mais de 14 mil cabeças.

Com mais ganho por cabeça, mais ganho por investimento, a Vera Cruz Agropecuária passa a ser um case de sucesso no Brasil, uma referência para o setor, fazendo bom uso de técnicas novas e de aparato tecnológico. Tudo isso com a visão e o cajado de Ricardo.

Não é uma logística fácil, principalmente para alguém que tinha limitações físicas e enfrentava os efeitos cada mais incapacitantes da esclerose múltipla. São nove fazendas em Goiás e no Tocantins, um espaço geográfico muito amplo, para ser vistoriado. Ricardo sempre acreditou na máxima de que o “o olho do dono é o que engorda o gado”. Seus olhos, com o avanço da doença, começaram a ficar mais distante do rebanho, o que ele compensava com uma rede de confiança, que passou a ser os seus olhos. Além de contar com o auxílio de aparatos tecnológicos.

Quando sua saúde ainda era boa, era bastante comum ver Ricardo pilotando o avião da empresa – era ótimo piloto – e indo ver de perto o andamento dos projetos. E sempre estava na estrada, dirigindo, para conferir cada detalhe, cada cerca, cada manejo do gado.

Depois da morte do pai, Otávio Lage, em 14 de julho de 2006, foi criado o Grupo Otávio Lage, congregando as empresas em uma holding. Além da Vera Cruz Agropecuária, ainda fazem parte as empresas OL Latex (seringueiras), RVC FM (rádio e comunicação) e Palmeiras Empreendimentos (empresa imobiliária). Todas elas com Ricardo liderando e implantando uma cultura nova, mais moderna e eficiente.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 08/07/2022
Código do texto: T7555292
Classificação de conteúdo: seguro