BIOGRAFIA RICARDO FONTOURA - AMIGOS PARA SEMPRE

Algumas marcas fizeram parte da vida de Ricardo: o apego à família, o valor que dava ao trabalho, a curiosidade com assuntos ligados à tecnologia e conhecimento, o interesse por conhecer novas culturas. Impossível falar dele sem mencionar essas características.

Outra marca que define a trajetória e o caráter de Ricardo é o valor que dava às amizades. Algumas dessas amizades viraram irmandades e atravessaram meio século, só interrompidas pela sua morte. Amigos de escola, que se tornaram companheiros de vida, padrinhos dos filhos uns dos outros, testemunhas dos momentos mais importantes da história de suas jornadas.

A distância física, os quase 1000 quilômetros que separam Goianésia de Belo Horizonte não foram suficientes para enfraquecer os laços. Sempre se falando ao telefone, se visitando, ou às vezes, ficando longe por um tempo, mas guardados no coração, com o mesmo zelo. Ricardo e seus amigos souberam cultivar esse amor.

Algumas dessas amizades começaram no colégio, onde Ricardo cursava o Científico (que hoje corresponde ao Ensino Médio), outras no cursinho Pitágoras (preparativo para o vestibular) e outras na Universidade Federal de Minas Gerais, no curso de Engenharia Civil.

Quase todos moravam próximos uns dos outros, na região da Barroca, importante bairro central de Belo Horizonte. Ricardo e Jalles moravam em um apartamento que a família alugou para que eles pudessem estudar.

Raul e Gustavo, que se tornaram cunhados após Ricardo começar a namorar Myrinha, se tornaram praticamente irmãos dele. Raul era seu colega de sala na faculdade. Gustavo, um ano mais velho, cursava Arquitetura. Eles sempre estavam juntos, se tornaram família. Inclusive, fizeram diversas viagens juntos, pelo Brasil e pelo mundo. Ricardo e Raul chegaram a ser sócio em uma empresa de sementes.

Renato Savassi Biagioni foi outro amigo que se tornou irmão. E se transformou em sócio. Juntos criaram a construtora Siqueira e Biagioni, que teve início na garagem da casa de Renato.

Flávio Azevedo, Silvio Queiroz, Virgílio, Marco Aurélio e Ricardo Valadares completam o núcleo mais próximo dos amigos de Belo Horizonte, da turma que se conheceu no final dos anos 1960 e se transformaram em confraria, em irmãos.

Como todos eles eram estudantes aplicados e com foco numa carreira profissional, não eram muito de farras, de festas. A maioria das reuniões aconteciam para estudar, como grupo de estudos nas casas de Ricardo ou de Renato. Às vezes viraram a noite debruçados nos livros. Eles tinham um objetivo muito claro: vencer na vida por meio da profissão. E o curso de engenharia civil – escolhido pela maioria deles – era muito concorrido para entrar e muito puxado para sair. Não adiantava só pegar o diploma, era preciso aprender se quisesse se destacar na profissão.

Mas eles encontravam tempo para as diversões. Costumavam frequentar pizzarias, barzinhos, às vezes um clube de dança, uma festinha na casa de algum deles. Nada muito extravagante.

Assim que passaram no vestibular, em 1970, Ricardo, Flávio, Virgílio, Renato e Silvio fizeram uma viagem de uns 20 dias. De Belo Horizonte, passando por quase todo o litoral nordestino até chegar a Fortaleza. Passaram pelas capitais Aracaju (Sergipe), Maceió (Alagoas), Recife (Pernambuco), João Pessoa (Paraíba) e Natal (Rio Grande do Norte), finalizando na capital cearense.

Foram em dois carros: o Fusca branco de Ricardo e o Fusca azul de Renato. Iam se revezando ao volante, fazendo paradas em pensões baratas, contando com ajuda de moradores, que cediam pouso. Em um dos lugares, os cinco dividiram um quarto enorme que só tinham redes para dormir. Tinham pouquíssimo dinheiro no bolso, então foi uma viagem sem qualquer luxo, mais pelo prazer da aventura, de dividirem aquele momento juntos.

Um pouco de conforto eles só tiveram em Fortaleza. Por conta de um amigo do pai do médico Dr. Eduardo Biagioni (pai de Renato) recebeu os cinco jovens em sua ampla residência, na beira da praia. Aí eles puderam desfrutar de conforto e até luxo.

Mas tiveram que pagar um tipo de pedágio. Na propriedade havia uma quadra de futebol de salão e os rapazes que estavam lá, os anfitriões, desafiaram os mineiros para uma partida. Após o jogo havia churrasco e cerveja para todos. Eles acharam o máximo a ideia e foram pra dentro.

A certa altura, Ricardo e seus amigos estavam vencendo a partida por 5 a 2 e já haviam passado mais de 40 minutos. Já olhavam o relógio e nada do jogo terminar. Até que Silvio entendeu a situação: enquanto os donos da casa estivessem perdendo, a partida não terminaria. Combinaram então de deixar que eles empatassem a partida. Aí terminou o jogo! E todos foram descansar e começar o segundo tempo, que era no churrasco e na cerveja. Aprenderam uma lição: nunca ganhe dos donos da casa.

Para justificar a viagem, voltaram pelo sertão e tiveram a oportunidade de conhecer a usina hidrelétrica de Paulo Afonso, na Bahia. A construção da primeira grande usina do Nordeste, em local inteiramente desprovido de recursos básicos, foi uma verdadeira epopeia da engenharia. Inaugurada em 1955, é considerada um marco do setor elétrico brasileiro. Os cinco futuros engenheiros ficaram maravilhados com o que viram. Aquela visita reforçou neles o desejo de construírem coisas grandes dentro da engenharia, curso que estavam prestes a começarem.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 04/07/2022
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