Sobre Sinval Patrício da Silva
Por Nemilson Vieira de Morais (*)
Sinval Patrício da Silva, nasceu em 28 de setembro de 1942, em Quartel Geral (MG).
O Pai, era de Itaquaruçu (MG), carregava dois nomes: José Geraldo e Levino José Maria, tocava a vida como lavrador, em lavouras de subsistência familiar.
A mãe, de Suaçuí Grande (MG), dona Maria Joana da Silva, cuidava dos serviços do lar e atuou também em boa parte, como professora voluntária.
— Ensinava a garotada da vizinhança no grande terreiro, nos fundos da casa. Punha-se uma mesa e todos se sentavam ao seu entorno.
"O sargento José Alves, acho que, do Rio Vermelho (que o chamávamos de Padrinho Dedé) fora um desses garotos, aluno da mamãe. Ao ser transferido para Belo Horizonte entrou na Guarda Civil, no DI, e eu não soube mais do seu paradeiro".
— Sinval.
Na sua terra querida, Sinval viveu toda a infância e juventude, brincou, se divertiu, como os garotos e jovens do seu tempo.
— Em banhos de ribeirões, na caça de passarinhos (com bodoque), no atirar de espingarda (aos 9 anos), na coleta de frutos escalando ás fruteiras...
No fazer e armar arapucas nas capoeiras (em pegas de juritis, rolinhas...), no preparo de mundel e quebra-cabeça (no intento de capturar outros bichos).
Cresceu sem a presença da figura paterna, não pôde curtir o pai por mais tempo. Do seu falecimento, Sinval contava apenas com 6 anos de vida. Teve somente um irmão, o Geraldo Patrício da Silva, que veio mora no Morro das Pedras.
Sinval nasceu para o trabalho, com apenas seus 7/8/9 anos, já competia com gente grande nas capinas de terreno, nas roças, em becos de café, feijão, e outras plantações...
Nos plantios de amendoim, com a companheirada, o fazia em cantorias ou em assovios numa demonstração de não comer o que plantava.
Com nove anos de idade, Sinval já ganhava 1 mil réis (por dia) nas lides do campo (de repente deve ser mil cruzeiros, pois o réis durou somente até 1941).
Não perdia um dia de serviço, trabalhava a semana inteira, no corte de cana, moagem, fabricação de rapadura e outros labores; mas sábados, domingos e feriados caia nas danças, nos bailes, casamentos, batizados, aniversários...
— Apreciava uma cachaça das boas e pegava o sol com a mão (em danças respeitosas, à noite inteira).
— " Às vezes, ao amanhecer, dançávamos mais. Fechava-se portas e janelas para que, as pessoas não vissem". — Diz Sinval.
Na busca dos seus sonhos, em 1964 (ano em que se instalou no Brasil o Regime Militar), aos 18 anos, incompleto, Sinval, com a cara e a coragem, deixa para trás seu torrão natal, sua cultura,familiares, amigos e transfere-se para Belo Horizonte.
Na capital mineira conheceu um primo da sua mãe, que o recebeu por uns dias, mas, por ter uma família numerosa não pôde dar-lhe maior apoio.
Sinval seguiu adiante em sua trajetória...
Residiu no Conjunto Santa Maria (atual bairro Buritis), Jardim Montanhês...
Ao encontrar-se com um colega, horticultor, foi apresentado por este, a trabalhar numa horticultura, em região afastada da grande cidade. Onde desempenhou bons serviços por 5 meses nessa atividade.
Mudou de ramo: deixou a horticultura de lado e aventurou-se na mineração...
Por um pouco de tempo, se tornou mineiro 2 vezes. Por nascimento e pelas lides na mineradora "Ferro Minas", em extração de minério, por 5 meses somente.
Pelo pouco ganho financeiro, na mineradora, preferiu dar um tempo e se tornou operário da construção civil.
— Sua estréia em obras, se deu na empresa do Dr. Roberto, com posto de trabalho na região central da capital.
Sinval nunca havia saído de casa, e já com uns 2 anos em terra alheia, bateu uma saudade...
E como o lugar de filho solteiro é junto da mãe, em passeio foi vê-la. — Passou dois anos junto dela, em Peçanha.
Aos retornar às atividades na capital, com melhor qualificação profissional, foi mais tranquilo encontrar trabalho.
Sendo admitido na empresa de construção civil "Concreto de Cimento Armado (CCA)", que teve na ocasião, como diretor-geral da instituição o senhor Aurides Marcone de Menezes.
Sinval também prestou seus dedicados trabalhos na construção do estádio de futebol "Gigante da Pampulha" — Mineirão.
Em torno dos 40 anos, deu de si: em termos de gerir seu próprio negócio e, tornou-se comerciante no seguimento de bar. Em Morro das Pedras, exerceu essa atividade, por mais de 15 anos.
Por volta de 1969/70, com uns 8 ou 9 anos tocando o negócio, a jovem Julia de Souza Franca apareceu na sua história; com uns olhares, as afeições, o namoro... e num gesto
apressado o casamento (no religioso).
Após uma conversa-franca, direta com a companheira e ouvir dela não ser mais possível prosseguir no relacionamento. Sinval, infelizmente não pôde mais continuar nesse convívio: que, durou apenas uns 4 anos.
Desse matrimônio têm duas filhas maravilhosas. — Adriana Aparecida da Silva e Angelita de Souza da Silva, esta trabalha no Centro Administrativo do Governo Estadual.
Comprou um barraco, trouxe a mãe e às duas irmãs, do interior, que passaram a viverem nele. Uma delas, posteriormente comprou seu "cantinho" em região, próxima.
Com a separação, a vida ficou meio sem graça, em pouco sentido e sentiu de não continuar em Morro das Pedras, arrendou o negócio a um paranaense.
Em 1970, bem no início do ano adquiriu um imóvel no Luar da Pampulha, Rua São Bento, esquina com a São João.
Com as futuras compras e vendas de, terrenos, casas que se sucediam se tonou um empreendedor do ramo de imóveis.
Nesse seguimento, gerou empregos, rendas aos moradores desta e de outras regiões da capital mineira.
— Pois, esses empreendimentos imobiliários, adquiridos, quase sempre precisavam de colaboradores para: construção, modificação, reformas...
Por volta de 1982 conheceu a dona Maria da Glória e se casaram. Tiveram 4 filhos: a Maria Silvani da Silva (que falecera aos 19 anos), outra menina (também falecida aos quatro meses de vida), João Sinval e, Antônio Marcos.
Pelo espírito empreendedor, Sinval, mesmo após a aposentadoria abriu e manteve por anos, a preços populares, um sortido e movimentado bazar na antiga Rua Cinco (atual Elga Taveira).
Numa das dependências da sua residência, na Alvarenga Campos, ainda é mantido um estoque de vestimentas conservadas (de todos os tipos e gostos); calçados, bonés, cintos, chinelos... para atender um freguês, numa emergência.
Há mais de 50 anos, Sinval não vai a sua terra, sequer tem notícias de lá. Morre de vontade de um dia poder revê-la. — Ainda que, os amigos do seu tempo não estajam mais por lá (quase na totalidade deles) e sua gente nova não o conhecer.
*Nemilson Vieira de Morais
Gestor Ambiental/Acadêmico Literário.
(18:06:22)