O BANDIDO DA LUZ VERMELHA!!!
O Bandido da Luz Vermelha
Uma vez por mês, o Linha Direta abria espaço para uma edição do Linha Direta Justiça, apresentando crimes famosos que abalaram o Brasil.
No dia 7 de dezembro de 2006 foi ao ar O Bandido da Luz Vermelha, contando a história do lendário criminoso que aterrorizou a população de São Paulo na década de 1960. O Justiça mostrou toda a história do personagem, desde o seu aparecimento até sua morte em 1997.
João Acácio Pereira da Costa nascera em Joinville, em Santa Catarina. Tornou-se órfão ainda criança e, depois de sofrer maus tratos de um tio, morou durante bom tempo na rua. Foi preso diversas vezes por pequenos delitos, quase sempre assaltos. No início da década de 1960 chegou a São Paulo e se estabeleceu em Santos.
Nessa época, já havia desenvolvido uma série de obsessões. A mais forte era com a cor vermelha, que ele associava à força demoníaca. Seu pequeno apartamento em Santos, zona portuária da cidade, era todo decorado de vermelho.
Era tido pelos vizinhos como um jovem afável, que, no auge da Jovem Guarda, gostava de se vestir como Roberto Carlos. Nessa época, começou a viajar de ônibus para assaltar na capital paulista.
A grande inspiração de João Acácio era Caryl Chessman, um criminoso norte-americano executado na câmara de gás de uma prisão na Califórnia pela prática de vários crimes sexuais. Chessman era acusado de ser o temido Red Light Bandit, um estuprador que costumava usar uma lanterna vermelha para amedrontar suas vítimas. Impressionado com a história, João Acácio resolveu assumir a identidade do criminoso e passou a usar uma lanterna idêntica nos assaltos.
O Linha Direta Justiça exibiu trechos do filme El Dorado – um western dirigido em 1966 por Howard Hawks, com os atores John Wayne e Robert Mitchum –, pelo qual João Acácio era fascinado. Imitando os bandoleiros do filme, o bandido usava durante os assaltos ternos escuros, chapéus de feltro, um lenço vermelho cobrindo o rosto e dois revólveres.
Os primeiros ataques do Bandido da Luz Vermelha eram caracterizados pela ausência de violência física. Ele entrava nas casas de famílias ricas, rendia as vítimas e roubava principalmente jóias.
Pequenos gestos desconcertantes – como deixar bilhetes recomendando que as vítimas estivessem vestidas na próxima vez em que ele as assaltasse – sugeriam uma personalidade excêntrica, sem medo de ser pego. Isso bastou para deixar a população paulistana em pânico.
Na época, São Paulo tinha no máximo quatro milhões de habitantes e o índice de latrocínio era de quarenta por ano. Das páginas policiais, o Bandido da Luz Vermelha saltou para as manchetes dos jornais.
Não demorou, entretanto, para que João Acácio começasse a demonstrar mais violência. Até ser preso, em 1967, no Paraná, o Bandido da Luz Vermelha cometera 77 assaltos, dois homicídios, dois latrocínios e sete tentativas de morte.
Calcula-se que ele tenha estuprado mais de 100 mulheres. As vítimas nunca deram queixa. Condenado a 351 anos de prisão, ele chegou a receber flores e bilhetes apaixonados das vítimas de estupro.
Depois de cumprir os 30 anos de prisão previstos na Constituição – dos quais os sete últimos foram passados em um manicômio – foi libertado no final de 1997, embora ainda demonstrasse sinais de sérios problemas psiquiátricos. Os peritos que o libertaram não quiseram dar entrevistas ao Linha Direta Justiça.
Quatro meses e cinco dias depois de sua libertação, João Acácio teve um surto de violência na casa onde morava, de favor, com a família de Nelson Pilzengher. Quando atacou o irmão do pescador com uma faca, foi morto com um tiro de espingarda.
Com direção de Edson Erdmann, O Bandido da Luz Vermelha tinha no elenco, entre outros, os atores André Gonçalves (no papel de João Acácio), Alexia Deschamps, Marcelo Escorel, Antônio Fragoso, João Velho, Leandro Develly, Iris Bustamante, Beto Bellini, Bernardo Passarelli e Sérgio Mamberti.
O ator Sérgio Mamberti fez o papel de Milton Bednarski, o delegado que prendeu João Acácio, e também deu depoimento ao programa sobre a personalidade do criminoso. Em 1968, ele viveu o Bandido da Luz Vermelha no filme homônimo do diretor Rogério Sganzerla. O Linha Direta Justiça mostrou trechos do filme.
Também foram ouvidos o verdadeiro Milton Bednarski, hoje, advogado; o psicanalista Joel Birman, que avaliou o perfil psicológico de João Acácio; os jornalistas Fernando Allende e Edgard Flosi, que cobriram as atividades do criminoso nos anos 1960; e o pescador Nelson Pilzengher, que matou o bandido em legítima defesa.
Na trilha sonora desse episódio de Linha Direta Justiça, algumas músicas ilustraram a personalidade extravagante do Bandido da Luz Vermelha. No início do programa, quando é mostrado o comportamento vaidoso de João Acácio no início dos anos 1960, a canção O bom, sucesso de Eduardo Araújo, expoente da Jovem Guarda.
Já Crazy, do grupo norte-americano Gnarls Barkley, serviu como referência irônica à psicose do personagem. O programa encerrou com Rubro Zorro, da banda Ira!, composta em 1988, inspirada no filme de Rogério Sganzerla.
Os outros episódios apresentados pelo Linha Direta Justiça em 2006 foram: Os Crimes da Rua do Arvoredo (em 27 de abril), O Incêndio do Gran Circo Norte-Americano (em 29 de junho), O Castelinho da Rua Apa (em 29 de novembro) e Frei Tito (em 16 de novembro).