BIOGRAFIA RICARDO FONTOURA - PERRENGUE EM MIAMI

Viajar aos Estados Unidos era algo que Ricardo gostava bastante. Especialmente para Miami. Apesar do calor que faz na cidade, Ricardo gostava bastante da atmosfera do lugar, do tempero latino que confere um ar que fazia com que se sentisse um pouco em casa.

Uma tradição das viagens em família era que Myrinha era oficialmente a gerente da logística, a chefe da delegação por assim dizer. O trabalho dela começava muitos dias antes, pesquisando preços, promoções, locais com acessibilidade, bons passeios e um pouco da cultura local. Ela ficava atenta também às armadilhas feitas para atrair turistas que cidades

Que recebem muitas pessoas sempre têm.

Em uma viagem, em 2010, com Ricardo já com muitas limitações, se locomovendo com auxílio da scooter, Myrinha foi aposentada de suas funções. Não por vontade dela. Foi uma espécie de cuidado de Ricardo, que queria que a esposa ficasse mais tranquila durante os passeios, sem tantas atribuições. Por meio de um cartão que pagavam tinha direito a uma concierge, que é aquele profissional que presta apoio aos hóspedes na compra de passeios e aluguel de carros, orienta sobre indicações e reservas de restaurantes e atividades turísticas.

Acontece que o que era para ser um facilitador, o início de tempos mais suaves para todos acabou se transformando numa dor de cabeça sem fim e um perrengue para a viagem.

O pesadelo começou no aeroporto internacional de Miami. A concierge alugou uma van com acessibilidade para que Ricardo, Myrinha, Teresa e Greg pudessem fazer o passeio sem grandes problemas. As fotos e informações enviadas passaram pelo crivo rigoroso de Myrinha. A moça informou que o veículo estaria no gigantesco estacionamento do aeroporto. A chave estaria embaixo do pneu dianteiro direito da van. No setor B na ala G18, algo assim. Myrinha andou algumas milhas dentro do estacionamento até encontrar o bendito carro. Parecia um jogo de vídeo game, com fases a serem vencidas. Essa foi apenas a primeira. Como num jogo, as outras seriam mais complicadas.

A van não era necessariamente tão boa e bonita como estava nas fotos do catálogo. Era um carro muito velho e com aparência de um candidato ao ferro velho mais próximo. Quando abriram a decepção aumentou: por dentro estava pior. Os estofados bem desgastados, cheios de buracos, mofos, caindo aos pedaços.

Decepção total da trupe. Myrinha sacou do celular e ligou para a concierge. O escritório ficava em Orlando, a 380 km de distância. Não havia outra van com acessibilidade no catálogo além disso. Não havia o que fazer. A única opção era aceitar o destino e rezar para a van não se despedaçar no caminho.

A suspensão da van não respondia mais nenhum comando. O carro trepidava bastante na estrada. Ricardo pulava da scooter. Seu corpo ia sendo moído aos poucos com os solavancos. Cogitaram a hipótese de tirá-lo da scooter e coloca-lo no banco dianteiro. Mas não conseguiriam transportá-lo, era pesado. Seria desconfortável para todos, principalmente para ele.

“Está tudo bem, gente. Importante é fazermos o passeio!”, Ricardo tentava, sem sucesso, amenizar a situação. No fundo, ele estava bem insatisfeito também com o meio de transporte.

Como não havia muito o que fazer, resolveram seguir e cumprir o roteiro turístico programado. A cada parada um alívio só pelo fato de saírem da terrível van. Em um dos momentos, Ricardo vira para Myrinha e dá o braço a torcer. “A culpa é minha, eu não devia ter tirado você do comando. Se a logística fosse sua, com certeza estaríamos num van de primeira classe e não nesta banheira”. Ela sorriu e deu aquela piscada, como a dizer. “Eu sabia desde o início. Time que está ganhando não se mexe”.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 19/05/2022
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