BIOGRAFIA RICARDO FONTOURA - LIGADO ÀS CAUSAS SOCIAIS, MAS SEM FAZER PROPAGANDA
Há empresários que emprestam seus nomes a grandes empreendimentos filantrópicos e levam consigo, em cada ação, um batalhão de jornalistas e fotógrafos para registrar cada ato de generosidade. Em alguns casos à custa de constrangimento aos beneficiados. São salvadores da pátria, assim pensam.
Ricardo nunca quis ser este tipo de empresário. Abominava fazer publicidade de qualquer bondade que fazia a quem precisava. Na maioria das vezes, quase ninguém – além de quem recebia – ficava sabendo. Costuma citar a passagem bíblica que diz para não deixar a mão esquerda saber o que faz a direita. Em outras palavras, não alardeava os próprios feitos.
O que Ricardo não gostava era apenas da propaganda, mas de praticar filantropia era algo que ele amava fazer o tempo todo e com muito boa vontade. Tinha um diferencial: achava tênue a linha que separa filantropia de pilantropia. Por isso, ao receber o pedido de ajuda de alguma instituição ou pessoa, escalava alguém da empresa – normalmente uma pessoa de muita confiança e discrição – para fazer uma pesquisa minuciosa (e rápida). Gostava de ajudar, mas odiava ser passado para trás. Mais do que generoso, queria ser justo.
Já aconteceu mais de uma vez de Ricardo descobrir que alguém estava querendo se aproveitar da sua generosidade para se dar bem. Pessoas que agiam de má fé. Usavam a filantropia para fins próprios. Ao descobrir a farsa, ele fazia questão de ligar ou conversar pessoalmente com o charlatão. Com sua sinceridade habitual, passava-lhe um sermão, sem alterar a voz. Mas sabia manejar bem as palavras nesses momentos. O malandro infeliz se sentia o mais miserável entre os homens após esse recado.
Com Ricardo não havia esses atalhos. Ou a causa era realmente nobre e justa ou era indigna. Ele não achava correto desviar dinheiro que poderia ir para quem precisa de verdade para irrigar o bolso de espertalhões. Isso ele não admitia de forma alguma. E ser parte disso, ser envolvido nessas falcatruas era coisa que ofendia sua dignidade e, principalmente, sua inteligência.
Praticamente toda semana chegava à sua mesa os mais variados pedidos de ajuda: creches, escolas, lares do idoso, ONGs, projetos culturais, novenas, igrejas, etc. Ele avaliava todos com carinho. Nem sempre conseguia atender a todos. Mas demonstrava boa vontade e, mesmo quando não tinha condições, tentava achar um caminho, como uma vaquinha com amigos, uma indicação, usava a influência para conseguir algo.
O que acontecia todas às vezes, no entanto, era seu comprometimento. Ele sentia que era sua obrigação como cidadão, como ser humano, ser solidário às pessoas que precisam e às causas da comunidade. Tinha um grande amor por Goianésia e fazia questão de se expressar ajudando esses projetos.
Ajudava tanto com recursos da empresa como de seu próprio bolso. Fazia questão também de conferir os valores. Se era para comprar, por exemplo, uma cadeira de rodas e está sendo pedido R$ 500,00, Ricardo pesquisava onde havia o produto pelo menor valor. Aí se conseguia por R$ 400,00, dava essa quantia e explicava que na loja tal dava para comprar a cadeira por este valor. Não gostava de desperdiçar dinheiro, nem pagar mais caro por nada.
Ao ajudar num evento, por exemplo, Ricardo era convidado para ir lá prestigiar. É uma oportunidade para quem recebeu a ajuda lhe agradecer de perto. Normalmente recusava todos esses convites. Não se sentia confortável com esse tipo de bajulação. Não era do seu feitio. “Deixo isso para os políticos”, costumava dizer.
Nunca somou todos os valores que doou ao longo da vida. Sequer falou sobre isso com as pessoas próximas. Costumava dizer que precisava ajudar mais, que ainda era pouco o que retribuía à sociedade. Fazia muito mais que a maioria dos empresários, mas não exigia medalhas por isso. E não considerava isso algo a ser manchete em jornal. E não achava que fazia muito. Considerava-se sempre como alguém que podia fazer mais.