BIOGRAFIA RICARDO FONTOURA - DIFICULDADES NOS ESTADOS UNIDOS
As dificuldades que a esclerose múltipla foi impondo a Ricardo não foram suficientes para domar seu espírito aventureiro. O normal seria aceitar o veredicto e se contentar em realizar programas mais simples como receber amigos em casa, assistir filmes e buscar hábitos mais pacatos. Isso para um homem comum. Não para Ricardo.
Sua paixão por viagens não foi afetada. Sempre viajou e não deixou o hábito porque tinha que usar uma bengala ou cadeira de rodas. O hotel tinha que ter acessibilidade. Era mais difícil encontrar? Sim, mas não era impossível. Os roteiros, liderados por Myrinha, demoravam mais para serem elaborados, mas os passeios aconteciam.
Uma vez, passaram por uma dificuldade muito grande no metrô de Nova Iorque. Ricardo e Myrinha entraram no trem, que era acessível. Ricardo estava com a scooter, a motinha motorizada. Na hora de descer, erraram o lado da estação, que não tinha acessibilidade. Não dava para passar a cadeira pela porta. Ricardo conseguia, apoiando nas barras, sair. Mas a scooter não. Era muito pesada. Uns quarenta quilos. Myrinha não conseguiria erguer a máquina para passar por cima. Estavam num impasse.
Foi preciso contar com a ajuda de um estranho dentro do metrô, que se compadeceu da situação. Com muito custo, Myrinha conseguiu erguer a cadeira e passar para o moço, que a atravessou para o outro lado. Podiam seguir a viagem.
Esse tipo de situação acontecia com muita frequência. Ricardo não perdia o bom humor e não desistia de fazer os passeios programados por causa deste tipo de dificuldade. Iam lá e, juntos, superavam. E o mais importante: faziam piadas sobre o fato, que acaba virando piada durante muito tempo.
Quando Ricardo já se locomovia com a ajuda da scooter, o casal tinha uma estratégia infalível para coloca-la dentro de carros e trens: paravam próximo a locais movimentados e pediam ajuda para alguém. Sempre dava certo.
Ou quase sempre. Teve um dia que foi a exceção da regra. Estavam em Whashington, nos Estados Unidos. Tinham ido visitar Henrique e Bárbara – ele estava fazendo uma pós-graduação na Carolina do Norte. Ricardo aproveitou para fazer uma consulta no famoso hospital Johns Hopkings, em Baltimore. Na volta, passaram pela capital do país, para visitar alguns pontos turísticos.
Quando, ao final da tarde, saíam de um museu na Avenida Pensilvânia, próximo ao Capitólio – Congresso Norte-Americano -, eles se viram completamente sozinhos. Haviam alugado um carro e quando Myrinha foi ajudar Ricardo a entrar no veículo, lembrou que sozinha não conseguiria transportar a scooter e seus quarenta quilos. Para descer era mais fácil. Para subir era preciso de usar a força.
Não havia uma viva alma nos arredores. Havia encerrado o expediente nas repartições públicas e todos já tinham ido embora. Ricardo e Myrinha tinham um problema de quarenta quilos para resolver. Após alguns minutos olhando para o nada, Myrinha avistou ao longe, um quiosque aberto.
“Ricardo, fique aqui que vou lá buscar ajuda”. Era aproximadamente uns mil metros de caminhada. Ela foi. Os passos acelerados, com bastante esperança de conseguir socorro. Chegando lá, havia apenas um homem, que parecia ser o proprietário da pequena lanchonete. Ela explicou a ele a situação em inglês. “Claro que ajudo, mas preciso fechar o quiosque primeiro. Daqui a alguns minutos eu fecho e vou lá te ajudar”, respondeu.
Ela voltou ao carro e ficou aguardando. Como combinado, o bom samaritano fechou o quiosque e foi prestar o socorro. E assim, Ricardo e Myrinha iam se virando nas viagens, contando com ajuda de estranhos e não perdendo o bom humor para prosseguir as jornadas.