BIOGRAFIA RICARDO FONTOURA - IAM LONGE PARA FICAREM PERTO

Em meados dos anos 1990, Ricardo e Myrinha reuniram os quatro filhos, fizeram as malas e foram fazer um passeio de carro por várias cidades da Europa. Saíram do Aeroporto Internacional de Guarulhos direto para o Charlles de Gaulle, em Paris. Na Cidade Luz alugaram um carro grande e iniciaram uma maratona pela França, Alemanha, Hungria, República Tcheca e Holanda.

Nada os aproximava mais do que viajar em família. Por conta da diferença de idade entre os quatro filhos, por exemplo, Rodrigo – o mais velho – e Julia – a caçula – tiveram pouca convivência. A partir da segunda fase do Ensino Fundamental, eles saíam de Goianésia para estudar em Goiânia. Quando Julia foi a Goiânia, Rodrigo já havia ido para São Paulo cursar faculdade.

Nas viagens a intensidade era grande. Estavam todos ali, juntos, como a grande e unida família que sempre foram. Ricardo já estava com dificuldade para se locomover, mas conseguia andar com o auxílio de uma bengala. Em algumas situações mais difíceis, recebia a ajuda dos filhos homens. O que acaba se transformando em risadas e material de memória afetiva.

Uma viagem dessas, de vários dias envolvia uma logística muito delicada, tanto para marcar como para realizar. Tinha que sincronizar a agenda de todos e não saía barato, afinal envolvia transporte aéreo internacional para seis pessoas, aluguel de carro por vários dias, gasolina, hotel, alimentação, ingressos, era uma conta dispendiosa. Myrinha se organizava e conseguia as opções mais baratas. Ao final, conseguia uma economia considerável em relação ao custo inicial projetado. Ricardo gostava muito dessa parte da viagem também.

Para economizar dinheiro e tempo, muitas das refeições eram feitas dentro do carro. Compravam ingredientes e iam montando sanduíches, que eram devorados ali, entre uma paisagem bucólica e outra, a caminho de uma nova cidade ou país. Os hotéis eram os mais simples possíveis, com exigência apenas de asseio nas camas e banheiros. Nada de luxo, nada de contar em estrelas e nada de mensageiros carregando bagagens. Ninguém se importava com essa parte. Considerava o hotel apenas o local para desmaiar após um dia cansativo e excitante de passeio. O hotel era o local do banho e do sono pesado, para repor as energias para o dia seguinte.

Quando essas viagens aconteciam, Ricardo se transformava no herói mais poderoso do mundo aos olhos dos filhos. Ali eles tinham o pai por 24 horas por dia durante vários dias. Podiam falar de muitas coisas, cantar, rir, brincar. Dividiam sensações como a de comer algo pela primeira vez e gostar – ou odiar -, de ver lugares exóticos, de cometerem gafes em terras estranhas. Tudo isso era vivido e guardado como se faz a um brinquedo raro. Se passasse uma estrela cadente, era bem provável que os filhos fizessem um pedido. Não seria nada estranho se o pedido fosse que essa sensação nunca acabasse. Que pudessem morar para sempre naquele momento, como no final feliz de um filme de aventura.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 13/05/2022
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