BIOGRAFIA RICARDO FONTOURA - PARA MYRINHA A MUDANÇA TEVE MAIS IMPACTO
O convite para deixar de construir prédio em Belo Horizonte e produzir sementes na zona rural de Goianésia seduziu bastante Ricardo. No início, soou estranho, fora de contexto. Ricardo pensou, ponderou, pesou por todas as balanças e se convenceu que era uma boa ideia. Conseguiu transmitir a Renato, seu sócio, a decisão.
Mas faltava convencer a pessoa mais importante em todo esse processo: Myrinha. A esposa sempre foi seu esteio, a companheira de todas as horas. O apoiava em todas as jornadas. Mas havia muita coisa em jogo. A mais sólida delas é que Myrinha tinha uma relação de pertencimento à Belo Horizonte. Seus pais, seus avós, toda a sua família eram de lá, tinham laços profundos com a cidade. Faziam parte do que se chamada tradicional família de BH.
Some-se a isso o fato de Myrinha ainda estar na faculdade. Ainda cursava Arquitetura na UFMG. Era um curso que ele gostava bastante e estava muito empolgada em fazer. Seu círculo de amigos estava lá. Era uma cidade vibrante, com boas opções de lazer, bons hospitais, toda uma estrutura que ela confiava e que se sentia parte. Lá ela se sentia em casa para todos os efeitos.
Já havia visitado Goianésia algumas vezes. Gostava como passeio rápido. Aquele estilo de vida pacata do interior, de zona rural não era o que Myrinha havia sonhado para seu futuro. Sentia-se deslocada na roça. Todo aquele universo não dialogava com ela. Era como uma estrangeira ali. Os assuntos pareciam ser falados em outro idioma. Os hábitos, os afazeres pareciam todos de outra dimensão. Ela não havia treinado para fazer parte daquele mundo.
E havia um ponto que era considerado por ela naquele momento: Ricardo, talvez em tom de brincadeira, havia prometido que não tiraria ela de Belo Horizonte. Que seriam felizes para sempre lá mesmo. E não da então distante e utópica Goianésia.
A notícia caiu como uma bomba nuclear no colo dela. De repente, seu mundo todo organizado, planejado, que estava dando muito certo, seria virado de cabeça para baixo. Tudo agora seria incerto. Era outra vida, outra cultura, outra sociedade, outra profissão. Passaria a viver longe da sua família e sob as asas da família do marido.
Foram dias de choro escondido. De reflexões de todas as profundidades. Ela não sabia em que argumentos se apoiava. Sabia que seu lugar mais seguro sempre era ao lado do marido que tanto amava e confiava. Mas torcia com todas as suas forças para que esse lugar seguro incluísse os arranha-céus de Belo Horizonte.
Chegou um momento, no entanto, que não adiantava chorar, pensar, dramatizar a situação. Era preciso enfrentar de pé e cabeça erguida. Ser prática. Encarou como uma aventura, como algo que iria agregar novas experiências à sua vida. Talvez voltassem um dia a Minas para morar. Nunca se sabe o que o futuro reserva.
Foram conversas difíceis, mas sem atritos. Era mais tristeza do que raiva ou coisa assim. Mas resignada, Myrinha acatou a decisão e organizou as tratativas do curso, conseguindo transferência para a Pontifica Universidade de Goiás (PUC), em Goiânia. Conseguiu conciliar a vida em Goianésia com os estudos em Goiânia. Mas o tempo passa rápido, logo se formou e passou a viver como uma goiana do interior.