BIOGRAFIA RICARDO FONTOURA - O DIA DA INAUGURAÇÃO DA UNIDADE OTÁVIO LAGE
O dia 2 de setembro de 2011, uma sexta-feira, foi um dia muito importante para a família Lage. Dia da inauguração da Unidade Otávio Lage e da Codora Energia. Um projeto que poucos anos atrás existia em rascunhos de folha de papel agora tinha corpo e forma. Uma das mais modernas plantas industriais do setor sucroenergético do Brasil, com tecnologia avançada utilizada na empreitada. Além de produzir dezenas de milhões de litros de etanol, iria gerar 40 Mwh de energia elétrica, a partir da queima do bagaço da cana.
Foi uma manhã de glória, a coroação de um trabalho duro, que consumiu noites de sono, gotas de suor, muitas reuniões, trabalho exaustivo e, claro, muitos milhões de reais. Ricardo foi peça fundamental para que o projeto saísse do papel. Chegou a sustentar sozinho o argumento que era preciso construir a unidade. Todos os acionistas entendiam que não era o momento de fazer o investimento. Ricardo discordou, argumentou, lutou e acabou convencendo a todos.
A Unidade Otávio Lage era um sonho seu que se realizava. Uma obra que tinha suas digitais, suas assinatura. Ricardo estava muito entusiasmado naquela manhã para a inauguração. Naquela manhã de primavera, de sol escaldante e calor insuportável. O calor era um dos maiores adversários de Ricardo. Era a sua kriptonita. Deixava seu corpo mole, vencido.
Mesmo assim, ele não escondia seu entusiasmo. Levantou mais cedo que de costume, fez sua fisioterapia. Tomou café. Sorria sem parar. Pegou o carro e foi até a UOL, na zona rural de Goianésia. Seria um evento de gala, com presença do governador Marconi Perillo, de deputados e muitas autoridades importantes do Estado.
Ricardo, no entanto, preferiu ficar dentro do carro, não quis descer logo de início ao local e se sentar em uma das mesas. Ligou o ar condicionado e ficou lá observando tudo. O então deputado federal Vilmar Rocha – seu amigo de longa data – notou que ele estava dentro do carro e foi ao seu encontro.
“Ricardo, a festa é sua, você é uma das estrelas deste evento, vamos lá sentar conosco”, disse. Ricardo riu e explicou o motivo de estar dentro do veículo. “Lá está muito quente, Vilmar. Eu não suporto calor. E aqui está tão confortável, com ar condicionado. E também não gosto muito de aparecer, gosto do trabalho, de fazer as coisas, não dessas bajulações”.
O deputado riu e eles ficaram lá dentro do carro por um tempo, conversando amenidades. Ricardo olhava tudo e sentia genuíno prazer em ver que seus esforços não tinham sido em vão. Via ali o fruto do seu esforço, da sua visão. E reconhecia que foi um trabalho em equipe, de muitas cabeças, de muitas mãos. Ele não reivindicava o crédito, o holofote. Entendia que os irmãos, Otavinho e Jalles, por serem homens conhecidos da política, deviam ocupar o centro do palco. Era natural para ele que fosse assim.
Na hora dos discursos, Ricardo, para não fazer desfeita, se dirigiu até a mesa da família. Ficou lá, mas incomodado pelo forte calor que fazia. Setembro é o mês mais quente do ano em Goiás. A umidade do ar atinge níveis de deserto e torna tudo mais abafado. O corpo de Ricardo sentia com muita força esses efeitos. Era como uma câmara de tortura para ele estar ali, mas ao mesmo tempo, fazia questão de ficar e se sentia feliz pelo momento que vivia. Uma felicidade contorcida de dor, ainda assim felicidade pura.
O amigo Vilmar Rocha, em sua fala, fez questão de ressaltar a importância que Ricardo teve no nascedouro da nova indústria. De lá, da mesa, Ricardo sorriu timidamente. Era um reconhecimento verdadeiro, de um amigo, mas que não deixava seu ego inflado. Ficava apenas alegre com a lembrança, mas não envaidecido. Não era muito tocado por aplausos públicos. Era mais homem de bastidor. O palco era um território estranho a ele, quase hostil.
Ao contrário dos irmãos, não quis usar a palavra. Não era homem de proferir discursos. Ficava mais à vontade com suas planilhas, com suas pequenas reuniões, com a visita às fazendas, em companhia de homens simples e animais.
Não é verdade que desprezava tudo aquilo. Até apreciava. Mas só entendia que não era sua função participar como protagonista. Não era sua zona de conforto. Entendia que tudo era uma grande engrenagem e cada ato, cada acontecimento tinha sua importância. E que cada trabalhador tinha sua função a cumprir. A sua não era subir ao palco, descerrar placas, fazer discursos. A sua era trabalhar, criar estratégias, fazer acontecer as coisas e depois, observar à distância. Era seu jeito de ser feliz com as realizações.