BIOGRAFIA RICARDO FONTOURA - A CASA SE TRANSFORMOU EM “CLUBE” PARA A CRIANÇADA

A casa de Ricardo e Myrinha ficou pronta em 1984. Ao lado da casa de Otávio Lage e dona Marilda. Na outra ponta, algum tempo depois Otavinho construiu a sua. As residências, com amplos quintais, ocupam praticamente um quarteirão na rua 33, entre as ruas 8 e 6, no setor Sul.

Não era uma casa que chegava a se destacar das demais. Principalmente olhando de fora. Uma casa grande, com quintal grande como as residências do bairro eram. Por dentro, no entanto, alguns detalhes mais autorais, frutos das mentes de Ricardo e Myrinha. Como paredes de madeira e vidro e não apenas de tijolo e concreto.

Na época que a casa foi construída, o bairro era muito novo, praticamente um descampado. Era uma casa aqui, outra lá longe. Dava a sensação de ficar longe do centro da cidade. Goianésia não tinha mais do que 30 mil habitantes. Era, sob todos os aspectos, uma cidade pacata, sem grandes badalações. Naturalmente sem grandes opções de diversão para as crianças.

A construção da casa, com piscina e quadra de futebol, foi um marco na vida da família inteira. Era a única que tinha esses atrativos. Resultado: todo final de semana, a propriedade perdia o caráter residencial e se transformava em um clube para a família. Adultos em volta da churrasqueira e as crianças pulando dentro da piscina ou jogando bola na quadra.

Era uma confraria enorme de primos. Os filhos de Ricardo, de Jalles, de Otavinho, de Jairzinho. Todos praticamente da mesma geração e com os mesmos interesses: diversão. Ninguém tinha um minuto de silêncio na casa nesses momentos. Era cada um falando mais alto que o outro e aquela verdadeira Babel.

Ricardo ficava imensamente feliz. Quanto mais barulho, melhor. Quanto mais bagunça, melhor. Sinal que todos estavam se divertindo. Ele sempre foi do time da multidão. Poucas coisas o deixavam mais feliz do que lotar a casa de pessoas queridas. Estar rodeado por gente sempre o deixou com a sensação de estar realmente em casa. Ter a casa como reduto de alegria e ponto de encontro da família era como marcar um gol de placa.

Ricardo, no comando da churrasqueira, trabalhando para transformar em arte gastronômica o ato de comer um churrasco. Era algo sagrado para ele. Gostava de ver nos olhos e no paladar de seus convidados esse reconhecimento. Nem precisava vir em palavras, um sinal ele já conseguia notar e se dar por satisfeito.

Mesmo com as mãos ocupadas na churrasqueira, Ricardo não desgrudava os olhos dos filhos e sobrinhos se divertindo bastante na piscina ou no campinho de cimento. Lançava aquele tipo de olhar entre a realização suprema e a certeza de que nada poderia destruir aquela comunhão familiar.

Com o diagnóstico da esclerose múltipla, Ricardo passou a valorizar ainda mais esses momentos em família, em volta da churrasqueira e da piscina. Não tinha tempo nenhum a perder. A ficha ia caindo e ele percebendo que a vida era curta, não só a dele, mas a vida em si. Que ele estava no caminho certo de aproveitar seu tempo livre reunido de afeto, de gente sorrindo e celebrando a vida.

* Capítulo da biografia "Ricardo Fontoura: o homem que venceu o impossível".

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 03/05/2022
Código do texto: T7508217
Classificação de conteúdo: seguro