Foi mole...
Probo, humilde, intransigente na fé, Antônio é sacerdote exemplar. Rigoroso com os trajes, jamais cedeu em seus princípios de recato e modéstia. Homem belo, de bela voz, e contumaz imitador dos sons de animais, sempre se valeu de suas habilidades para se fazer presente, seja afastando o demo, seja por um outro cuidado ainda mais extremo.
Jogou futebol, foi motoqueiro em sua juventude que se prolongou até os anos cinquentenários. Irmão do pároco Guerino, em Pitangui, em muito o co-adjuvou nas suas passagens e paragens pela Velha Serrana... No mais paroquiou em Florestal, Mateus Leme e alhures, sempre lembrado e saudado como o irmão mais jovem de Guerino.
Era, contudo, intransigente quanto aos costumes, sempre exigindo que as senhoras, jovens e até meninas se trajassem à antiga e, caso contrariado, explodia, fazendo valer sua autoridade incontrastável.
Na décima década de vida, começou a padecer dos males da longevidade. Numa de suas internações num hospital belorizontino, os familiares, de repente, viram-se diante de cruel dilema: Antônio, já sem locomoção própria, necessitava de ser banhado e, na ala em que se encontrava, somente havia mulheres enfermeiras... Como fazer...?
A questão foi levada ao próprio paciente, que jamais admitira a intimidade entre homem e mulher fora do sagrado princípio do matrimônio...
Para a surpresa de todos os parentes e circunstantes, no que lhes pareceu verdadeiro milagre, Antônio, surpreendentemente, reagiu assim:
- Já que não há mesmo um enfermeiro no quadro, resigno-me a ser banhado por uma mulher. Que seja feita a vontade de Deus...
Foi mole...