DO DIÁRIO DE CHARLOTTE DE WANTUIL - UMA CONDESSA OBSTINADA

Charlotte de Wantuil mais conhecida como Condessa de Wantuil foi uma mulher à frente de seu tempo. Nascida em Marselha, na França, às margens do Mar Mediterrâneo no ano de 1810, ousou desafiar as convenções da sociedade da época, entregando-se a um amor profundo e arrebatador na figura do Marquês Pierre de La Rochester. Viveu uma vida de aparências ao lado do marido. Guardava dentro de si um desejo de experimentar uma vida mais livre sem as amarras da moralidade social. Amaldiçoou até o fim o destino por tê-la colocado nas mãos do Conde de Wantuil, usada como moeda de troca para salvar os pais da ruína financeira. Romântica e dada a rompantes intempestivos, sempre sonhou encontrar um amor de verdade. Tinha talento para compor versos e cartas e possuía bom nível cultural para uma moça do século XIX. Deixou um diário encontrado no ano de 1950 em um cofre antigo arrematado em leilão na mesma cidade em que nascera.

Abaixo um poema escrito provavelmente depois de encontrar o Marquês Pierre de La Rochester pela primeira vez em ano desconhecido.

Marselha, 18 de julho de 18**.

Porque vi alguma cousa?

Porque tornei meus olhos culpados?

[Ovídio]

O Baile de Máscaras

I

No poente céu em fogo, aquela tarde,

Quando o Sol, véu dourado, desfazia,

N’ocidente sem ruído e sem alarde

Seus fios d’ouro na escuma sombria...

Cupido, do Amor, mensageiro alado,

Que de setas s’arma e se municia,

Lançado a Terra pela mão do Fado

Trouxe a mim alento novo aquele dia!

II

Valsando nos braços da melancolia

Debaixo d’um luar baço e enevoado...

A alma d’mim aos poucos se desprendia

Buscando um sítio doce e perfumado.

Adormecer em relva fresca e macia

Nos jardins quiméricos do Firmamento

Colher nas estrelas um pouco d’alegria

E abandonar-me em vão esquecimento.

III

Mas eis que mirand’olhar tão profundo

Atrás d’uma máscara dura e fria

Era o mistério d’um oculto mundo

Que em meigos sonhos se me abria!

Tão belo Anjo dos Céus que me aparecia,

Que o coração no peito se apertava

Era o afeto qu’em mim já não cabia,

Era o afeto expandindo como lava!

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Referência ao Baile de Máscaras oferecido pelo Marquis de Le Monde,

nos jardins do Palácio de Longchamp às margens do Mar Mediterrâneo.

Alessa B
Enviado por Alessa B em 22/01/2022
Reeditado em 22/01/2022
Código do texto: T7435116
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