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“Estrela que o vento soprou”
A estrela veste-se de noiva para as núpcias com o Prelo em 2022.
Conheça a apresentação, e um fragmento do Primeiro Capítulo.
DEDICATÓRIA
Àquele
que se entregou em sacrifício de oblação, e como ovelha muda nas mãos do tosquiador, resignou–se; não abriu a boca, não levantou a voz.
Estrela que o vento soprou
Sobre o autor
Graduando em Letras, participou da Bienal Internacional do Livro de São Paulo em agosto de 2008 com quatro títulos.
É coautor de diversas antologias e conquistou com o tema:
“Percalina Verde–Drummond” o prêmio de melhor crônica, concedido em 2009 pelo Projeto Dellicatta.
Estrela que o vento soprou
Comentários do leitor virtual
• Cada dia que passa, sinto–me mais orgulhosa da sua produção literária. Você escreve com a alma e o coração. Siga em frente! A luz que você irradia no seio da nossa família irá iluminar todo o BRASIL. Abraços. Nadja Caroline Lima de Barros Araújo – Teresina–PI – 2008–06–09. Usina de Letras.
•Todas as noites, antes de dormir, e aos domingos, leio uma ou mais obras suas... Descobri–o no site Usina de Letras, pois eu sou compositor, músico, professor e em breve as minhas obras vão estar nele... Um grande abraço deste amigo e leitor. Felicidades! Dois Lajeados – RS. 2008–02–23. Nilso Ziglioli.
•Gostei... me levou à minha infância, na casa da minha avó, quando eu ficava na cama adivinhando as sombras que entravam pelas frestas da janela. Muito bom. maria do rosário bessas. Recanto das Letras 06/02/2018.
• Meu Caro: Os romances são obras inacabadas. Sempre. Pelo fato de a Vida assim rebarbar... Não marque data para aprontar o trabalho. Adicione ou retire texto, somente quando estiver inspirado. Pense sobre o sentido de cada frasal, de cada parágrafo. ”Não force a barra... “ Arnaldo Massari · Campinas (SP) · 1/12/2010. Portal Literal.
• Você cria imagens incríveis, com talento. Já não vejo a hora de poder tocar o livro! Já devia ter publicado, já devia... Pouso Alegre. Vania Lopez· 01/12/2010. Portal Literal.
• Li e apreciei duas obras tuas, por enquanto. Confesso que gosto de temas de humor, que foi o que me veio ao clicar. Lerei mais para depois dizer minha opinião. O ofício de crítico que tenho na Europa, pretendia não o ter no Brasil. Mas o costume me pilha a olhar com critério o que leio. Tentarei perder o hábito. Continuarei lendo. Para ti daqui de Madri. Portal Literal. Eu*Gênio · 14/11/2010.
•Ora, meu caro, ler seus escritos é um prazer. Ouso acrescentar que é como encontrar um arco–íris em meio a turbulenta tempestade, ou, uma nesga de lua no negrume da madrugada...Grande abraço, Fatibel. Fátima Beltrame. Usinadeletras, quarta–feira, 16 de janeiro de 2008 1:45:17h.
•Puxa! Meu companheiro, raramente se lê uma maravilha como essa "ÍNDIA APINAJÉ"! O linguajar caboclo e as belas metáforas enriqueceram sobremaneira esse belíssimo conto. O texto magnetiza. Prendeu–me do prólogo ao epílogo. Abraço amigo e até breve. Jajá de Guaraciaba. Recanto das Letras. 11/09/2014.
•... A superstição (coruja rasga-mortalha em voo sobre o telhado), os costumes e crenças nativas (o sacrifício dos recém-nascidos gêmeos ou com defeito físico), o esmero nos diálogos e a perfeita ambientação da história emprestam relevância a este causo bem contado. Awnh. Recanto das letras 18/12/2018 16:41h.
•Seu texto traz a pureza madura, essencial à instrução em todas as idades. As palavras tocam, na verdade cutucando, emocionando, cobrando não apenas reflexão, mas atitudes. Matilde Diesel Burile. Recanto das Letras. União da Vitória – Paraná – Brasil. 10/06/2017 09:18OOh.
• Tens muito talento para os diálogos curtos! É gostoso de se ler o seu texto. Make. Recanto das Letras, 21/06/2019. 01:50 h.
•... Francamente, a literatura é mesmo inesgotável. Nunca soube de um ossobuco mais sensual em toda a história literária da civilização ocidental. Forte abraço do Juiz Golden. Recanto das Letras, 12/05/2017 18:01h.
•A imaginação criativa permite esses voos, navegação de longo curso, um belo e profundo diálogo sobre a Alma, respaldado em colaborações de confrades do Portal. A sua faceta mística é para mim mais uma demonstração do talento criador que caracteriza teu trabalho. André Albuquerque· Recife (PE) 13/1/2011. Portal Literal.
• “Sem temor nem medo, escarneceu do Anjo Negro e voou para a Luz”. Assim você conclui o seu texto, e nos deixa refletindo no poder da palavra, na beleza do sentimento que ela nos dá..., e nos convence. Paulo Valença. Recife (PE)13/1/2011. Portal Literal.
•Amigo meu! Você me colocou de freira? Confesso que falta pouco!... Este conto lindo me fez encher os olhos de lágrimas. Nem sei o porquê. Só sei que a alma extravasa ao ler coisas assim. Paola Rhoden. 21.11.2010. Portal Literal.
•...Estava aqui, depois de longo tempo, me atualizando nos teus textos, bebendo de tua “Água poética” e de tuas ricas opiniões, nem sempre acordes com as minhas, mas sempre sóbrias e saídas do coração e da razão! Cada hora, uma surpresa... quando te procuro na Usina de Letras, parece que o “O TÍTULO ME CHAMA” * * * Deixa um espacinho, para mim, no prefácio, que eu preciso falar de ti (...) Abraços! Milarder. Rio de Janeiro – usina de letras.
• Maninho, você brinca com a harmonia das frases. É um balé: “... e o brilho suave de seu pranto faz-se orvalho ao amanhecer.” Parabéns!
Francisco José Rodrigues — Professor Rodrigues – Fortaleza -CE., 08.12.2021
• Estrela que o vento soprou, gostaria de ler essa obra. – Manucho Elias dos Santos. Lubango - Huíla – Angola. Recanto das Letras.31/08/2020 19:08h.
APRESENTAÇÃO
Permita o bardo lusitano que o espírito leia,
com olhos humanos, mais do que vê escrito.
No ano 2022 uma Estrela veste-se de noiva para as núpcias com o Prelo. Ela nasceu da compilação de textos publicados em sites de literatura, a partir de 2008. Neles, partículas da realidade surgem diluídas nas cenas e cenários que se dão no campo, na cidade, e numa ilha. E, embora não seja o único palco, muitos episódios se dão no mundo rural do distrito de Juramento, quando Campo Grande acompanhava a trajetória de um próspero fazendeiro, mais tarde, brutalmente assassinado.
Era Campo Grande a fazenda de Corina Flor de Lis Bomtempo.
Ali a esposa do Coronel Generoso usufruiu de todo encanto e beleza que uma alma benfazeja pode alcançar, mas também sofreu revés: seus sonhos desapareceram numa “Estrela que o vento soprou.”
Por sorte, nem tudo o vento levou.
As lembranças ficaram gravadas nos anéis da memória de Corina: o casarão, o gado espalhado na pastagem, e a aurora chegando no leite mugido pelo vaqueiro na casinha de curral. Mas, nem tudo que viu, viveu e aprendeu, veio das cercanias da fazenda, ou dos almanaques que lia. Aprendera muito com o marido que trouxera do Nordeste uma cultura regional gigantesca, muita sabedoria popular, e um baú de estórias com cores e sabor de Brasil.
Consternada com a morte do marido, a viúva do Coronel Generoso mudou–se para o Rio de Janeiro e foi morar na Tijuca, que lhe remonta lembranças de Campo Grande. Lá, ela fala, com saudade, e traz a lume experiências vividas, desde a captura de uma índia, à caçada de onça; procissão, leilões; hábitos e outros costumes da família interiorana de outrora.
Ravenala ouvia, atenta as histórias de seu avô, e escreveu tudo, como se o coração fosse um baú de guardar recordações.
No princípio, as primeiras linhas mais pareciam braçadas a esmo. Pouca coisa. Nada mais que parágrafos desordenados e um emaranhado de ideias que necessitavam das mãos habilidosas de um artesão, para colocar a casa em ordem, ou ordem na casa. E, mesmo não sendo biográfica, a obra presta homenagem, não só ao Coronel Generoso, mas por ele, e com ele, a Zé Coco e a muitos outros filhos deste rincão brasileiro, tão agraciado pela natureza.
O livro aconteceu no decurso de uma década e meia. Foi escrito a duas mãos: Corina e sua neta Ravenala. Mais tarde, contou também com a valiosa ajuda de um colega do Colégio Marista por quem Ravenala se apaixonara.
Durante o fazimento, a neta do fazendeiro temeu atropelar o aspecto temporal, ao tratar das modas de viola em Campo Grande, por achar que ainda não era hora de apresentar “Guaiano em Oitava”, porque o compositor só gravara aquela música no final dos anos oitenta. Corina assegurou-lhe, no entanto, que muito antes de gravar, Zé Coco do Riachão tocava seu guaiano por onde passava construindo cancelas e carros de boi, por encomenda de fazendeiros.
A intenção de Ravenala era narrar os feitos, quase heroicos, de uma juventude que tenta resistir às investidas do secularismo religioso. E, por acréscimo, contar a história de seu avô Batista, um nordestino chegado em Minas Gerais, por volta do ano de 1917, corrido da seca.
Mas...
Enquanto sob o açoite de cupido a obra beirava as portas do romance, fatos novos transcendem as barreiras da temporalidade, e conduzem personagens ao fantástico mundo do além-túmulo.
E como nos contos de fada...
Capítulo 1
Era uma vez um barquinho de nada
Viajando à deriva no mar da vida
Este barquinho és tu e sou eu.
Somos astros que em sua trajetória, deixam rastros de luz, ou apenas poeira suspensa no ar. Somos um ser individual e ao mesmo tempo, coletivo. Temos esse pano velho plasmado nas entranhas: estampas e cores desbotadas do passado, presentes nesta colcha de retalhos que somos.
Foi assim que a neta do fazendeiro começou a contar a história dela, que é também da avó Corina Flor de Lis, do avô Batista Generoso, do pai de Ravenala, do meu pai e do teu. A vida enfim, é um abismo colossal: um sorriso ou uma lágrima derramada no labirinto da existência humana.
Quem nunca se viu assim, revestido de mistérios? Quantas histórias para contar! Quantas memórias guardadas nas dobras do tempo!
Ravenala tinha sete anos, e se lembrava de quase tudo que sua avó contava. Passava a mão na cabeça da netinha e dizia:
“Durma, Princesa, durma...”
– Não consigo dormir! Vejo monstros diante de meus olhos.
– Vou retirar os monstros dos teus olhos. Pode dormir agora. Eles já se foram!’
Dormia, não sem antes reclamar:
“Eles estão voltando, vovó! Os monstros estão voltando e não me deixam dormir. Conte uma estória!”
– Posso contar outra vez a “ A Lagoa Encantada?”
– Não, aquela não! Tenho medo da carimbamba.
– Já contei todas que sabia!
– Pode ser inventada, vovó! Pode ser inventada.
– Todas as estórias são inventadas, minha filha!
– Então invente uma, Vó!
E Corina contou.
A fada da sabedoria foi convidada para um congresso que deveria acontecer, nos primeiros dias de vida de uma pequena formiga albina. A formiga seria um fardo para o formigueiro, por isso, deveria ser arrancada e jogada fora, quando ainda ovo.
O destino da pequena formiga estava prestes a transformar–se num exílio de vida ou numa pena de morte, mas, por sorte, a fada madrinha postou–se no meio da assembleia e vaticinou: “Esta menina será frondosa como uma palmeira, e quando soprar o vento Norte, navegará os sete mares e será muito aplaudida. O som de seu trompete será um acalento para a alma de quem dela se aproxima, e toda a Terra conhecerá seus feitos.”
Houve profundo silêncio, no mundo encantado das formigas, em seguida, a rainha decretou: A partir de agora, a formiga albina se chamará Beethoven. Providenciem a orquestra, organizem o espetáculo, quero ouvir o último momento da quinta sinfonia.
– Beethoven existiu de verdade, vovó?
– A formiga Beethoven, só existiu na imaginação de seu criador, mas o compositor existiu. A nova sinfonia de Beethoven, por exemplo, faz um bem enorme a minha alma. Por certo, minha filha, gerações futuras, haverão de usar a boa música para estimular o cérebro humano a se reorganizar.
Teve vontade de dizer que Davi tocava harpa quando, o rei Saul se sentia perturbado por maus espíritos, e logo que Davi tomava a harpa, Saul acalmava–se, sentia–se aliviado e o espírito mau o deixava. Também não quis falar de seu filho Ludovico que tinha um buraco no cérebro, viveu treze anos e aprendeu a tocar cavaquinho.
Respirou fundo buscando aliviar uma dor que lhe comprimia o peito, e prosseguiu.
– Minha filha! Os sinais sonoros geram imagens, marcam momentos, contam história...
Corina percebeu que falara numa linguagem difícil de ser compreendida por uma menina de apenas sete anos, e realinhou o pensamento, dando direção à catequese que pretendia dar à sua neta.
— Veja, minha filha! A música foi criada por Deus para curar a alma e o coração. Se ela nos coloca em sintonia com Deus, vem de Deus. Mas aquela que se desvia da partitura divina, abre a porta das trevas.
— Entendeu?
— Continue, vó.
— Pois bem, não me privo da música clássica, nem de uma boa moda de viola, contanto que não viole a lei de Deus, pois, mesmo não sendo sacra, não é profana a música que não ofende a Deus.
Por instante, Corina fez, mentalmente, uma viagem de volta ao passado. E, quando retornou, os olhos brilhavam como quem acabara de ver toda a história de sua vida passar numa telinha de TV.
Segurou o suor da alma que tentava escapar pelo canículo lagrimal.
– As modas de viola me trazem lembranças de lugares e de pessoas com as quais dividi momentos agradáveis da vida...
– Sentes saudade do vovô Generoso, não é mesmo, vovó?
– Sim. Percorri com ele uma senda de flores e espinhos, mas em nossa tenda, tudo eram flores. A vida, enfim, tem as cores da aquarela, quando colocamos nela nuances de amor. Deste modo, não há tempo que apague esta saudade. Nem dinheiro que pague essa lembrança.
Mesmo sem entender, perfeitamente, o balé que a avó fazia com as palavras, Ravenala deleitava-se com a sintonia do sapateado delas.
— Agora, durma minha filha! Amanhã recomeçam as aulas.
Corina puxou suavemente a porta. Apagou a luz e despediu–se.
– É hora de dormir. Boa noite...
– Não vai dar–me a bênção, vovó?
– Deus te abençoe, minha filha!
– Esqueceu de abençoar também a Mary Emily!
– O deus das bonecas te abençoe, Emily!
Saiu.