Mágoas: Professora Rosana
Faz das conchas sua cadeira
Mora n'água, seu canto é lindo
É a Iara, uma sereia
Que fala sempre sorrindo
Aos 8 anos, eu era apaixonada por leitura. Sempre tirava as maiores notas em português e comecei a me arriscar em pequenos poemas. O meu primeiro poema, escrevi aos 6 anos, para um menino que eu amava brincar e que foi minha primeira paixonite.
Precoce, eu sei. Mas eu lá tenho culpa?
Wagner, cara de isopor
Wagner, cara de tambor
Wagner, te amo.
Eu tinha seis anos, não dava pra esperar muito...
Mas lá por volta dos oito anos, dava. Lembro que uma professora, Rosana, uma senhora ruiva, de óculos, nos passou um exercício de produção de poemas. O tema era o folclore brasileiro. Devíamos pegar um personagem do folclore, à nossa escolha e produzir um poema sobre ele. A criança que escrevesse o poema mais bonito teria o seu texto recitado para a sala e ainda de quebra ganharia um brinde, uma sacola de doces, algo assim.
Eu estava afoita, queria escrever o melhor dos melhores, queria ser premiada e, por isso, minha criatividade aguçou tanto que escrevi o poema da Iara, o do início do texto. Lindo, singelo e extremamente bem escrito para uma criança de cerca de 8 anos de idade. Fiquei tão feliz ao terminar que mal podia esperar para mostrar a professora.
Até que mostrei.
Ela me encarou, daquele jeito que as professoras fazem, por cima dos óculos:
- Eu disse que era pra CRIAR, não pra copiar de lugar nenhum!
- Mas eu não copiei, psôra!
- Copiou, sim!
- Eu juro, pode olhar no livro, a senhora não vai encontrar, fui eu que fiz!
Meus olhos queriam marejar e o desespero começou a me bater tanto que me propus a escrever outro, que ficaria tão bom quanto esse. Escreveria na frente dela e então ela se surpreenderia. Mas não foi o que aconteceu. Na segunda tentativa, já era a criatividade, a animação e eu devo ter escrito algo tão sem graça que, ao ler, deve ter sentido vergonha por mim.
Pouco antes do fim da aula, ela anunciou o poema vencedor. Algo sobre o Saci Pererê. E encerrou, olhando diretamente pra mim:
- Bom, esse foi o poema vencedor, escrito por fulano mesmo, sem ter copiado de ninguém, viu pessoal? Ele usou a criatividade dele e por isso mereceu o prêmio!
A pior decepção da vida de muita gente é ser traída pelo namorado, é descobrir falsidades, não passar no Enem...
Mas a minha, até meus 24 anos vividos, continua sendo o poema da Iara que não venceu o concurso da terceira série do ensino fundamental.