Uma Incomum Visão de Mundo

Desde de que me entendo por gente, até onde a minha memória consegue me levar, por volta dos cinco anos de idade, sinto-me diferente dos seres humanos médios. A começar pelo jeito arredio de ser e por me isolar na infância das outras crianças, numa atitude autista. Fazia movimentos e emitia sons repetitivos por horas a fio. Sempre detestei multidões, festas religiosas e esportivas, missas, cultos e outras solenidades. Nunca compreendi bem a fé das pessoas em um ser divino misericordioso e transcendente que vigia, julga e castiga as pessoas o tempo todo e que, a despeito de toda fé, adoração e de toda oração, deixa que as coisas ruins aconteçam. As pessoas sofrem, adoecem e morrem indiferente de sua crença religiosa, condição sócio-econômica, ideologia, raça, cor ou cultura. Sempre fui muito racional, pragmático, realista e até sofro por não ver sentido em quase tudo e não ter as emoções e entusiasmo que tem a média das pessoas. Por exemplo, quando minhas filhas nasceram, fui tomado do sentimento de culpa ao invés do sentimento de euforia e orgulho, comum entre os pais nesta situação, tanto que nem anunciava cada nascimento a ninguém, todos ficavam sabendo por outrem. Meus pais até reclamavam da minha suposta indiferença e falta de apreço por não comunicar-lhes tão importante acontecimento.

Quando um filho rebelde diz ao pai que não pediu para nascer, este o repreende e o taxa de ingrato por não agradecer pela vida que lhe foi dada. Mas, de repente, para este filho rebelde, talvez a vida não seja mesmo uma dádiva, um presente, mas um terrível castigo.

Nunca aceitei que Jesus Cristo tenha sido a encarnação de Deus, o criador de todas as coisas, embora aceite que o homem Jesus tenha existido, fato confirmado graças à ciência, como a paleontologia ou a arqueologia, mais que o próprio Deus que, para mim, não se trata de um ser possuidor de uma genealogia e à nossa imagem e semelhança ou de um velhinho barbudo, mas de um sistema cósmico de inteligência. A imagem do Deus onipotente, onisciente e onipresente é uma criação da mente humana, afinal a espiritualidade e a religiosidade sãs as mais primitivas atividades intelectuais do ser humano desde a revolução cognitiva. Jesus, sem dúvida nenhuma, foi um ser iluminado, um grande líder religioso, muito inteligente, perspicaz, observador e estudioso do comportamento humano com dons especiais como os grandes nomes em todas as áreas de atividade e conhecimento humanos na história da humanidade. As chamadas escrituras sagradas são grandes obras literárias, teóricas e de registro de eventos culturais, sociais e naturais de várias épocas, escritas por gênios, sábios escritores, filósofos e cientistas, pois na época só estes tinham o domínio da leitura e da escrita. Talvez Jesus tenha sido um filósofo e tenha feito parte de alguma academia grega de filosofia como a escola filosófica dos cínicos, cujos adeptos viviam como "cães sem dono" e perambulavam trajando apenas uma túnica de saco de linhagem. Como judeu que era, seguia os ensinamentos do velho testamento e conhecia a fundo todo o seu conteúdo, inclusive o anúncio da vinda do messias para salvar a humanidade. Poucos ou quase nenhum registro existe acerca da vida de Cristo até os trinta anos de idade, época em que talvez tenha assumido o papel do messias, se apropriado da ideia e personificado a figura do salvador, mencionado na velha escritura.

Para mim, escrituras sagradas são os livros e textos científicos que trazem verdades abertas e não dogmas, pois para a ciência as verdades são parciais, sempre surgem novas verdades que aglutinam, aprofundam e ampliam as anteriores na espiral evolutiva da vida. Sempre emergem novos paradigmas.

Para a física quântica não existe transcendência, na verdade somos tudo e todos imanentes, estamos tudo e todos interconectados e interagimos todo o tempo em contato direto ou remotamente. A mecânica quântica explica todos os fenômenos que ocorrem no universo, inclusive os fenômenos que hoje julgamos paranormais, extra-sensoriais, sobrenaturais ou metafísicos. Na verdade são todos fenômenos quânticos. Talvez estejamos nos aproximando da teoria de tudo tão perseguida por cientistas de todos os tempos e lugares e os grandes mistérios sejam enfim desvendados.