História de uma gatinha
Hoje, vou contar a minha história.
Chamo-me Princesa Cordélia, sou uma gatinha com 13 anos.
Quando nasci a minha mãe já estava muito doente, e pouco tempo depois ela morreu... Então desde bem pequena tive que me safar sozinha.
Durante anos vivi com outros animais numa casa onde ninguém gostava de nós. Os meus amigos Poppy e Rofti, dois cachorros muito simpáticos, viviam acorrentados e apenas comiam sobras dos humanos, se as houvesse.
E eu dormia perto deles para me sentir protegida. Tentava pedir comida, mas era sempre chutada.. Raramente me davam alguma coisa, então tinha que roubar. Nesses alturas era chutada a pontapé ou à vassourada. Por causa de uma dessas vassouradas, que uma das minhas amigas morreu com uma costela fraturada.
Algum tempo depois, fiquei prenha a primeira vez... O tempo passou e tive os meus filhotes escondida no coberto das batatas... Quando a humana nos encontrou quis roubar-me os bebés.. Então levei-os para outro lugar.. Mas ela sempre nos encontrava.. Acabou por mos tirar e mata-los... Fiquei muito mal... Miava muito com saudades dos meus bebés e não podia fazer nada... As tetas doiam-me e senti-me fraca. E isso aconteceu vez após vez... Apenas um dos meus bebés sobreviveu e está comigo.
Nunca tinhamos comida suficiente, um lugar seguro ou um pingo de amor...
Muitas vezes fiquei doente, mas ninguém se importava.... Apenas os meus amigos cães, tão sortudos como eu me acolhiam....
Havia uma humana que de vez em quando aparecia.. Ela era simpática. Tentava me fazer mimo, mas eu tinha medo e fugia. Ela dáva-me comida e deu-me um nome : Princesa.
Ela também cuidava dos cães. Dava-lhes comida, água e as vezes soltava-os para brincar. Mas sempre era repreendida por isso.
Mesmo assim ela não desistiu de nós.
Sempre que vinha, tentava me acolher e pouco a pouco eu e o meu filho Cucca fomos nos afeiçoando a ela.
Ela passou a ser o nosso porto seguro, ficavamoa muito felizes quando ela voltava... Mas depois tudo voltava ao mesmo...
Um dia o Rofti fugiu, mas ninguém o foi procurar... O tempo passou, ele não voltou e ninguém se importou... Algumas semanas depois a humana simpática voltou e ao aperceber-se do sucedido ficou furiosa. Ela defendia-nos sempre e fazia o que podia para nos ajudar... Mas pouco podia fazer..
Alguns anos depois essa humana tornou se uma mulher determinada e decidiu nos salvar.
Primeiro levou o Cucca. Ao princípio fiquei preocupada, mas sabia que ela ia cuidar dele.
Depois, quando percebeu que eu ia de novo ter bebés, levou-me também.
Foi estranho mas tão bom, ter um lar, comida, água e muito amor. Demorou a habituar a tudo isso, mas finalmente estávamos em segurança. Ali, pela primeira vez os meus bebés não foram tirados de mim. Cuidaram de todos nós com muito amor. Finalmente, tínhamos uma família.
Tive a oportunidade de ser mãe, de conviver com outros gatinhos e de adotar outras ninhadas, que assim como eu, tinham perdido a sua mãe.
Ela também salvou o Poppy. Trouxe-o para casa e juntou-o a outros dois cães. Estão felizes.
Já passaram 2 anos. O meu Cucca morreu, muito doente... E agora eu estou doente. Mas a minha humana de estimação cuida de mim com muito carinho. Ela não dorme enquanto eu não estiver na segurança do lar. Dá-me mimo até eu adormecer. Não me falta nada. E eu também estou sempre perto dela... Protejo-a e estou perto dela quando adoece. Mimamos uma à outra.
Mas últimas semanas enfraqueci muito... Fiquei magra, sem vontade de comer, sem vontade de brincar ou sair à rua e deixei de ver .. Ouvi a humana a chorar e dizer que não havia mais nada a fazer....
Senti que seria o meu último dia.. E foi..
Chegou o veterinário, a humana pegou me no colo e afagou-me até eu ficar calma. Depois espetaram algo em mim e doeu muito. Saltei, chorei e a humana voltou a acalmar-me... Depois fiquei com muito sono... Já não tinha força para me mexer. A humana não parava de chorar e pedir-me desculpa.... Senti de novo algo a espetar dentro de mim... E de repente tudo se apagou....
1 de Julho de 2021