Nenpuko Sato (1898-1979)
ACADEMIA INTERNACIONAL DE LETRAS E ARTES.
PATRONO – Nenpuku Sato
Acadêmica Benedita Silva de Azevedo
CADEIRA Nº 27-RJ
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Sinto-me honrada em pertencer à esta nova Instituição Literária, especialmente, por ter como patrono NENPUKU SATO“, mestre de haicai, nascido na cidade de Sasaoka, provincia de Niigata, a 28 de maio de de 1898.
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Quando e como o haicai chegou ao Brasil?
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Shûhei Uetsuka (nome literário Hyôkotsu), autor do primeiro haiku em japonês escrito no Brasil, em 1908, considerava Nempuku como seu mestre. Ao desembarcar no Porto de Santos com os primeiros imigrantes, olha para o alto e escreve:
A nau imigrante
Chegando: vê-se lá no alto
A cascata seca.
..........Shuhei Uetsuka
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É famosa a história de que Nenpuku Sato imigrou para o Brasil a fim de divulgar o Haiku entre os japoneses em sua nova terra, incumbido pelo Mestre Takahama Kyoshi, com quem aprendeu Haiku desde a mocidade, quando morava em uma aldeia da província de Niigata, no noroeste do Japão. Nenpuku recebeu este haiku de despedida:
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Cultivando a terra,
construa uma nação
de haikai.
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(Tradução de Goga)
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Haikai em japonês abrange todos os estilos de poesia do gênero.
O Mestre Nenpuku Sato, homem de caráter positivo, sincero e batalhador trabalhou arduamente para realizar o ideal de seu professor.
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Após alguns anos da vinda para o Brasil, iniciou sua peregrinação haicaísta, visitando os núcleos agrícolas e promovendo sessões de haiku onde se praticavam concursos. O mestre ensinou aos presentes o "verdadeiro haiku", isto é, o haiku tradicional que obedece rigorosamente à métrica e contém sempre o Kigo.
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Ele descobriu os diversos Kigo, tipicamente brasileiros, ao observar atentamente a natureza do país e mostrou aos discípulos como fazer Haiku com os novos Kigo.
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A coluna de haiku do jornal Burajiru Jihô cresceu e aumentou o número de participantes que disputavam classificação num concurso mensal. Assim sendo, o haiku tradicional foi divulgado não só entre os agricultores, mas também entre pessoas de outras profissões.
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Pouco antes da eclosão da 2a Guerra Mundial, o governo do presidente Getúlio Vargas proibiu a circulação de jornais em língua estrangeira. E a atividade haikuísta por meio do jornalismo entrou em colapso.
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No entanto, Nenpuku não perdeu ânimo e, ao contrário, criou mais coragem de divulgar o ideal do haiku tradicional, por meio da seleção e orientação por correspondência, para o bem dos discípulos espalhados por todo o território do país. A maioria se concentrava nos estados de São Paulo e Paraná.
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Nesta época, Masuda Goga discípulo de Nenpuku Sato mandava sempre a produção não só dele, mas também de seus companheiros, mantendo reuniões de haiku clandestinamente em sua residência.
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Este sistema de orientação de haiku, diretamente pelo Mestre, tornou-se cada dia mais difícil e depois da declaração oficial de ruptura de relações diplomáticas entre o Brasil e Japão, a iniciativa de Nenpuku impossibilitou-se por completo.
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Logo depois do término da guerra, a atividade dos haikuísta tornou-se mais viva e animada. Em janeiro de 1947, saiu a primeira edição do Jornal Paulista (bilíngue), na qual foi criada uma coluna de haiku pelo Mestre Nenpuku Sato. Todos quantos perderam contato com o Mestre durante a guerra ficaram entusiasmados com o reinício da seleção direta do haiku por Nenpuku Sato. No inverno de 1947, a direção do periódico organizou o 1º Encontro de Haiku, em São Paulo.
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Desta ocasião em diante, o encontro de haiku foi realizado, anualmente, pelo Jornal Paulista até o dia em que o Mestre caiu enfermo. Ele reconhecia a importância desta reunião anual para a difusão do haiku e de seu ideal.
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O número dos participantes ao encontro anual cresceu ano após ano até atingir o recorde de mais de trezentas pessoas, por ocasião da reunião especial em comemoração a 300ª edição da revista Kokage, que foi criada e administrada pelo próprio Mestre Nenpuku.
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Além disso, ele aceitava abnegadamente convites para comparecer a encontros regionais apenas para satisfazer os discípulos com sua presença. Essas viagens haikuísta deram um resultado digno de menção: conforme um cálculo por alto, o número de adeptos atingiria, no auge, a casa dos dois milhares.
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Sua filosofia, quanto ao haiku tradicional, era intransigente e nunca cedeu um passo sequer ao "adversário" que desrespeitava o espírito da tradição. Ele defendia a todo custo a escola Hototogisu, dirigida por Kyoshi Takahama, assim como lutava para consolidar a situação da revista Kokage.
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“A relação entre Nenpuku e eu durou mais de 40 anos, e aprendi com ele a excelência do haiku do "aqui - agora". (Masuda Goga). O Mestre, quando publicou a primeira edição de sua coletânea, escreveu um trecho seguinte:
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"Nasci como filho de um pequeno comerciante de aldeia, mas não aprendi nada sobre negócios e recebi apenas educação primária. Sem cultura alguma, cheguei ao Brasil e por aqui passei a metade de minha vida sem conseguir sucesso digno de nota. Por isso, meus haiku são apenas um diário banal de vida sem valor para ser apreciado. Porém, o haiku tem sido minha vida nestes 25 anos, mesmo nos instantes em que fui impedido de compor pelo cansaço do trabalho pesado. Assim sendo, eu considerava que o haiku era a animação da vida e fui consolado e encorajado pelo mesmo..."
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No prefácio da segunda coletânea, escrito pelo amigo do autor, professor, médico e haikuísta Mizuho, há um trecho que trata da personalidade de Nenpuku:
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"Era um moço de corpo frágil e magro; porém, depois da chegada ao Brasil, recuperou a saúde e resistiu a todas as dificuldades físicas e mentais", e disse também "um grande sucesso conseguido pelo Mestre Nenpuku, como fruto da forte personalidade e enérgica pertinácia".
O Mestre Nenpuku era sério em todos os sentidos. Ele exigia honestidade de si mesmo e também dos discípulos. Por isso, não dava aos alunos a liberdade de pertencerem a outras escolas de haiku, de nenhuma maneira. O Mestre queria justificar a solidariedade ao "nosso partido" e nunca cedeu um palmo ao movimento "contra Nenpuku". Por esta atitude firme, ele conseguiu subir ao trono de soberano do "país do haiku", o Brasil. Esta história foi televisionada em 1997 pela rede japonesa NHK, num programa cultural muito elogiado entre os espectadores japoneses. Assim, Nempuku cumpriu a responsabilidade de pioneiro cultural, ao plantar a pedra fundamental do "Império do Haiku Tradicional".
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A concretização do sonho sublime do "poeta agricultor". Alem dos dois volumes da coletânea de seus Haiku, editados em 1953 e 1961, foram publicadas sob sua orientação, uma antologia brasileira (1948) e uma antologia paulista (1952).
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Finalmente, em sua despedida final, ele me solicitou o máximo de esforço na divulgação do haiku com kigo, oferecendo a Masuda Goga o uísque proibido por orientação médica.
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Os seguidores do criador do "país do haiku", todos os anos, no domingo mais próximo ao aniversário de seu passamento, 22 de outubro, prestam suas homenagens, realizando uma grande reunião nacional em São Paulo, onde é realizado um concurso de haiku:
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Dia de Nempuku:
Ofereço o meu haicai
no lugar de flores
Goga
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Discurso de posse
Benedita Azevedo