Intensidade

Ainda mal se via tudo o que havia para ver e já a ideia nascia para acender alternativas. Posso ficar. Posso ir. Ficando, o espírito arderá em lume brando, em agonia incontornável, em desespero dissimulado e indo, após convencer o corpo a abandonar o marasmo, depois de alisar as partes fundamentais, vestir a roupa que hei-de despir com pressa ávida, começarei a acender todas as luzes no caminho. A primeira nunca se vê e é a mais intensa, o farol interior, a bússola para chegar ao destino e todas as demais se farão sentir na pele, na boca expectante, nos dedos ainda mal pousados na inquietação. Depois de atravessar o limbo das luzes baixas, o lume em começo de voz, a chama nítida e ardente, haverá, quando chegar, pequenas estrelas tímidas para me dizer que estás ainda fechada na noite sem programa definido. E sentes-me sem que ainda esteja e todos os pontos luminosos que mal se viam crescem um crescer ousado, tornam-se estrelas luxuriantes, firmes. A noite é agora de claridade aberta e há, morno, um rio que avança da lentidão para a cascata. Estou perto e puxo-te, minha vida, até à queda. E voamos para o céu que é a descer na espuma, mergulho em profundidade, a cidade nunca antes vista, as pedras onde me esmago sem sentir, as mesmas que me anulam apagando tudo o que ainda há pouco gritava.

Edgardo Xavier
Enviado por Edgardo Xavier em 20/05/2021
Código do texto: T7259750
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