MEU SAUDOSO TIO
JORNALISTA JOSÉ PRATES BRAGA – VIDA E MEMÓRIA
Mídia espontânea
Nascia, por volta de 1928, em Jacaraci, sertão baiano, o primeiro filho de ‘seu' Josa, homem simples dedicado ao trabalho da lavoura. Por nome José [como era chamados os filhos mais velhos, em alusão ao carpinteiro São José] cresceu saudável brincando e correndo pelas ruas silenciosas da sua bela/poética cidade.
Aos 06/07 anos de idade ingressou na Escolas Reunidas de Jacaraci donde aprendeu ler, escrever, ganhando boas noções de tabuada. Tinha larga afeição e carinho pela professora Julieta Cardoso David. Com ela, costumava conversar, no pós-aula, descobrindo, ‘não por engano', a sua vocação para a escrita. Já rapazinho (adolescente), trabalhou como aprendiz de tipógrafo. Um ano antes, entregava correspondência – normalmente vinda de São Paulo – para aqueles que a recebia via correios. Foi este, o seu primeiro emprego, remunerado, que rendia em torno de 12 a 13 contos de réis ao mês. Sonhava, um dia, possuir máquina de escrever em sua casa, algo tão distante para a época, inclusive por ser esta, ‘coisa de luxo'.
Havia visto, pela primeira vez, a dita máquina, numa dessas suas entregas de carta ao escritório do Sr. Mozart David, Prefeito, depois líder político, na sua cidade natal. Olhava aquela ‘raridade’ posta sua mesa de trabalho tida como objeto de uso particular. Talvez esse, foi o seu pequeno passo para um caminho mais longo chamado jornalismo. Depois da curta experiência na área gráfica, empregou-se no Telégrafo em Condeúba-Ba.
Soube, no entanto, da construção da linha férrea Central do Brasil cortando parte do norte de Minas. Lá, se aventurou, passar alguns dias, naquela que viria a ser a famosa Janaúba [grande produtora de banana da terra]. O lugar, nada mais era, que uma ‘ruinha' de casas que mau se podia chamar vila. Em menos de dois anos, tornava-se ‘uma quase cidade' em razão do crescimento tanto físico, quanto populacional, em decorrência do vai-e-vem de gente durante os 6 dias da semana. O domingo, ficava para descanso, obviamente.
O menino empreendedor, para nossa grata surpresa, participou do processo de fundação de Janaúba, no vale do Gorotuba tornando-se, portanto, um dos seus ilustres fundadores. Foi, na ocasião, secretário, responsável pela transcrição da ata [onde consta o seu nome ao final], assinado por ele e os demais presentes, que compuseram a comissão de instalação do município de Janaúba nomeada pelo governo mineiro, sob a égide do então presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira. Nesse momento, correspondia com a célebre Revista Cruzeiro, que futuramente, se transformaria em Cruzeiro Esporte Clube, tanto uma, quanto o outro, festejados no estado de Minas Gerais.
Anos mais tarde, fundou, em Montes Claros-MG, o seu primeiro jornal impresso Jornal de Montes Claros [pioneiro na região]. Instalou-se, ali, a chamada 'imprensa livre'. em meados da década de 50. Lembrando ter sido ele 'detido’, em plena rua, quando fazia o seu trabalho de repórter, sob frágeis acusações de ‘comunismo'. Era, pois, o regime militar, imperando nas ruas nervosas do centro comercial de Montes Claros, como de resto, no Brasil ditatorial. A guarda municipal, nada fez, que somente levá-lo ao cárcere. Em menos de 5 horas foi posto em liberdade.
Casado, pai do primeiro filho, é aprovado em concurso para Marinha Mercante do Brasil. Militar, formado na Escola Oficial, no Rio de Janeiro, completa a sua família com mais três filhos, da mesma esposa, montes-clarense. Forma-se em Direito pela Universidade Cândido Mendes e em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Percorreu os cinco continentes do globo, em longas viagens internacionais, aposentando-se, além de ex-Capitão, como Oficial [na reserva] da Marinha. Elege-se ao cargo de Diretor da classe especial dos Oficiais [já aposentados], no Sindicato dos Oficiais da Marinha do Brasil. Lembra, com saudade, da sua estremecida Jacaraci, a saber: pequi dos gerais, largo da feira, rua do fogo, areia branca, igrejinha, dentre outros.
Thiago Valeriano Braga