O Repouso do Bruxo

Por volta dos quarenta anos, em 1878, Machado de Assis, que sofria desde sempre de epilepsia, começou também a sentir os sintomas de uma afecção intestinal, provocada pelo excesso de trabalho. Decidiu, então, suspender suas colaborações literárias para os jornais nos quais escrevia e, com a licença do seu cargo público na Secretaria da Agricultura, partiu, com sua esposa, Carolina, para Nova Friburgo, na serra fluminense. O casal lá permaneceu por uma estadia de três meses que, com o restabelecimento do Machado, se estendeu por mais três. Lúcia Miguel Pereira diz que essa curta fase da vida do escritor fora decisiva para o seu definitivo amadurecimento. Machado de Assis, carioca nato, nunca saíra da cidade do Rio até aquele momento, nunca experimentara a liberdade de se encontrar fora do ambiente urbano, longe dos amigos, dos cafés, dos clubes literários, das ruas empoeiradas por onde circulavam os bondes puxados por burros e onde se ouviam os pregões dos vendedores ambulantes. Esse momento de descanso -- o primeiro de sua vida -- permitiu que o escritor mergulhasse em reflexões novas sobre a vida e, principalmente, sobre a morte. Quando desceu da serra, Machado de Assis estava mudado para sempre, alcançara, finalmente, o domínio pleno da sua linguagem, dos seus meios de expressão. Sua principal obra, Memórias Póstumas de Brás Cubas, reflexo das suas mais profundas meditações, nasceu pouco depois de seu regresso à vida urbana.

Vitor Marcolin
Enviado por Vitor Marcolin em 28/11/2020
Reeditado em 28/11/2020
Código do texto: T7122563
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