O SESQUICENTENÁRIO DE MANOEL JOSÉ SALOMÃO
MANOEL JOSÉ SALOMÃO nasceu em 17 de fevereiro de 1869, na antiga província otomana da Síria que, até 1918, incluía os atuais Estados da Síria, Líbano, Jordânia, Israel e Territórios Palestinos, a chamada Grande Síria. Era filho do casal José Salomão e Rosa Moussalém.
Sob o jugo dos Paxás turcos, símbolo da prepotência e malvadez, o povo sírio sofreu indescritíveis perseguições, obrigando muitos a deixarem seu país de origem, a exemplo da importante família Moussalém, da qual descendia Manoel José Salomão.
Chegou ao Brasil com 19 anos de idade, árabe naturalizado brasileiro. Casado com D. Oadia Moussalém Salomão, teve os filhos José Benedito Salomão, Raimundo Salomão, Manoel Urquiza Salomão, Guilnar e Helena Salomão, e o filho legitimado Ismael Salomão.
Veio para Barra do Corda no ano de 1888 e logo começou a desenvolver suas atividades, instalando uma casa comercial. Comprou do Sr. Vicente Joaquim de Santana a Fazenda Piripiri, e passou a investir na pecuária, usando o sistema de criação de gado à solta. Também comprou de D. Jovina, viúva do Sr. Deco Falcão, o antigo clube “Catete” e o transformou em armazém.
Espírito culto e sobremodo dinâmico, conseguiu, em poucos anos, dominar a inteira zona sertaneja de Barra do Corda. Tornou-se, além de um dos maiores comerciantes locais, um dos dedicados chefes da “União Republicana”, partido político de cujo Diretório era o presidente. “Sua vida, no Brasil, foi inteiramente votada ao trabalho. Não lhe sobrava tempo para distrações. Seu passatempo mais predileto era a resolução dos diversos problemas comerciais, concernentes às diversas casas que mantinha neste e noutros municípios do Estado”[1].
Foi proprietário de extensas faixas de terras, onde se achavam localizados grandes centros de lavouras e vários estabelecimentos comerciais e industriais filiados à sua casa e que representava um elemento importante na vida econômica do sertão.
As primeiras tentativas de impulso à navegação em Barra do Corda ocorreram em 1906, quando alguns negociantes locais formaram uma sociedade para a aquisição de duas lanchas a serem empregadas no transporte de cargas através do Mearim, da Capital a Barra do Corda e outros pontos do Alto Sertão. À frente do projeto estavam Antônio da Rocha Lima, José Nava, Fortunato Fialho, Pedro Braga, Aníbal Nogueira e Manoel José Salomão. Este, não vingando a sociedade e vendo-se prejudicado em seus negócios pela falta de transporte certo, ocasionando demoras no recebimento de gêneros, saiu na frente, montando, sem auxílio dos poderes públicos, dois possantes rebocadores – as lanchas “São José” e “São Benedito” – direto do Arari a Barra do Corda. Em 1916, firmou contrato com o Governo do Estado para a navegação no rio Mearim, no trecho compreendido entre Pedreiras e Barra do Corda, realizando 24 viagens anuais.
Waldemar Santos, cujo pai foi funcionário das empresas Salomão, registra esses fatos na sua “História de Barra do Corda”, até hoje inédita:
“O Cel. Salomão, com a sua perspicácia, viu que era de muita urgência ter navegação para não depender de outras que demoravam a chegar com as mercadorias. Resolveu ir a São Luís para comprar uma lancha, e, no caso, trouxe duas de nomes “São José” e “Andorinha”. Ao chegar em Barra do Corda com as lanchas, imaginou a necessidade de um gerente. Convidou o Sr. Agostinho Araújo, por ser dinâmico e também seu compadre, pois era padrinho de sua filha Guilnar. O compadre aceitou. Porém, quando chegou em casa, refletiu que, para bom desempenho, era necessário uma oficina mecânica e um competente maquinista. Tem mais, e os batelões para conduzirem as cargas? Resolveu ir até Arari e facilmente arrendou dois batelões.
O seu comércio, indústria e navegação cresciam qual maré açoitada pela tempestade. Por essa razão, notou que necessitava de uma navegação direta à Capital do Estado. Foi a São Luís e comprou um iate de dois mastros, chamado “Republicano”, com capacidade para 50 toneladas. Logo, tinha que construir um armazém em Arari para baldeação das mercadorias chegadas e saídas. Com essa inovação o Cel. fez propaganda para todo o sertão maranhense e até o norte de Goiás. Mantendo constantemente os seus depósitos assim: 10.000 sacas de sal, 800 caixas de querosene “Jacaré”, 400 caixas de sabão “Martins”, 200 sacas de café moca dos tipos 4 e 6; tecidos desde o doméstico até o linho, caqui, sedas e o que pudessem inventar as tecelagens”.
Manoel Salomão, e, posteriormente, Gerôncio Falcão, detiveram, por muitos anos, o monopólio das navegações que trafegavam de São Luís a Barra do Corda.
Exerceu vários cargos públicos, destacando-se, entre eles, o de Juiz suplente de Direito, vereador em várias legislaturas, muitas das quais como presidente da Câmara Municipal, e prefeito. Sua influência política e ligação partidária a Magalhães de Almeida, então Governador do Estado e seu particular amigo, trouxe importantes melhoramentos à cidade, como a participação ativa que teve nos serviços da rodovia Barra do Corda–Curador (atual Presidente Dutra), concluída em 1928. Em 1929, construiu, às próprias expensas, a estrada de rodagem que liga a cidade de Pedreiras ao centro “Três Bocas”, onde era proprietário de importante estabelecimento comercial, impulsionando consideravelmente a economia daquela região.
Em 6 de julho de 1930, o diretório da União Republicana Maranhense lança a candidatura do Cel. Manoel Salomão, então presidente da Câmara, ao cargo de prefeito de Barra do Corda, para o pleito de 12 de outubro, em sucessão a Gerôncio Falcão. No entanto, o golpe militar de Euclides Maranhão, fechando a Câmara e depondo o prefeito, veio baldar sua campanha e encerrar a sua carreira política.
Faleceu em sua residência, à rua Frederico Figueira, às 15 horas do dia 8 de junho de 1934, cercado da família e amigos e do médico que o assistiu em seus momentos finais, Dr. Otávio Vieira Passos.
Para esta biografia foram pesquisados vários números dos jornais "Pacotilha", "Diário de S. Luís" e "O Jornal". A imagem é a que está em seu túmulo.
[1] Notícias, S. Luís, 14.ago.1934.