SINHÔ - JOSÉ BARBOSA DA SILVA - O REI DO SAMBA

SINHÔ - O SENHOR DO SAMBA!

Os anos de 1888 e 1889 foram dois anos marcantes na conjuntura da História do Brasil. No primeiro uma raça é libertada da escravidão e, no segundo cai o Império e nasce a república. E foi no mediar desses acontecimentos que no dia 18 de setembro de 1988, na cidade do Rio de Janeiro, nasceu José Barbosa da Silva que ainda criança receberia o apelido de Sinhô, apelido esse que o imortalizaria dentro do contexto histórico musical do samba no Brasil. Filho de um pintor apaixonado pelos “chorões da época” ainda na infância foi estimulado pela família a tocar flauta, mas logo em seguida passou a estudar bandolim, violão e piano. Inicialmente tocava de ouvido e mais tarde aprendeu a ler e escrever pautas.

Aos quatorze anos teve os primeiros contatos com Pixinguinha, aquele que seria um dos seus maiores parceiros na boêmia e na música. Em 1913 Sinhô entra de vez para o samba frequentando a casa da baiana tia Ciata, antigo reduto de samba, situada nas proximidades da Praça XI frequentada por Donga e Pixinguinha dentre outros A casa da tia Ciata, foi o berço onde nasceu o primeiro samba do Brasil: Pelo Telefone.” Sinhô foi o primeiro grande sambista, o fixador do gênero e criador do estilo coloquial do samba, de que Mario Reis, seu aluno de violão, seria o maior intérprete da sua música. Sinhô foi um dos poucos que deram a luz ao genuíno samba abandonando de vez a forma apolcada. Até a metade do século XX, o samba era restrito às camadas mais populares e às áreas mais pobres do Rio de Janeiro.

Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga foram os primeiros responsáveis pelo surgimento dos gêneros populares, precursores do samba e, Sinhô já na segunda décadatornou-se um dos criadores e divulgadores do novo gênero nascido da mistura das músicas dos migrantes afro-baianos que ocupavam a cidade do Rio de Janeiro.

A obra vasta de Sinhô é considerada por muitos historiadores, uma crônica da vida carioca da época. ]

Em razão de ter se casado muito cedo e já com três filhos para criar, Sinhô teve que se profissionalizar muito cedo, começando a trabalhar, durante o dia na Casa Beethovenfazendo demonstrações de partituras e na noite, tocava em Clubes Carnavalescos, boates, prostíbulos, acampamentos ciganos etc. Um dos Clubes mais famosos foi A Kananga do Japão, que foi tema de novela na extinta TV Manchete.Sinhô publicou mais de cento e cinquenta músicas, sendo mais de cem delas gravadas; compôs trilhas sonoras para diversas revistas musicais, participou de sarais, e juntamente com vários artistas participou da serenata em homenagem ao regresso de Santos Dumont ao Brasil.

Entre seus sambas mais conhecidos, Ora vejam só (1927) Jura(1928)Amar a uma só mulher(1928)Sabiá(1928)O que vale a nota sem o carinho da mulher(1928)Gosto que me enrosco com Heitor dos Prazeres(1928). Também compôs musicas de inspiração afro-baiana (Dendê, Macumba, entre outras e também de cunho sertanejo (canção roceira, Sonho de Gaúcho.

SINHÔ – O REI DO SAMBA, POETA E POLÊMICO.

Sinhô, em 1927, na noite Luso – Brasileira, no Teatro da República, foi coroado o Rei do Samba, título que ainda é ostentado até os dias de hoje nos anais históricos da música brasileira.

Polêmico, por natureza, Sinhô sempre se encontrava em meios às contendas. Em uma delas foi acusado por diversas vezes de apropriar - se de CE canções alheias. “Samba é como passarinho, é de quem pegar”, disse certa vez. Quando Donga e Mauro de Almeida registraram como sendo deles a autoria “ Pelo Telefone”, samba que era cantado na casa de Tia Ciata como O Roceiro, Sinhô ficou surpreso e reivindicando também a autoria do samba e alimentando a polêmica compondo o samba “ Quem são Eles” em 1918 provocando os parceiros. Recebeu o troco logo em cima da bucha, com a composição de Donga” Fica Calmo e Aparece” e “Não És Tão Falado Assim” de Hilário Jovino e, a resposta mais deselegante veio com Pixinguinha e seu irmão China cujos versos diziam assim:” Ele é alto e feio/e desdentado/ele fala do mundo inteiro/e já está avacalhado” – Mas Sinhô não dormiu no ponto e deu a resposta com” Pé de Anjo oficialmente a primeira marcha gravada.

O prazer pela sátira trouxe a Sinhô alguns problemas sérios. Um deles foi quando compôs “ Fala Baixo”, satirizando o então Presidente da república, Artur Bernardes mencionando o seu apelido “Rolinha”tendo que fugir para não ser preso. Anos antes, precisamente em 1919 havia composto a sátira” Fala Meu Louro” alusiva a Ruy Barbosa “A Bahia não dá mais coco/para botar na tapioca/pra fazer o mingau/pra embrulhar o carioca/Papagaio louro do bico dourado/tu falavas tanto/qual a razão que vive calado”

Por volta de 1927, Sinhô envolveu - se em uma polêmica política, quando compôs “A Favela Vem Abaixo” criticando o projeto de remodelação do centro do Rio, cujo prefeito Prado Junior pretendia derrubar o morro da Favela. Chegou até a interceder junto a um ministro da República com quem tinha livre acesso. O samba “ Ouço Falar” em 1929 foi utilizado para a campanha de Julio Prestes à Presidência e os versos,” Eu ouço falar/Que para o nosso bem/Jesus designou/Que é Julinho que vem” foi uma resposta ao Eduardo Souto que dizia assim:”Sue Julinho vinha para ganhar vintém”

À frente dos demais compositores da sua época, para controlar as suas composições, Sinhô criou selos com sua assinatura para controlar os discos e carimbos para as suas partituras , preocupando – se com os direitos autorais. Também costumava pagar músicos para tocarem somente as suas músicas.

Sinhô teve quatro mulheres: Henriqueta, Cecília, Carmen e Nair com quem viveu até os últimos dias de vida. Em 04 de agosto de 1930, anos de mudanças na política brasileira, a bordo da velha barca que fazia a travessia da Ilha do Governador ao Cais do Pharaux, falece vítima de uma hemoptise, deixando a Nair a última esposa com sérias dificuldades a qual teve que vender praticamente tudo para sobreviver.

“Ele era o traço mais expressivo ligando os poetas, os artistas,, a sociedade, fina e culta, as camadas mais profundas da ralé urbana. Daí a fascinação que despertava em toda a gente quando a um salão” afirmou Manuel Bandeira em crônica no livro” Os Reis Vagabundos.” O nosso Sinhô do Samba pode ter sido polêmico e foi.Mas era uma bamba, e isso não se discute” escreveu Ricardo Cravo no dicionário Cravo Albin da música popular brasileira.

(Pesquisa feita em vários sites da Internet)