EMÍLIA FREITAS
EMÍLIA FREITAS
Nome de batismo Emília de Freitas, nasceu na vila União, atual Jaguaruana, distrito de Aracati, a 11 (segundo Constância Lima Duarte) ou 15 (segundo Abelardo F. Montenegro) de janeiro de 1855, filha do Tenente Coronel Antônio José de Freitas e de Maria de Jesus Freitas.
Sua educação primária foi em casa, com a morte do pai, em 1869, a família mudou-se para Fortaleza. Todos os 13 ou 14 filhos passam por necessidades financeiras após o falecimento do senhor Freitas (CUNHA, 2008, p.113). Contudo, a pequena Emília pôde continuar sua educação, apesar das dificuldades.
Por motivo da ausência paterna e a perseguição dos políticos conservadores a família tenta nova vida na capital da província, fase que Emília Freitas registra em dois poemas publicados na coletânea Canções do lar, em 1891: Meu Pai (Antônio José de Freitas) e A Vila União (registro de onde a escritora residiu em sua infância e adolescência).
Na capital da província, Emília Freitas, já quase uma mulher, não ficava restrita aos trabalhos domésticos, gostava de realizar leituras, participava de um mundo letrado e lia Victor Hugo, Lamartine, Baudelaire, Eugène Sue, Alexandre Dumas, Gonçalves Dias, Castro Alves, Nísia Floresta, Juvenal Galeno, Amália Franco, Francisca Clotilde e outros mais (CAVALCANTE, 2008, p.39).
Emília Freitas continuou seus estudos com ajuda do irmão Antônio Henrique de Freitas que desde menino era o arrimo da família. Participou de recital de poesias, nos anos 1881 e 1882 no Colégio Santa Cecília. Formou-se professora na Escola Normal do Ceará, em 1885, tendo sido aluna de Francisca Clotilde. Porém, nesse mesmo ano Emília Freitas teve um infortúnio, faleceu sua mãe a 23 de março de 1885.
Nos anos seguintes Emília participou de movimentos intelectuais no Ceará, em 1890 publicou O Renegado e em 1891 Canções do lar. Ficando sem os pais, ela e o irmão Alfredo Freitas foram ganhar a vida em terras novas, à procura de boa aventurança na terra da borracha, no ano de 1892. Em Manaus exerceu o magistério no Instituto Benjamin Constant, escola destinada à educação de meninos para instrução primária e secundária.
Na terra da borracha conheceu o jornalista Arthunio Vieira, casaram-se. Em 1899 publicou sua obra mais conhecida, Rainha do Ignoto. Para alguns críticos literários, a citar Abelardo F. Montenegro, é um romance psicológico, porque a própria autora assim o define com um subtítulo, “romance psicológico”. Contudo, a crítica atual considera um livro pioneiro na linha da literatura fantástica, devido à obra ter características de mistérios com fadas, bruxas, personagens fantasiosos e de espiritualidade mística. Emília Freitas nessa obra põe um modo diferente do comportamento humano, há um mundo dominado por mulheres, que tiveram decepções e optaram por viverem sem o auxílio masculino.
A autora apresenta ao leitor o fantástico com um plano de regionalidade, fazendo com que o seu romance penetre um mundo imaginário, do possível ao impossível, do verossímil ao inverossímil. Otacílio Colares em Lembrados e Esquecidos esclarece que a literatura fantástica é o aceitável, uma coisa possível entre o estranho e o maravilhoso. De acordo com a teoria de Todorov o romance Rainha do Ignoto está mais na vertente do maravilhoso do que do fantástico, porque sabemos no final quem é a misteriosa fada, bruxa, enigmática Funesta, a rainha das amazonas na Ilha do Nevoeiro: Diana. Enquanto que no gênero fantástico o leitor fica na dúvida até o final da narrativa: será que realmente aconteceu o fato? O personagem estranho é real? Ou da imaginação? Fica a dúvida. Porém, se tivermos como base o pensamento de Otacílio Colares, podemos considerar Emília Freitas como pioneira na literatura fantástica, sendo a primeira mulher a escrever nesta categoria.
No Instituto Benjamin Costant a autora de Rainha do Ignoto trabalhou como professora até 1900, ano que retornou ao Ceará juntamente com o marido, passando este a ser o redator do Jornal de Fortaleza. Em terra cearense, fundou com o marido um grupo espírita em Maranguape, entre os anos 1900 e 1901, denominado de “Verdade e Luz”. Depois retornou a Manaus, não há registro de data. Temos notícias sobre Emília Freitas em 1908, ano do seu falecimento, a 18 de agosto.
A escritora publicou: Canções do Lar (poesias) – 1891; A Rainha do Ignoto (romance – 1ª ed. 1899 – Tipografia Universal - Fortaleza, 2ª ed. 1980 – Secretaria de Cultura do Ceará, 3ª ed. 2003 – Editora Mulheres – Santa Catarina; O Renegado (romance) – Fortaleza, s/d.
Relatamos sobre a história de Emília Freitas, uma mulher que no meio da intelectualidade masculina procurou seu espaço na literatura e na educação. Assim trouxemos do esquecimento a história de uma das mulheres beletristas e educadoras no Ceará e sua contribuição para o universo intelectual brasileiro.
REFERÊNCIA
ALMEIDA, Gildênia Moura de Araújo. Mulheres beletristas e educadoras: Francisca Clotilde na sociedade cearense – de 1862 a 1935. Tese (Doutorado). Fortaleza: Universidade Federal do Ceará (UFC), 2012, 356f.
ALMEIDA, Gildênia M. A. A beletrista e educadora Emília Freitas. In: VIDAL, Alexandre et al (orgs.). Literatura em debate: estudos sobre autores cearenses. Fortaleza: Premius, 2014. p.15-28. ISBN: 978-85-7924-350-9
CAVALCANTE, Alcilene. Uma escritora na periferia do império: vida e obra de Emília Freitas (1855-1908). Ilha de Santa Catarina: Editora Mulheres, 2008. 208p.
COLARES, Otacílio. Lembrados e esquecidos: ensaios sobre literatura cearense. v. 3. Fortaleza: Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará, 1977. 216p.
CUNHA, Cecília Maria. Além do amor e das flores: primeiras escritoras cearenses. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2008. 232p.
DUARTE, Constância Lima. A Rainha do Ignoto ou a impossibilidade da utopia. In: FREITAS, Emília. A rainha do ignoto. 3. ed. Florianópolis: Editora Mulheres; Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2003, p.11-21.
FREITAS, Emília. A rainha do ignoto. [atualização do texto, introdução e notas de Constância Lima Duarte]. 3. ed. Florianópolis: Editora Mulheres; Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2003. 432p
MONTENEGRO, Abelardo F. O romance cearense. Fortaleza: Tip. Royal, 1953. 127p.
TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. [tradução Maria Clara Correa Castello]. 3. ed. Coleção debates, n.98. São Paulo: Perspectiva, 2007. 188p.
Gildênia Moura
09/07/2020