1145-JOSÉ ROCA MARTINEZ- Pequena biografia

Em junho de 1990, estando a Biblioteca Nacional de Histórias em Quadrinhos com apenas sete meses de funcionamento, recebi um pacote enviado de São Paulo, por um grande estudioso de histórias em quadrinhos chamado JOSÉ ROCA MARTINEZ.

Abri o pacote e me surpreendi com um dos melhores trabalhos de documentação e exposição de HQs: páginas e páginas xerocadas, tamanho A-4, dos originais organizados por JRC, sobre um dos mais famosos heróis da “era de ouro dos quadrinhos”, as décadas de 1940 a 1970: Tarzan o Filho das Selvas. E o trabalho era feito todo sobre um dos muitos desenhistas de Tarzan, para mim, o melhor deles: Burne Hogarth.

Telefonei imediatamente para o Sr. José Roca Martinez e tivemos uma longa conversa, como se já fossemos conhecidos e amigos de muito tempo. E no final da conversa, indaguei:

— Então, caro Martinez (já houve certa intimidade desde as primeiras palavras trocadas entre nós) que você pensa em fazer destas páginas que me enviou?

— São para os arquivos da BNHQ (ele já sabia até a sigla da gibiteca).

Agradeci e despedimo-nos. Todavia, fiquei pensando na possibilidade de colocar o material ao alcance de todos os aficionados em HQs em todo o Brasil.

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JOSÉ ROCA MARTINEZ – conhecido entre amigos simplesmente como MARTINEZ – nasceu em Barcelona, Espanha, em 1935. Aos dez anos descobriu os quadrinhos, tendo aprendido a ler através das revistinhas (tebeos em espanhol), orientado por sua mãe. Decorriam os difíceis anos que sucederam à Guerra Civil Espanhola, quando não havia escolas para todas as crianças em idade escolar.

Uma das mais ternas recordações do garoto José daqueles ásperos tempos era o tebeo com a quadrinização do filme “A Marca do Zorro”.

“É lógico que naquela época, para mim, os comics só tinham valor da aventura” — é o próprio Martins que revela. “Nos meus 18 anos comecei a observar que os quadrinhos eram alguma coisa mais do que simples narrativas de aventuras”.

Abriu-se para Martinez a paixão pelas revistas em quadrinhos como arte da ilustração. Ele começou então a copiar desenhos de Jesus Blasco, Emilio Freixas e Manoel Gago. . Porém, logo notou que apenas copiava, não tinha dentro de si o dom da criação. Daí dedicou-se ao desenho técnico, profissão que exerceu por toda sua vida.

Martinez acompanhou toda a “época de ouro” dos quadrinhos na Espanha, de l945 a 1960. Conhecia todas as revistas que eram editadas no país, seus desenhistas e roteiristas, bem como as editoras.

Em 1965, aos trinta anos de idade, Martinez, conduzido por uma intensa indagação espiritual, se agastou do mundo dos quadrinhos. Durante dez anos esteve estudando Filosofia e História Universal. O estudo dessas matérias despertou o seu interesse pela pesquisa, e se não tinha o dom criativo, para dedicar-se à ilustração dos quadrinhos, tinha paciência para ser comentarista e historiador das Histórias em Quadrinhos.

Em 1975, já radicado no Brasil, começou a observar tudo o que se passava pelas bancas de revistas de São Paulo, e nos jornais que traziam notícias e reportagens sobre quadrinhos.

Os álbuns da “Coleção Nostalgia”, da Editora Brasil América Ltda. (EBAL) foram o que se pode chamar de “quilômetro zero” do seu hobbie como pesquisador. Iniciou então uma intensa troca de correspondência com leitores e colecionadores espanhóis, argentinos e portugueses, a respeito dos gibis, tendo também realizado um grande volume de trocas de revistas.

“Hoje observo o “comic” como uma poderosa força de expressão onde o ser humano pode manifesta, através da ilustração, o que pensa, e transmitir esse pensamento em outros idiomas, e chegar a leitores a milhares e milhares de quilômetros pelo mundo todo. Isto é maravilhoso! E o ponto de partida foram aquelas ilustrações encontradas nas cavernas pré-históricas”!

É um entusiasmado dos quadrinhos, sem dúvida!

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Àquela remessa inicial com comentários, recortes de jornais, reproduções de quadrinhos, biografia de Hogarth e do

criador de Tarzan, Edgar Rice Burroughs, Martinez foi enviando cópia do material que havia acumulado em muitos e muitos anos de organizar o que era publicado sobre os desenhistas e autores de HQs, de gibis (comics ou tebeos) publicados na Espanha.

Super organizado, seus trabalhos estavam classificados por séries: Heróis, Desenhistas, Principais Gibis da Espanha, Desenhistas brasileiros, assim por diante.

Comecei por xerocar as painas dos volumes que me enviava. E logo passei a encadernar, obedecendo à separação/classificação de Martinez. Dei um nome genérico e abrangente para todo seu trabalho ”OS ARQUIVOS DE MARTINEZ DE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS”, com 32 volumes, classificados em cinco séries, conforme Martinez mesmo classificara e separara. Os volumes foram encadernados em brochuras, formato 30x21 cm. isto é, o formato A-4.

A oferta aos leitores foi feita através das páginas do nosso boletim mensal “Repórter HQ” e foram vendidos cerca de duzentos exemplares dos diferentes títulos.

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Com mais entusiasmo, Martinez afirmava:

“Atualmente, ao iniciar a década de 1990, temos uma verdadeira revolução na arte de ilustração. Coisas incríveis são feitas, lindas!... ao lado de algumas coias bem ruins!”.

No prefácio dos volumes dos “Arquivos de Martinez” ele escreveu:

“Ao leitor convém saber que a atividade de desenhista de quadrinhos é a mais difícil de todas as artes visuais: existem grandes artistas (pintores, desenhistas, etc.) que são incapazes de ilustrar histórias em quadrinhos."

“Através dos volumes dos ARQUIVOS DE MARTINEZ DE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS vocês, amigos leitores, desvendarão os segredos dos heróis e autores deste maravilhoso mundo dos quadrinhos”.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte, 21 de fevereiro de 2020.

Artigo classificado como “conto”

# 1145 da série INFINITAS HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 15/06/2020
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