Pedro de Araújo Lima, Marquês de Olinda

Nasceu em 22 de dezembro de 1793, no engenho Antas (então em Sirinhaém, atualmente no município de Gameleira), filho de Manuel Araújo Lima e D. Ana Teixeira Cavalcanti, descendentes dos primeiros colonos de Pernambuco.

Casou-se com Luiza Bernarda de Figueiredo em 1828, com quem teve dois filhos: Luiz Bambina de Araújo Lima e Pedro de Araújo Lima filho.

Tendo sido educado em sua casa em Olinda por tutores particulares, foi enviado em 1813 a Coimbra para estudar Direito, onde recebeu em 1817 o título de Bacharel, e em 1819 recebeu os títulos de Licenciado (15 de janeiro) e Doutor (17 de agosto) pela mesma Universidade. Nesse período, aprendeu as doutrinas do constitucionalismo moderno, e, aderente às ideias de monarquia constitucional parlamentar, tornou-se defensor da independência do Brasil.

Como esteve em Portugal durante a Revolução Pernambucana de 1817, não participou nesse movimento, e até hoje não se sabe exatamente sua opinião em relação a essa tentativa de independência.

Quando retornou ao Brasil, foi nomeado Ouvidor (juiz) de Paracatú (Minas Gerais), mas não assumiu esse cargo, porque logo foi eleito, em 1821, Deputado por Pernambuco nas Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa, assembleia destinada a elaborar uma Constituição escrita, monárquica e liberal para o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Atuou fortemente no combate ao projeto de transformar o Brasil novamente em colônia de Portugal.

Como em 1822 o Príncipe D. Pedro convocou uma Assembléia Geral, Constituinte e Legislativa para o Brasil, paralelamente às Cortes de Lisboa, estas desautorizaram o ato do Príncipe Regente do Brasil, e D. Pedro, então, proclamou a independência do Brasil.

Na viagem de volta para o Brasil, Pedro de Araújo Lima foi eleito para a Deputado de Pernambuco na Assembléia Geral, Constituinte e Legislativa do Império do Brasil em 1823, e fez parte da comissão que elaborou o Projeto de Constituição, aprovado pela Assembleia Constituinte, mas que foi rejeitado pelo Imperador.

Ainda como deputado geral, foi nomeado em 1823 pelo Imperador D. Pedro I como Ministro de Estado dos Negócios do Império e Administrador do Rio de Janeiro, mas exerceu o cargo por apenas três dias.

Em 1827 foi nomeado primeiro Diretor do Curso Jurídico de Olinda (primeiro curso jurídico do Brasil, junto com o de São Paulo), mas nunca chegou a exercer o cargo, pois foi eleito no mesmo ano como Presidente da Câmara dos Deputados.

Entre 1827 e 1828 exerceu a Presidência da Câmara dos Deputados e o atuou como Ministro de Estado dos Negócios do Império e Administrador do Rio de Janeiro.

Foi novamente Presidente da Câmara dos Deputados entre 1829-1830, em 1831 participou da fundação do Partido Conservador, e em 1832 foi Ministro de Estado dos Negócios da Justiça.

Durante o período da Regência (depois da abdicação do Imperador D. Pedro I), foi eleito pela terceira vez Presidente da Câmara dos Deputados em 1835, e permaneceu no cargo até 1837. Nesse ano foi eleito Senador pela Província de Pernambuco, e foi nomeado, também em 1837, Ministro da Justiça e Ministro de Estado dos Negócios do Império, ocupando interinamente a Regência (por causa da renúncia do Regente Feijó), sendo eleito definitivamente Regente do Império em 1838, que exerceu até 1840, quando foi antecipada a maioridade do Imperador D. Pedro II. Essa medida foi planejada pelo Partido Liberal para tirá-lo do poder.

Participou, no período em que exercia a Regência, como Sócio-fundador do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 1838.

Em 1841 foi agraciado com o título de Visconde de Olinda com grandeza - a partir daí passou a ser conhecido por ‘Olinda’, e em 1842 foi nomeado Conselheiro de Estado do Império.

Em 1847 foi criado o Conselho de Ministros, que seria chefiado pelo Presidente do Conselho. Entre 1848 e 1849, Olinda tornou-se Presidente do Conselho de Ministros e Ministro dos Negócios Estrangeiros e dos Negócios da Fazenda.

Em 1854 foi agraciado com o título de Marquês de Olinda.

Por outras três vezes foi nomeado pelo Imperador D. Pedro II como Presidente do Conselho de Ministros e Ministro de Estado dos Negócios do Império, exercendo o cargo entre 1857-1858 (novamente pelo Partido Conservador), 1862-1864 (pela Liga Progressista/Partido Liberal Progressista), 1865-1866 (pelo Partido Liberal).

Nesse último período, o Brasil encontrava-se num momento difícil da Guerra do Paraguai, e o Marquês de Olinda foi convocado pelo Imperador para assumir a chefia do governo, pois seria a única pessoa capaz de presidir um governo de união nacional, com a maturidade administrativa que o momento exigia.

Também foi nesse período que o Império do Brasil encerrou um dos mais delicados conflitos diplomáticos de sua história, a Questão Christie, em que se disputava um questão de responsabilidade civil contra o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, que foi resolvida em favor do Império do Brasil.

Pedro de Araújo Lima faleceu em 7 de junho de 1870, no Rio de Janeiro.

Foi agraciado com as seguintes condecorações: Oficial da Imperial Ordem do Cruzeiro; Oficial da Imperial Ordem da Rosa; Fidalgo Cavaleiro da Casa Imperial e Grande do Império; Grã-Cruz da Imperial Ordem de Cristo Hungria; Grã-Cruz da Ordem de Santo Estevão, Hungria; Grã-Cruz da Ordem da Legião de Honra, França; Itália Grã-Cruz da Ordem dos Santos Maurício e Lázaro, Itália; México Grã-Cruz da Ordem de N. S. de Guadalupe, México; Turquia Grã-Cruz da Ordem de Medjidié, Turquia.

Historiadores falam sobre Pedro de Araújo Lima

Costa Porto, em ‘O Marquês de Olinda e seu tempo’:

Sem procurar os primeiros planos ou os proscênios ruidosos, chamando a convergência dos olhares das plateias, agradavam-lhe a penumbra, as posições quietas e mansas, não andando atrás da glória e do comando, que, entretanto, o perseguiam. Não disputando postos e lideranças, preferindo figurar como “um, na multidão”, os cargos é que o procuravam e ele nunca os recusa, à base de cálculos, de fingida modéstia, abatendo-se para melhor sobressair, e daí porque nunca a ascensão lhe soava vitória, nem as quedas, derrota: na gangorra dos altos e baixos do jogo político, tudo se processa como retina, “ato indiferente”, com a mesma dimensão interior.

(...)

Ele tinha, em tudo, ideias próprias, sentimentos, ou antes, preconceitos que ninguém podia modificar. Da sua atuação de Regente, ficara-lhe o orgulho natural de ser o primeiro cidadão abaixo do Imperador, uma espécie de Vice-Imperador permanente e este orgulho tolhia-o de abdicar para homens que, quando ele já estava no fastígio, ainda não tinham entrado na política... (...)

A maior figura da política do tempo, o Vice-Rei, o que fora tudo, figurando no segundo lugar após o Monarca.

Luiz Delgado, em ‘Um Rei Constitucional’, capítulo de ‘Gestos e Vozes de Pernambuco’:

O que deixou na história foi o seu ser, firme e compacto como um bloco, e sua ação que era a relação concreta da personalidade reservada com a mutável conjuntura e com os indivíduos mais notáveis ainda. Quem quiser que o intérprete à vontade: ele está ali, firme e seguro.

(...)

Havia, sem dúvida, e funcionavam, no gênio de Pedro de Araújo Lima, aquelas qualidades que o fizeram ser apresentado como um bom projeto de rei constitucional: a vocação de árbitro isento, incontaminado pelas paixões que estivessem empolgando os outros. Havia nele também, no entanto, qualidades que se diriam antagônicas a essas outras, de iniciativa e responsabilidade no comando. Terá sido a composição entre elas que fez a sua força e, cumulativamente, o seu ministério. (...)

Talvez fosse mais justo e mais certo reconhecer nele, equilibradas, a clarividência e a energia. Uma levava-o a considerar objetivamente a realidade exterior, inclusive manifestando-se nas tendências e opiniões alheias; desde o começo, ele foi assim, desde as Cortes de Lisboa onde permaneceu até a conclusão final, vendo o rumo definitivo para escolher a própria posição. A outra suscitava-lhe o ânimo de, em face da realidade assim observada e medida, tirar uma conclusão e levá-la para a frente; aqui, a sua especialidade seria a de tirar do atoleiro carros que nele se tivessem metido.

(...)

São dois os adjetivos que cabem inexcedivelmente a Pedro de Araújo Lima, visconde e, depois, Marquês de Olinda. Assim está ele na história da Pátria – lúcido e completo.