só posso falar do que vivi

provavelmente é ou meu ego ou minha humildade que aqui escreve, tão certeira que se pode passar por arteira, mas aqui apenas digo o que sinto, só posso falar do que vivi.

é aquele, a maior bênção que poderíamos sentir em vida, o que nos traz mais perto da Verdade, e aqui ouso falar dela. frequentemente, inicialmente, é fogo em palha, queima brilhante e cheio de energia. quem conhece esse fogo o julga o mais quente de todos, mas não falo de sua ignição, falo do que sobra ao resto de tudo, de anos.

a brasa queima mais quente, e mesmo com vento se sustenta aquecida, queimando a rocha e quaisquer outrem que se julgar forte para enfrentar. o fogo queimando é como aqueles que precisam ver as estrelas para assim crêrem nelas, e se desesperam ao encontrar uma noite nublada. quem julga o vento um sinal, morre aos prantos ao não sentir uma unica brisa em sua pele.

quando sentir a brasa em seu peito, nao te preocupa mais, ela te manterá aquecido até esse corpo falecer e até depois disso, quando acordares de novo, é ela quem será tua força motriz. não é sobre o calor que sentiu, mas sim sobre o calor que ficou. a brasa fria é carvão, facilmente acesa.

enrolei tudo isso poeticamente (ou não) para dizer que tolamente conheço o Amor. não o apego, não, mas o Amor. Aquele que nos traz mais perto do que chamam de Deus, cujo gênero inexiste, e frequentemente se manifesta para quem quiser crer. digo, para quem tem fé. não precisamos ver as estrelas para saber que estão lá, mas é mais fácil. não precisamos sentir o vento, apenas precisamos respirar. estão lá, constantemente, presente. demorei muito para conseguir reconhecer o lugar da brasa, do amor. não precisa estar exposto, ele é sentido com a alma. nao sei explicar, só consigo sentir. e há muito tempo conheci esse cujo fogo da alma fez minha brasa queimar, mas incendiou o resto de mim, e isto foi de minha parte. agora restam brasas, bem cuidadas, bem aquecidas, dentro de mim.

assim eu canto, danço, pinto e desenho. não espero mais, livre de esperanças. não há o que esperar, apenas viver.

se nos encontrarmos de novo na traseira de um país nao sei da onde, fico feliz. se pudermos caminhar novamente falando línguas estrangeiras e não sabendo a música que o outro canto, fico feliz. se dançarmos novamente em uma cozinha, se eu fotografar a ti mais uma vez, ficarei feliz. mas caso nada disso aconteça, ficarei feliz. assim digo, sou feliz. me ensinou que a felicidade não é uma emoção, é um estado de ser. é saber respirar, saber caminhar. quando aprendemos, não há dor neste mundo que possa tirar isso.

as estrelas estão lá, sempre. durante todas as nossas vidas, continuarão lá. assim, sigo comendo brotos de alfafa.