ATRIZ ANTÔNIA MARZULLO 4
AMARRAÇÃO
PARA AMARRAÇÃO
Em 25.2.1940, pouco antes de viajar para as localidades de Luís Correia e Amarração, próximas a Parnaíba, Estado do Piauí, o futuro Guarda-Sanitário Maurício Marzullo, concursado, e Antonietta Saturno ficam noivos. O navio Pará, do Lloyd Brasileiro, que levaria Maurício para o nordeste, partiu em 9 de março daquele ano. O cunhado poeta, Nestor Tangerini, aproveita a deixa e escreve um soneto-trocadilho bem humorado:
PARA AMARRAÇÃO
Para Maurício e Netinha
Ficaste noivo, e ora vais
daqui para Amarração.
Seja um prenúncio dos tais
de trazer satisfação!
Que não demores demais
na cruel separação,
porque deixas, toda em ais,
quem te deu seu coração.
Que, em breve, da Amarração,
todo amor é devoção,
venhas em busca do cais
do porto de amarração
que te unirá – doce irmão –
à mulher dos teus ideais! (16)
O soneto só foi publicado no jornal ENTRE AMIGOS Especial – Para a eternidade – Nestor Tangerini, Editor Vilnei Kohls, Ano I – no. 3 – maio/junho de 1999, pág. 2 – Porto Alegre, RS.
SAUDADES DA CASA MATERNA
Inspirado em Luís Guimarães Júnior, poeta parnasiano carioca, autor do célebre soneto “Visita à Casa Paterna”, Maurício, distante, sente saudades da casa materna e de seus familiares.
Do Piauí, escreve longa missiva para sua mãe querida e amiga, Antônia Marzullo:
“Parnaíba, 26 de agosto de 1940
Querida mamãe:
A benção.
A desejar que a Sra. tenha feito uma ótima viagem, aqui estou eu, por meio desta carta, espiritualmente, já em Belém, aguardando-a, conforme espero, se o avião, portador desta, chegar primeiro do que o navio em que a sra. viaja... Caso contrário, daqui mesmo estarei a desejar-lhe a mesma coisa e mais ainda...
Mamãe, assim que cheguei aqui, encontrei três cartas, sendo uma do Nicola, outra da Netinha, que preferiu escrever-me para aqui e não para Teresina, e uma outra da Dinah, contendo apenas uma foto do Nirtinho, tirada no “Foto Belas Artes”, na rua da Carioca.
O garoto está mesmo uma verdadeira maravilha, um verdadeiro primor! Como dedicatória, o Tangerini fez os seguintes versos:
“Ao bom titio e padrinho,
que vive tão afastado,
a saudade do Nirtinho,
num longo beijo babado...
Longo beijo diluído,
como só ele é que dá;
tão babado e tão comprido,
que vai daqui até lá...”
Eu, por minha vez, ao enviar-lhes as fotografias, fiz o seguinte soneto, que escrevi nas costas daquela foto em que nos achamos abraçados:
Ao meu querido sobrinho,
e meu futuro afilhado,
o meu sincero abracinho,
igual ao fotografado...
Antes, porém, queridinho,
do ato ser consumado,
desejo dar-te um beijinho,
beijo grande e não babado...
Todavia, quero, apenas,
em breves linhas serenas,
contar-te uma coisa só:
- Nesse abraço também está
o que criou a Dinah:
todo o amor da tua avó...
Sabedor, por intermédio da Netinha, de que o Togo (17) havia morrido, prontifiquei-me a fazer ciente o Pêra e a Dinorah, de tal notícia, da seguinte maneira:
Embora não satisfaça,
esta notícia tão triste,
aqui digo e sem chalaça
no que tudo isso consiste:
Estando o Togo bem mal,
tu, com muito bom critério,
mandaste-o prum hospital,
ele foi pro cemitério...
Em resposta à carta que o Baía me escreveu, segue, junto à sua, uma outra para ele.
Encontrei-me aqui com aquela senhora que estava lá em Teresina. Trouxe-me notícias e lembranças suas.
Já espalhei por diversos estabelecimentos de negócios, inclusive lá no “Central”, aquelas cartolinas de reclame da cia..
Todos desejam saber quando a cia. virá. A ansiedade é crescente!
Todavia, olhando o palco, achei-o demasiadamente pequeno, com pouco espaço, sem conforto e, o que é pior, sem possuir camarins, apenas um pequeno quarto, que serve para os artistas se prepararem...
Estrelou aqui, no sábado último, uma companhia de revista, variedades e comédias, vinda do Ceará, composta por elementos nortistas, desconhecidos, portanto, e que, segundo consta, desagradou por completo.
Acho bom o Seu Iglésias procurar informar-se e saber das condições de conforto do “Éden”, o que poderá conseguir escrevendo diretamente ao seu Miguel, dono do mesmo. O palco do Éden é bem a metade do de Teresina, ou menor ainda:
Como vão o Rinauro e a esposa? A Lígia, senhora do Rinauro, é filha do meu colega Mário Bastos, escriturário daqui, o qual lhe pede para olhar pela mesma por ser uma moça inexperiente e por ser a primeira vez que se afasta de casa. Casaram-se antes de embarcar.
Bem, mamãe. Desejando que a senhora seja feliz na sua excursão, e que tenha sempre boa saúde, ao mesmo tempo que enviando abraços para todos em geral, pois não irei enumerar o nome de cada um de per si, por serem muitos, envio-lhe muitos beijos e abraços e um pedido de abênção, como ponto final a estas linhas.
Seu “filhinho”...
Maurício.
Na Quinta-feira vindoura, o Santiago completará 8 dias de casado: casou-se bem, mas se eu não lhe tivesse feito, em seu nome, uma carta em boas condições, ele ter-se-ia casado mesmo pela polícia, pois deu um passo em falso...
Felizmente, a moça havia sido sua namorada e era, se não me engano, uma menina direita.
O pior é que ele estava quase noivo de outra... Fiz-lhe um soneto, por causa disto, já que ele joga muito sinuca, com o seguinte título: “Sai dessa agora!...”.
A bênção,
Maurício”.
Nestor Tangerini queria que o padrinho do Nirton fosse o cunhado Maurício. Como o poeta estava no nordeste a trabalho, Tangerini mudou de ideia e convidou José Pinto da Costa, o Dindinho, companheiro de Antônia. José casou-se com ela em 1955, um ano após a morte de Emílio Marzullo, primeiro marido da atriz. Os padrinhos de casamento foram os atores Delorges Caminha e Bibi Ferreira.
Fragmento da Biografia da atriz Antônia Marzullo,
escrita por Nelson Marzullo Tangerini, seu neto.