Os Esquecidos de Porongos
Me alembro e ñ tenho sodade
Deste tempo que passô e que a
Memoria caborteira trás a tona
Essa póstuma lembrança.
Num tilintar de rosetas me
Espanto com um berro dado
em 35 quando se pronunciou
a Revolução num anuncio de Província
E segiu seu estouro em 36 num levante
Maior quando foi Decretado República .
Foram dez anos de peleia, traçados de
tempo, rastros de suor, sangue,
Gritos que ecoam por toda eternidade,
foram os Gritos de Liberdade.
E hoje no martírio deste meu calvário,
Sentado sobre a fria lápide que oculta
os relatos, me vejo em tristes fatos,
Que os reais traidores esconderam seus atos.
Até parece que foi onte, que chegaram numa marcha pesada e fria trazendo os escravos
Campeiros, alguns até domadores
lá do Alto da serra e também la das bandas do Herval.
Nos foi prometido a terra e a liberdade.
Seguimo na direção do norte rumo a
Pinheiro machado, decemo um topo de serra,
Subimo numa quinta depois de um córgo,
E se acampemo lá no arroio de Porongos.
A tropiada foi tranquila, nenhuma fagulha
Que despertasse o inesperado.
Até que o ponteiro solta uma de suas profecias.
"A PAZ SEM ARMAS É A CALMARIA NO PASTO QUE PRECEDE O ABATE"
Fiquemo martelando aquilo, e se rebatendo
Na preocupação mas seguimo a diante.
E foi neste fim de tarde do dia treze de novembro de quarenta e quatro onde cevei meu ultimo chimarrão.
Este amargo que me aliviava o cansaço e o coração.
Me trazia um alento sem saber que na madrugada ja do dia quatorze de quarenta e quatro ali no porongos, nós, os lanceiros negros em uma emboscada fomos todos mortos e massacrados.
Levo comigo calos, talhos e cicatrizes da
Epopéia horrenda da história.
Deixo no pé na bandeira o meu grito de
LIBERDADE
Deixo nesta terra o meu sangue,
E no tilintar das rosetas e de todos
Pialos e tombos,
Fui mais um esquecido
E Massacrado na fria peleia
No Arroio dos Porongos.
Flávio Alessandro