6 anos, 6 meses

O desejo de ser mãe

Sempre tive o desejo de ser mãe, quando eu era adolescente, dizia que ia me casar assim que terminasse o ensino médio, mas meu sonho não era casar e sim ser mãe, não só de um, mas de muitos, no mínimo uns três, sonhava em ter uma família grande.

Para resumir a história, isso não aconteceu e eu me casei em 2008 com 27 anos, só três anos depois, em 2011, resolvi engravidar, fui ao médico, ele me pediu alguns exames e falou para eu tomar ácido fólico, realizei os exames e estava tudo bem com minha saúde. Então foi só ficar aguardando a tão sonhada gravidez. Mas o tempo foi passando e eu não engravidava, todo mês eu vivia de expectativa e decepção. Retornei ao médico para falar sobre a demora, ele disse que eu deveria esperar um ano e somente depois desse período eu faria outros exames para ver se eu estava com algum problema.

Eu esperei... um ano depois fui realizar os tais exames e os resultados indicaram que estava tudo bem, que não tinha nada que me impedisse de engravidar, porém o médico disse que tinha mais um exame para eu fazer, só que esse era muito “desconfortável”:

- Pede para o seu marido fazer o espermograma primeiro, para ver se o problema não é com ele, porque esse exame que falta para você fazer é desconfortável! Depois, se estiver tudo bem com ele, você faz.

O médico deu uma guia para meu marido fazer o espermograma e chegando em casa eu expliquei para ele. Não me lembro o que conversamos, só sei que ele ficou de fazer o exame e nunca fez. Cobrei várias vezes e nada. Até que um dia eu resolvi voltar a tomar o anticoncepcional, porque eu sentia muitas dores no período menstrual e o remédio diminuía esses sintomas, mas meu sonho de ser mãe continuava.

Com o tempo eu tive alguns problemas no relacionamento com meu marido e em 2013 o casamento acabou.

Após a separação conheci meu marido atual e contei para ele sobre meu sonho de ser mãe e sobre a dificuldade para engravidar no primeiro casamento. Depois de um tempo nós fomos morar juntos e eu parei de tomar o anticoncepcional para tentar engravidar. Passei no médico e contei para ela que tentei engravidar durante dois anos e não consegui e perguntei se eu poderia fazer o tal “exame desconfortável”. Eu já tinha 33 anos, não queria esperar mais, mas mesmo assim a médica disse que como eu troquei de parceiro deveria esperar mais um ano.

Resolvi fazer jejum de ficar sem comer chocolate até conseguir engravidar e também não estava bebendo bebidas alcoólicas, depois de um tempo também prometi que não faria mais tatuagens se eu engravidasse.

Mais uma vez eu esperei durante um ano e, sem conseguir engravidar, retornei ao médico, ela então pediu o tal exame, chama-se Histerosalpingografia e realmente é muito desconfortável, doí muito, mas foi bem rápido.

Quando peguei o resultado não consegui entender direito, então preferi esperar para ver o que a médica iria dizer.

Sair do consultório com o diagnóstico de infertilidade foi uma das piores coisas que já me aconteceu nessa vida, meu sonho de ser mãe ficava cada vez mais distante. A médica me encaminhou para passar com médicos especialistas em “Reprodução Humana” e na guia estava escrito “infertilidade”, minhas trompas estavam entupidas, não tinha passagem até o ovário, eu só poderia engravidar era por meio da fertilização in vitro.

Apesar de toda tristeza com o diagnóstico de infertilidade o que me consolava era saber que eu ainda poderia engravidar, poderia demorar, eu sabia que o tratamento não era fácil, também tinha a questão financeira e o risco do procedimento não dar certo, mas havia uma chance de conseguir.

Decidimos fazer o procedimento, passei na reprodução humana e os médicos confirmaram o diagnóstico de infertilidade, comecei a fazer alguns exames, eram muitos e demorei um pouco para conseguir fazer todos. Fiz o último exame que faltava e fiquei aguardando o resultado para marcar o retorno.

Logo após esse último exame a minha menstruação atrasou, mas não dei muita importância, depois de 10 dias resolvi fazer um teste de farmácia. Não queria comprar o teste perto da minha casa e do trabalho, na época eu trabalhava perto de casa, peguei o ônibus e fui até uma farmácia mais distante, quando eu desci do ônibus tinha uma loja de roupas de bebê bem na frente do ponto, pensei em comprar um sapatinho para dar ao meu marido em caso de positivo, mas logo depois pensei:

- Para de sonhar, vai dar negativo, você não pode engravidar!

Fui até a farmácia e comprei dois testes, pensei em pegar uma chupeta, mas também desisti.

Voltei para casa ansiosa para fazer o teste, o porteiro ainda me parou e ficou conversando comigo por um tempo, e eu querendo fugir...

Cheguei em casa e fui logo fazer o teste...

O resultado deu positivo!

Ajoelhei na hora no chão, agradeci a Deus e a minha mãe Maria, não conseguia acreditar, estava grávida! Meu sonho finalmente se concretizou, fiz o outro teste... positivo... não estava acreditando, a felicidade era muito grande. Pensei em esperar até o outro dia para contar ao meu marido, assim eu poderia comprar o sapatinho ou a chupeta e fazer algo diferente, mas não consegui esperar, escrevi “oi papai” na barriga como lápis de olho, desenhei um coração e esperei ele chegar.

Assim que ele chegou eu já mostrei a barriga! Acho que a ficha dele não caiu direito, ele ficou meio sem reação, a minha também não tinha caído, eu só ia ficar tranquila após fazer um ultrassom, como eu tinha aquele diagnóstico das trompas entupidas meu medo era de ser uma gravidez ectópica, quando o bebê é gerado nas trompas.

Fiz o primeiro ultrassom e estava tudo perfeito, foi emocionante ouvir o coração dela pela primeira vez, falei com Deus: “Que esse coração continue batendo por muitos e muitos anos”, depois disso foi só alegria, a gestação da Helena foi bem tranquila, não tive enjoos, nos exames estava sempre tudo bem, fiquei com uma barriga enorme e linda! Curti muito a gravidez, foi uma época muito boa, tranquila e feliz.

O parto

Já estava próximo da data prevista para a chegada da Helena e o único problema era que ela continuava sentada, o médico do pré-natal disse para eu esperar começar sentir as contrações, pois ela poderia virar quando começasse o trabalho de parto e que se ela continuasse sentada eu teria que fazer uma cesariana. Depois disso, eu resolvi fazer um ultrassom por conta própria, a médica que fez o exame disse que o bebê estava muito grande e que provavelmente não ia virar mais, fiquei preocupada e no outro dia fui à maternidade verificar a possibilidade de fazer cesariana, já que a Helena permanecia sentada.

Após alguns exames a médica da maternidade resolveu agendar o parto para o dia seguinte, pediu para eu chegar bem cedo e em jejum.

A emoção era grande, a Helena estava chegando, não consegui dormir direito naquela noite, logo cedo fomos à maternidade. Achei que ia chegar lá e ir direto para a sala de parto, mas levei o maior chá de cadeira, quando me levaram para a sala de parto, me explicaram que tiveram que atender uma emergência.

Meu único medo nesse momento era tomar a anestesia, mas foi bem tranquilo, não senti nada! Meu marido assistiu o parto, quando eu achei que iriam começar a cortar minha barriga ela já estava quase saindo, a médica disse:

- Olha a bunda! (quando um bebê pélvico nasce a primeira coisa que saí é o bumbum) - e logo ouvi um choro.

Perguntei para meu marido se ela estava bem e ele disse que sim! Fizeram os procedimentos necessários e a levaram ela até mim. Felicidade que não dá para explicar, minha filha estava ali. Meu presente de Deus.

Disseram que a Helena ia para o berçário acompanhada do pai e que iriam fechar meu corte, vi os dois saindo da sala e fiquei esperando, achei que estava demorando muito e perguntei se estava tudo bem.

- Você estava com um mioma muito grande enraizado na trompa, a gente precisou retirar a trompa, mas você está sangrando muito, não estamos conseguindo conter o sangramento.

Bom, foi mais ou menos isso, pois não me lembro direito.

Fiz alguns questionamentos, afinal esse mioma nunca apareceu nos exames que fiz, tanto antes como durante a gravidez, a médica respondeu que como estava na trompa é difícil ver nos exames, que ele dever ter crescido com a gravidez e que nos ultrassons o bebê deve ter ficado na frente e por isso não apareceu.

Fiquei nervosa, comecei a sentir falta de ar, frio e tremer, a médica pedia para o anestesista colocar vários medicamentos no soro e falava:

- Já colocou? Não está adiantando, coloca mais…

E o anestesista pedia para eu ficar calma, um pouco depois ele olhou para mim e disse:

- Pronto! Já está terminando… Já está fechando…

Respirei aliviada, a doutora disse que manteve o ovário e que eu talvez precisasse receber transfusão de sangue, mas não precisou.

Acredito que o fato da Helena ficar sentada e eu precisar fazer cesariana estavam nos planos de Deus, pois assim já retirei o mioma, depois que fizeram a biopsia foi diagnosticado endometriose e agora estou fazendo acompanhamento.

Fora esse problema por causa do mioma o pós-parto foi tranquilo, me senti um pouco mal após o banho e muitas dores devido à cirurgia, mas nada que fosse além do esperado, fiquei dois dias no hospital. Um fato interessante é que eu fiquei no mesmo quarto que a esposa de um amigo, que trabalha comigo na escola, o parto dela foi normal e era o terceiro filho, então ela me ajudou muito com a Helena, até trocou a ela para mim no dia da alta. No quarto ao lado do meu também estava uma amiga que ganhou bebê um dia depois. Um pouco antes da alta uma médica pediatra foi olhar a Helena e disse que ela estava um pouco amarela, pediu exame de sangue para ver se ela ia precisar ir para o banho de luz, eu já não aguentava mais ficar no hospital, queria ir para casa, então fiz promessa que se o exame desse negativo ficaria sem beber bebida alcoólica até a Helena completar um ano de idade, deu certo, o resultado foi negativo e tive alta, achei que só iam me liberar para ir embora no outro dia, pois já era noite, mas como precisavam do leito me liberaram, acho que quando fui para casa já eram mais de dez da noite e estava muito frio. Chegar em casa com a Helena nos braços foi um momento de muita emoção e depois do nascimento dela meus dias são mais felizes.

A displasia

Assim que descobri que estava grávida li muito sobre o assunto e usava três aplicativos de acompanhamento da gravidez. No final da gravidez, quando descobri que ela ainda estava sentada, também li muito sobre o assunto e nunca vi nem ouvi falar sobre “displasia do quadril”.

No dia em que a Helena nasceu, um pouco antes do parto, me disseram que como ela estava sentada seria necessário fazer um exame nas perninhas assim que ela nascesse. Não sei o porquê, mas não fiquei muito preocupada, achei que era algo simples, de tratamento fácil.

No dia seguinte do parto, uma médica foi ao quarto que eu estava e examinou a Helena, mexeu nas perninhas dela e disse que estava tudo bem, mas que eu teria que passar com o ortopedista para confirmar. Agendamos a consulta para o mês seguinte, pois eu não sabia, nem fui informada que se a Helena tivesse displasia o tratamento teria que começar o mais rápido possível para ter um resultado melhor.

Na consulta a Helena foi examinada novamente e os médicos disseram que ela não tinha nada. Esse exame chama "Manobra de Ortolani", os médicos movimentam a perna, tentando ouvir um estalo que indica que o bebê tem displasia do quadril. Mesmo com o resultado da manobra negativo os médicos pediram para fazer um ultrassom do quadril para ter certeza e descartar a possibilidade da Helena precisar fazer tratamento.

Agendamos o exame em um laboratório em Osasco e no dia do exame a médica já me disse que a Helena estava bem, que não tinha nada, ela me disse que o quadril direito ainda não estava totalmente maduro (que é quando o fêmur está encaixado corretamente no quadril), mas que isso era porque a Helena ainda era muito nova e que com o tempo ficaria normal. Fiquei tranquila, e com a informação de que a Helena não tinha nada e agendei o retorno no ortopedista sem muita pressa, pois seria apenas para receber a alta.

No retorno ao ortopedista o médico disse que não gostou muito da qualidade do exame e do diagnóstico dado, disse que realmente o quadril pode encaixar sozinho, mas que a Helena já estava com quase três meses e que era melhor ela tratar. Pediu para a gente fazer outra ultrassom com uma doutora especialista em displasia do quadril chamada Geovanna, passou a receita de um aparelho ortopédico chamado "Suspensório Pavlik”.

- Dependendo do que a Dra. Geovanna falar, vocês já compram o suspensório para a gente colocar na próxima consulta.

Só depois dessa consulta que eu comecei a pesquisar sobre o assunto, pois até então eu estava certa que a Helena não tinha nada, os médicos nunca me explicaram direito e foi um susto descobrir que era algo tão grave. Se tratado desde o nascimento o resultado com o uso do suspensório é ótimo, mas se demorar para começar o tratamento a criança pode precisar fazer cirurgia e ficar com as duas pernas engessadas. Descobri também que fazer "charutinho" como o bebê e colocá-los para dormir de lado pode causar a displasia e eu fazia essas duas coisas com a com a Helena.

A Helena já tinha quase três meses, então comecei uma corrida contra o tempo. Eu não consegui agendar com a Dra. Geovanna pelo convênio, então marcamos o exame no particular, mesmo assim precisei esperar um pouco, pois ela estava participando de congresso fora de São Paulo.

No dia do exame ela perguntou por que eu demorei tanto para fazer o ultrassom, contei toda história, mas me senti muito mal, pois pela maneira como ela falou, parecia que a culpa era minha, como se eu não me importasse. Primeiro ela fez a ultrassom no quadril esquerdo. Estava tudo bem! Um alívio! Mas no direito ela disse que estava com displasia sim.

- Só um pouquinho... - eu disse.

- Não, bastante! (a displasia do quadril tem vário graus, o da Helena era IIIa, um grau abaixo do mais alto).

A doutora continuou...

- Com qual médico você está passando?

Ela conhecia a doutora que coordenava a equipe de médicos que acompanhava a Helena e disse que por ela ser uma ótima médica conseguiria tratar a Helena com o suspensório e ter um bom resultado sem precisar usar gesso.

Eu saí do laboratório muito preocupada, com medo do suspensório não resolver e cheia de dúvidas na cabeça. No caminho para casa, já passamos em uma loja de produtos ortopédicos para comprar o suspensório, precisou colocar nela para verificar se o tamanho estava certo, a Helena ficou quietinha enquanto o técnico colocava, em nenhum momento ela chorou, o suspensório ficou bom, era tamanho médio.

A Helena tinha feito o ultrassom na sexta-feira e no sábado eu agendei uma consulta particular com um ortopedista especialista em displasia do quadril para ter uma segunda opinião, foi tanto vai e vem, tem e não tem que achei melhor fazer isso. Diferente dos outros médicos, que no exame físico disseram que a Helena não tinha nada, este já me mostrou que havia diferença nas dobrinhas da coxa da Helena, no lado esquerdo, (que não tinha displasia) ao abrir as pernas, as dobrinhas sumiam, do lado direito, (que tinha displasia) as dobrinhas continuavam lá, porque a perna não abria muito. Ele olhou os exames e disse que realmente o primeiro ultrassom não estava bom e confirmou o diagnóstico de displasia.

Na segunda-feira passamos no ortopedista para ele colocar o suspensório e nos explicar como usá-lo. Antes eu também li muito sobre o assunto e vi alguns vídeos ensinando como trocar a fralda sem tirar o suspensório. Eu fiquei muito chateada porque com o suspensório a Helena não ia poder usar muitas das roupinhas que eu tinha comprado ou ganhado. O médico colocou o suspensório nela por cima do boby e da calça, questionei que eu teria que tirar o suspensório para trocar a fralda e ele disse que não tinha problema, ele também não me disse nada em relação ao banho e também não passou muitas informações ou orientações.

Voltei para casa até um pouco mais aliviada, pois percebi que ainda ia poder usar algumas roupas e trocá-la normalmente. Nesse dia a Helena chorou muito, desde a hora que colocou o suspensório, por volta das dez horas da manhã até às duas da tarde, depois acho que acabou se acostumando e ficou mais calma. No dia seguinte percebi que o suspensório estava machucando o pescoço dela, fui pesquisar na internet e estavam sugerindo usar boby com gola pólo. Foi difícil encontrar, como na época estava frio tinha que ser um boby com mangas longas, então era mais difícil ainda.

Quando a Helena colocou o suspensório eu comecei a fazer jejum de chocolate, não iria comer nada de chocolate até a Helena ter alta do tratamento. Eu já tinha feito a promessa de ficar sem beber nada alcoólico até ela completar um ano de idade, então eu aumentei o período para até dois anos de idade, eu também rezava o terço pedindo a cura dela.

Quinze dias depois, a Helena fez outra ultrassom e no dia do retorno ao ortopedista ela precisou tirar raio x. Os médicos disseram que a Helena não melhorou nada nessas duas semanas usando o suspensório e foi somente nessa consulta que eles chamaram a doutora Mônica para analisar o caso. Ela me deu uma bronca, como se eu tivesse culpa da Helena não ter melhorado:

- Mãe, a sua bebezinha é um bebezão, ela é muito grande, a gente tem que correr para dar tempo de curar com suspensório, senão vai ter que fazer cirurgia e colocar gesso! Isso não é legal! Tem que tomar anestesia geral! Isso não é bom para o bebê!

Foi falando e mexendo na Helena e no suspensório, tirou a calça, deixou só com o boby, abriu mais as pernas dela e deixou o suspensório mais apertado.

- Você compra um alfinete, desses de fralda e prende a tiras, não é para tirar o suspensório para nada! Nem para dar banho! É como se fosse um gesso! Ela não pode mexer as pernas!

Chorei lá na sala mesmo, na frente dos médicos. Principalmente por causa do banho. A Helena adorava a hora do banho. Chorei também por causa das roupinhas que eu não ia mais poder usar, não dava para usar macacão, calça e alguns vestidos, era praticamente só o boby de gola pólo!

Realmente não usei várias roupas e sapatinhos. Por egoísmo meu, eu pensava muito nas roupas, no lugar de pensar na cura, até o dia em que uma amiga me disse:

- Para de pensar nas roupinhas, é uma fase, depois você terá muito tempo para usar a roupa que quiser nela.

Essa frase abriu meus olhos, e eu parei de sofrer por isso.

Nesse dia a Helena também chorou muito, as pernas ficaram bem abertas e eu não conseguia segurar ela no colo direito, era difícil para amamentar, fazer dormir, trocar a fralda, enfim, tudo era mais difícil! Mas com o tempo eu fui me acostumando com a nova situação. Na época era inverno e estava bem frio, então isso foi bom, porque a Helena não podia tomar banho. Eu passava um pano úmido nela e para fazer isso era um pouco difícil, porque não podia tirar o suspensório. Para proteger as pernas do frio eu cortei algumas calças ao meio, vestia a partes separadas e prendia no bumbum com fita crepe, cortei alguns bobys também que usava por cima do suspensório e do outro boby pólo, isso protegia para o suspensório não sujar.

Algumas vezes a fralda vazou e precisei tirar o suspensório para limpar, enquanto eu lavava o suspensório, meu marido segurava as pernas da Helena para ela não mexer, eu tinha que lavar e secar com o secador de cabelo, bem rápido para colocar novamente, depois resolvemos comprar mais um suspensório para usar nesses casos, mas não era recomendável ficar tirando o suspensório, por isso a Helena ficava vários dias com o mesmo boby por baixo do suspensório, sem poder trocar, quando o boby ficava muito sujo, meu marido segurava as pernas dela também, e eu fazia a troca, às vezes era tranquilo, outras vezes era bem difícil, principalmente quando ela estava maior e ficava agitada ou chorando.

Depois de três semanas retornamos ao médico e a Helena estava bem melhor, valeu a pena tudo que passamos nesse período. Fiquei na expectativa da doutora liberar o banho, mas não, era para continuar mantendo o suspensório vinte e quatro horas por dia.

Assim a Helena ficou seis semanas usando o suspensório sem tirar para nada e sem tomar banho. Depois disso a médica liberou para dar um banho bem rápido e colocá-lo novamente. Mas resolvi não dar banho todos os dias, quando estava mais frio eu dava um banho por semana e quando estava mais quente eu dava dois. Mas eu trocava o boby de baixo com mais frequência, com meu marido segurando as pernas. O tempo estava ficando bem mais quente, então comprei alguns boby pólo de manga curta e cortei as mangas daqueles que eu já tinha. No calor foi mais difícil usar o suspensório, por que a Helena ficava muito vermelha nas dobrinhas e no pescoço, dava vontade de passar pomada nela inteira.

Depois que a Doutora liberou o banho, eu fiquei na expectativa da Helena ficar curada e parar de usar o suspensório, mas nas consultas a ortopedista sempre pedia para manter. Eu tinha muito medo do suspensório não resolver o problema e dela precisar usar gesso.

Durante o tratamento da displasia a Helena precisava passar no ortopedista mais ou menos a cada três semanas, antes de cada consulta ela fazia um ultrassom com a doutora Geovanna, (esse exame não era feito pelo convênio e nem no particular, descobrimos que a doutora Geovanna atendia em uma escola de ultrassom e a gente fazia os exames lá), e no dia da consulta ela tirava um raio-x.

Nesse período aconteceram três fatos que vou comentar agora: Em uma das consultas a Doutora Mônica estava de férias, o médico que estava no lugar dela examinou a Helena e disse para ela retornar só depois de um mês, eu questionei que ela estava passando a cada três semanas, ele respondeu que não tinha necessidade dela voltar antes e ainda acrescentou que provavelmente o suspensório não ia resolver no caso dela e que era melhor eu fazer a cirurgia dela logo. Eu esperei ele sair da sala e implorei para os outros médicos marcarem a consulta para três semanas depois, pois conforme a Helena vai crescendo precisa ajustar o suspensório e eu queria passar com doutora Mônica, e eles aceitaram. Depois que isso aconteceu eu ficava morrendo de medo de passar com aquele médico novamente... O segundo fato aconteceu em uma consulta que a Doutora Mônica não pode acompanhar, pois estava fazendo uma cirurgia, nesse dia os médicos deram alta para Helena, mas eu queria que isso fosse feito por ela. Então eu fiquei esperando no Hospital até a Doutora terminar a cirurgia e conseguir falar com ela e consegui. Ela olhou os exames, examinou a Helena e disse para continuar usando o suspensório por mais um tempo. Apesar querer muito que a Helena parasse de usar o suspensório eu tinha medo dela não ficar totalmente curada e ter problemas no futuro, pois muitas pessoas que não trataram a displasia relatam que sentem muitas dores na idade adulta. O terceiro fato aconteceu em uma das consultas para fazer o ultrasson, a doutora perguntou se eu estava tirando o suspensório para trocar a Helena, eu respondi que não e ela disse:

- Mas eu vi que ela estava usando calça!

Expliquei que eram calças que eu cortei ao meio e usava prendendo no bumbum com fita crepe, peguei os dois pedaços da calça que estavam em cima da maca e mostrei para ela, que olhou e não disse nada. Isso me deixou chateada, mas logo passou.

A Helena estava com quase nove meses, era dezembro, ela fez uma ultrassom na sexta-feira e a consulta de retorno no ortopedista estava agendada só para janeiro, ela estava se movimentando muito e tentava tirar o suspensório. Eu tinha que prender as tiras com fita crepe para ela não tirar e também dava mais trabalho na hora de colocar o suspensório novamente depois do banho. Resolvemos ir até o hospital na segunda-feira, sem ter consulta agendada. Como ela já tinha feito a ultrassom, pensei em tentar conversar com a ortopedista, eu não queria esperar até janeiro.

Levei até uma roupinha para colocar nela, dessas que não dava para usar com o suspensório. Depois que a Helena começou a usar o suspensório eu só tirava fotos dela da cintura para cima ou colocava um cobertor cobrindo as pernas, depois de um tempo ela começou a se sentar mesmo usando o suspensório, então em algumas fotos dá para ver ela usando.

No hospital a doutora me recebeu super bem e mesmo sem ter a consulta agendada pediram para tirar um raio-x, depois no consultório os médicos olharam o exame de ultrassom, o raio-x e fizeram o exame físico, a Doutora Mônica acompanhou tudo:

- Pode tirar mãe! Parabéns! O sacrifício valeu a pena! Presente de Natal!

- Posso tirar agora? Já? - perguntei isso porque já tinha visto que em alguns casos o médico pede para fazer o "desmame" do suspensório, ou seja, diminuir o tempo diário de uso, até parar de usar. Mas no caso da Helena não precisou.

- Pode sim!

A felicidade não cabia no meu peito! Parecia um sonho, ver a Helena com as pernas livres. Voltei para casa mais feliz do que no dia que a Helena nasceu. Foram seis meses usando o suspensório, seis meses em que tentei ser forte, mas também chorei muito sem ninguém ver, seis meses com dias mais tranquilos e outros mais difíceis, de muito jejum e oração, mas finalmente tudo tinha acabado, a Helena estava curda!

Nesse período eu recebi o apoio e carinho de muitos amigos e familiares, pessoas que me deram força e me ajudaram muito a passar por essa fase.

No primeiro dia sem suspensório a Helena estranhou e ficou chorando, mas logo se acostumou a ficar sem ele, pouco tempo depois ela já estava engatinhando. Precisou passar em algumas consultas de acompanhamento depois, mas graças a Deus estava sempre tudo bem. Começou a andar com um ano e um mês, quando uma criança diagnosticada com displasia começa a andar, a alegria é em dobro.

O primeiro passeio da Helena sem o suspensório foi para a igreja de São Judas Tadeu, lá conversamos com o padre que a abençoou e assistimos a missa, no meio da celebração ele também nos chamou e fizemos um testemunho. Depois, em janeiro, fomos ao Santuário de Aparecida para agradecer pela cura, levamos o suspensório (promessa da minha mãe) e um desenho da Helena que meu marido fez em agradecimento.

O lado bom dessa história foi que, por causa da displasia, eu peguei uma "licença família" e só voltei a trabalhar quando a Helena já tinha mais de um ano de idade, com isso eu pude aproveitar mais o tempo ao lado dela. Eu sou professora e trabalho em duas escolas, para acompanhar o crescimento dela mais de perto, quando eu voltei a trabalhar, também solicitei uma "licença não remunerada" em uma das escolas.

Hoje a Helena já está correndo e pulando e se desenvolvendo muito bem, e só tenho que agradecer, agradeço por ela ter nascido com um probleminha que tinha cura, agradeço por cada banho que posso dar nela, por cada fralda que posso trocar sem se preocupar em sujar o suspensório, pelas roupas que posso colocar nela sem restrições e por ela andar normalmente. Qualquer tarefa que parece ser simples se torna mais difícil quando a criança tem restrições, mas Deus vai nos dando forças para seguir em frente e os momentos felizes ao lado de nossos filhos é o mais importante.

Resolvi escrever esse relato para contar um pouco sobre os milagres de Deus na minha vida e a importância da fé, do jejum e da oração. Hoje a Helena está aqui, após um diagnóstico de infertilidade, sem eu precisar fazer tratamento. Está curada da displasia mesmo com o diagnóstico tardio e sem necessidade de intervenção cirúrgica e uso do gesso. Escrevi também para falar um pouco sobre o que é a Displasia do Quadril, pois muitas pessoas não tem o conhecimento sobre esse assunto. Quando eu contava para as pessoas que a Helena tinha displasia, elas tentavam me confortar, dizendo que era uma coisa simples, mas não era. Muitas pessoas também me perguntavam o que a Helena tinha ao vê-la usando o suspensório, achavam que era alguma coisa que tinha acontecido no parto. Há relatos de mães que o bebê precisou usar gesso e as pessoas perguntam se a criança caiu e como que se machucou... Se você tiver um tempinho, pesquise um pouco sobre o assunto, assim você entenderá melhor sobre o que eu estou falado.

O título desse texto é "6 anos, 6 meses", porque esse foi o tempo cronológico desse relato, do dia em que comecei a tentar engravidar até o nascimento da Helena foram seis anos e o tempo que a Helena ficou usando o suspensório para tratar a displasia foi seis meses.

Depois da cura da displasia a Helena foi diagnosticada com Dermatite atópica e de contato, que requer muitos cuidados e acompanhamento médico com o alergista, ela sempre ficava vermelha no pescoço, nas dobrinhas e se coçava muito, quando ela nasceu as pessoas falavam que isso era normal em recém-nascidos, depois achei que era por causa do uso suspensório, mas ela teve alta do tratamento e não melhorou, só depois de passar em vários dermatologistas e no alergista foi diagnosticada a Dermatite atópica e depois a Dermatite de contato, então ela tem algumas restrições, mas não vou entrar em detalhes sobre isso aqui, estamos tratando e ela está muito bem, é uma menina muito inteligente, amorosa e saudável.

Lembre-se sempre que para Deus nada é impossível, basta ter fé.

Cláudia Moreira
Enviado por Cláudia Moreira em 26/05/2020
Reeditado em 31/05/2020
Código do texto: T6958330
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.