Edith Costa Brando

Edith Costa Brando – 01/01/1950.

Vamos viajar no tempo, e conhecer a vida de uma menina, que aos 11 anos de idade, deixa a família, no Jordão (Governador Celso Ramos), e vai trabalhar de babá para ajudar a construir a casa de sua mãe.

Texto: Professor Miguel João Simão

Escritor e Pesquisador.

A comunidade de Jordão, em Governador Celso Ramos, nas décadas passadas era uma das mais pobres da região, por oferecer pouca oportunidade de trabalho e mão de obra muito barata.

As famílias, que lá permaneceram nas décadas dos anos de 1940, 50 e 60, se dedicavam a plantação de mandioca, ao corte de lenhas e poucas árvores para o beneficiamento da madeira. Os poucos moradores que dispunham de um poder aquisitivo maior, tinham famílias grandes, e o trabalho ficava entre os familiares, tendo poucas vagas de trabalho a oferecer.

Vírgínia Marcelina da Costa foi uma mulher simples que ali viveu. Em seu primeiro casamento com Joel Costa, teve seis filhos: Júlio, Jessé, Júlia, Jacó, Judith e Joel filho.

Foi uma época difícil para criar os filhos, mas Virgínia trabalhava muito nos engenhos, e nas roças dos outros. Um dia era no engenho fazendo farinha, em outro ajudava nas roças, e assim colocava comida em casa junto com o esposo que não tinha emprego fixo.

Com o falecimento de Joel, Virgínia casou com Custódio Manoel da Costa. Desse casamento tiveram 3 filhos: Eni, Euclides e Edith.

Se a vida foi dura antes, com esses filhos todos, se tornou mais sofrida ainda.

Pouca oferta de trabalho, e pouca comida em casa. Depois, os filhos cresciam, e saiam em busca de trabalho fora.

No ano de 1950, nasce Edith, a última filha de Virginia, a caçula da família.

Edith, nasceu e viveu até os 11 anos de idade numa pequena casa de madeira, sem assoalho, e suas paredes tinham frestas por onde passavam o frio de inverno.

Ela nos conta que era muito frio, muita pobreza.

“nós morava em uma casa de chão sem assoalho, camas feitas de tábuas e pregos, com colchões de palha de milho. As paredes não tinha sarrafos, as fendas passava chuva e frio”.

Esse relato mostra dias difíceis vividos por Edith, que estudou até o segundo ano primário, e logo foi trabalhar na roça e no crivo para ajudar em casa.

Edith via o pai sem trabalho, e a mãe trabalhando demais. Além do trabalho para sustentar os filhos, Virgínia, era parteira e fazia remédio homeopático, funções que fazia de forma voluntária para ajudar as pessoas da região, que na sua maioria, ainda necessitavam mais de apoio do que ela.

Edith, mesmo sendo uma criança se via na obrigação de ajudar a mãe Virgínia.

“ Eu, ajudava fazendo crivo com dona Maria Silva, nossa vizinha no Jordão. Também ajudava a cuidar de bebês, enquanto as mães iam lavar roupas na cachoeira, e quando não tinha crivo, eu ia com meu irmão Eni, escolher folhas de fumo para o tio Abrão, que tinha plantio e estufa de fumo. Também junto com meu irmão Eni, debulhei milho no senhor Henrique Silva, eram tarefas que eu fazia para ajudar, e para não ficar em casa sozinha. Esses trabalhos, eu fiz até aos onze anos de idade”

Foi aos 11 anos de idade, que a vida da pequena Edith e de sua mãe, passa pela maior transformação, uma mudança importante na vida das duas.

Inesperadamente, num dia, uma casal passa pelo Jordão em busca de uma babá para cuidar de suas filhas, duas meninas.

Edith lembra bem desse dia e comenta:

“Foi quando, num belo dia, apareceu um casal com duas meninas gêmeas, de um ano e meio de idade. Eram de Florianópolis, procurando por uma menina para ser babá. E as pessoas ali (Jordão), sabiam que eu queria ir trabalhar para ajudar minha mãe. Indicaram, e acertamos tudo. E lá fui eu para Florianópolis, no bairro Agronômica cuidar das meninas. Os nomes eu não lembro, mas a única referência que tenho deles, é que o marido, e pai das meninas, era filho do dona da loja “A Capital”, que ficava na esquina da rua Trajano, com a rua Conselheiro Mafra".

Vírginia, viu a filha embarcar no carro da família, e as lágrimas caem ao rosto sofrido da velha senhora, que colocou nas Mãos de Deus, a vida de sua pequena amiga, filha amada e sua ajudante.

À noite, a luz de querosene esfumaça as telhas de calhas que cobrem o velho casebre, sem assoalho e sem forro. E sentada na cadeira de palha, diante do bastidor de crivos, Virginia chora ao lembrar-se da pequena.

- o que estará fazendo a essas horas, minha pequena Edith? – será que já dormiu? – será que comeu alguma coisa?

Em casa do casal, na Agronômica, Edith chora ao lembrar da mãe. Mas para a menina, tudo era novidade, cidade grande, casa bonita, bastante comida.

Assim, Edith foi conhecendo a vida, foi ficando esperta, e uma vez ao mês vinha ver a mãe, trazendo a ela presentes e mimos. Antes, a pobre Virgínia nunca havia ganhado nada de ninguém.

Tempos depois, Edith passa a trabalhar na casa de Celso Ramos Filho. Foi aí, que o Engenheiro Celso Ramos Filho, sabendo que a mãe de Edith, não era aposentada, e dependia da ajuda da filha para sobreviver, resolveu ajudar a aposentá-la, fazendo juntada de documentos e entrando com processo de aposentadoria no INSS (Instituto Nacional de Seguro Social).

Com expressão de alegria, Edith comenta sobre a aposentadoria de sua mãe: “Dr. Celso, conhecendo minha mãe, e o que ela fazia com tanto empenho e carinho, buscou ver os documentos que minha mãe tinha no Departamento de Saúde Pública, como parteira, onde ela registrava as crianças que nasciam em casa. Ai conseguiu aposentá-la. Isso que ele fez, foi muito bom para todos nós. Sou grata até hoje ao Dr. Celso, e a toda sua família, que sempre me trataram bem”

Edith não tinha folgas semanais nesses empregos, apenas um final de semana era lhes dado para vir em casa.

Mas, foi nessa dureza que a vida lhe impôs, que ela conseguiu ajudar sua mãe construir a casinha tão sonhada. E depois que Virgínia se aposentou, outras reformas foram feitas.

Alegre ela diz: Com o dinheiro que eu ganhava, nós fizemos a primeira casa. A cozinha ficou de chão batido, mas para dentro, tinha sala e dois quartos, e sarrafos nas fendas. A casa passou a ser quentinha. E quando aconteceu a aposentadoria de minha mãe, ela começou a comprar os móveis. Assim, nossa vida começou a melhorar. Minha mãe podia ter uma vida mais agradável, pois foi para isso que eu fui trabalhar, para dar um conforto para ela que sofria muito, porque não podia cobrar pelo trabalho de parto, e de homeopatia que ministrava. O que ganhava com os outros serviços não dava para nada. Por fim, ela também botou assoalho na cozinha, desmanchou o fogão a lenha, e comprou um fogão a gás”.

Assim, Edith foi trabalhando. Uma vez em Florianópolis, outra em Biguaçu, depois em Tijucas, até conhecer seu futuro esposo.

Nilton Otávio Brando e Edith namoraram e casaram. Moraram em Curitiba por três anos. O casal teve três filhos: Aldo José, Elizabeth e o caçula Silvano, que chegou 9 anos depois do segundo filho.

De Curitiba, retornaram para Tijucas, onde residiram por 19 anos, se mudando depois para Porto Belo, onde atualmente Edith reside.

Quando tudo parecia tranquilo na vida de Edith, cai sobre a família a dor da perda da filha, que em 2011 perde a luta para um câncer.

Edith fica sem chão, começa a se recuperar da tristeza, da depressão, que lhe tomou conta. Mais outra perda já estava a caminho, o esposo também não resistiu à luta contra o câncer, e faleceu em 2013.

Não havia se recuperado da tristeza que tomou sua vida, e da depressão, e em dois anos mais essa derrota.

A mulher de luta, temente a Deus, tenta a cada dia se reestruturar, para vencer os obstáculos que vão surgindo em sua vida.

Um dia, quando pensou que tudo já estava perdido, encontrou com uma amiga, pessoa que ela guarda dentro do coração, e diz ter muita gratidão.

Neide Maria Reis, que na época trabalhava no NAES em Tijucas, (Núcleo Avançado e Ensino Supletivo), convenceu Edith de voltar aos estudos. Neide viu que dessa forma podia ajudá-la, e assim Edith retornou aos bancos escolares.

Ela completou o Ensino Fundamental, o Ensino Médio, e prestou exame ao ENEM ( Exame Nacional do Ensino Médio), sendo aprovada, estando cursando licenciatura em Letras.

A pequena menina do Jordão (Governador Celso Ramos), que teve a ousadia de sair de casa aos 11 anos de idade para ajudar a realizar o sonho da casa própria de mãe, que foi a luta, e que venceu diversas batalhas na vida, que é marcada pela dor insuportável de ter perdido dos grandes amores de sua vida, (filha e esposo), hoje é Escritora. Com o livro “Uma história que virou poema” editado em 2018 e com uma participação numa antologia, Edith pretende em breve publicar outras obras.

Edith Costa Brandão, é uma mulher vencedora, prova viva que a fé em Deus, e a boa vontade, transformam vidas e aliviam dores.

MIGUEL JOÃO SIMÃO
Enviado por MIGUEL JOÃO SIMÃO em 18/05/2020
Código do texto: T6951251
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