Pedro João Simão – Mestre Dão

Pedro João Simão – Mestre Dão

Você conhece o Dão da dona Iolanda, ou o Dão da Detinha?

Texto: Professor Miguel João Simão

Escritor e Pesquisador.

A casa despida de cor, na Rua Geral de Canto dos Ganchos, de frente à praia, foi a casa que a família de João Simão Filho passou a morar a partir de 1968.

João e Iolanda mudaram-se com a família para a casa de Clarinda, mãe de Iolanda, idosa que precisava de cuidados.

João era pescador e ganhava pouco, mal dava para sustentar os filhos, e a família contava com os parcos recursos que vinham do trabalho de Iolanda, servente da Escola, que ganhava para manter a casa.

Dessa forma, os filhos mais velhos, que estavam em casa (na época, já haviam duas casadas que moravam fora, e um trabalhando na pesca no Rio de Janeiro), teriam que ajudar, pois não era fácil manter a casa.

Pedro João Simão, conhecido por Dão, é o 6º filho de João Simão Filho e de Iolanda dos Santos Simão, numa família de 11 irmãos.

Primeiro nasceram: Maria em 26 em agosto de 1946, os gêmeos Edvaldo (falecido em 2017) e Edealtina (Tinoca) em 04 de março de 1948, Edir em 12 de abril de 1950 (falecida em 10 de outubro de 1951), Eli em 26 de maio de 1952, e Pedro João em 07 de outubro de 1954. Depois nasceram: Jorge em 1957 (falecido em 1959), Miguel em 21 de julho de 1960, Edmir em 04 de maio de 1963, Edir em 22 de dezembro de 1964 e Maria Natália em 10 de julho de 1968.

Dão teve uma infância e adolescência saudável, porém de muitas dificuldades, numa época em que a fartura era só de peixes e de farinha. As famílias mais humildes dependiam dos recursos que os pais adquiriam na pesca no Rio de Janeiro.

Natural de Canto dos Ganchos, uma comunidade boa e tranquila para viver, mas nas décadas passadas os recursos eram escassos. Dão trabalhou muito na adolescência, carregando e cortando lenhas, carregando querosene, buscando capim para os colchões, serviços pesados, e que tinha que buscar nos matos, longe de casa.

E, até de leiteiro trabalhou, para ganhar uns trocados. Saía cedo, lá pelas cinco e meia da manhã e ia na fazenda buscar leite.

A pé, subia e descia ligeiro o morro da Chapada de Canto dos Ganchos, para fazer a entrega do leite nas casas, até as 8 horas da manhã.

Estudou até o 5º ano no Grupo Escolar Abel Capella, depois, para complementar os estudos, teria que frequentar a escola em outra localidade, o que impossibilitou sua ida devido às condições financeiras da família.

Sem escola, começou a trabalhar na pesca artesanal para garantir o peixe para a família e uns poucos trocados que tinha que deixar para a mãe.

Trabalhou com o Pedro da Inésia (Pedro Jovino), com o Bastiãozinho (Sebastião Garcia), mas seu mestre e amigo foi Waldemiro Lobo, seu tio e amigo.

Com o tio, trabalhou até o ano de 1972, época em que a pesca artesanal de redes começou a decair na região.

E foi nesse ano de 1972, que Pedro João, já com os documentos de pescador em mãos, tem seu primeiro embarque no dia 20 de junho.

O barco era o Santana II, e o mestre era João Manoel Nicácio, seu cunhado.

O pai, João Simão, nessa ocasião, já se encontrava em casa, com problemas de saúde.

No ano de 1974, João Simão falece, e Dão abraça um compromisso maior, junto com o irmão Edvaldo, de ajudarem nas despesas da casa, até as coisas melhorarem, pois João não deixou aposentadoria, o que foi conquistado tempos depois pela viúva. Enquanto isso, somente o salário da mãe, como servente, sustentava os filhos menores.

Dão e Edvaldo ajudaram muito a mãe, que muitas vezes dependia deles para pagar as despesas da casa.

Em conversa ele diz: “Não era fácil ver a mãe sem aposentadoria do pai, vivendo só do salário da escola, que tu sabes que era uma miséria, e vocês passando dificuldades ( se referindo aos 4 irmãos mais novos). Eu tinha muita pena da mãe, pois ela sempre foi mulher que trabalhou muito. O pai tu sabes, depois que ficou doente, pouco trabalhava e sem receber nada, ficava tudo nas costas dela, coitada. Depois ele faleceu, e a mãe só conseguiu a pensão depois de tempo.”

Os pescadores trabalhavam até juntar algumas economias para casarem, essa era a cultura da época. Como falava o velho Pacheco; “ O caboclo tem que ter miolo bom, trabalhar e se aplumar na vida, e depois casar para formar família. A vida é assim..” (Ciriaco Tomás Pacheco – 11/08/1902 -08/09/1999).

Pedro João namorou e casou com Zildete Zélia de Oliveira (Simão), em 1976.

No ano de 1980 passa a ser motorista de barcos, uma nova função, novas perspectivas.

Nesse ano nasce sua primeira filha, batizada com o nome de Janaina.

Seu primeiro embarque como Motorista de Pesca foi no barco Argus.

Uma década trabalhando como Motorista de barcos e passa para Mestre, função que desempenha até hoje.

Seu primeiro embarque como Mestre foi no barco Matheus.

Daí em diante, junto com a esposa, pode compartilhar momentos bons. Em 1984 nasceu a filha Jackeline, e em 1991, nasceu João Abelardo. Antes em 1987, nasceu João Pedro, que faleceu dias depois.

Pedro João Simão, mesmo aposentado, ainda segue sua profissão de mestre de barcos de alto mar.

Embora, todos saibam que a vida de pescador é uma vida difícil, ele afirma sempre, que é a profissão que escolheria de novo, se tivesse que escolher, por gostar e por dominar a profissão.

Como Mestre de barcos, passou por poucas empresas, permanecendo em algumas por mais de 15 anos.

É um exímio pescador, conhecedor da arte de pescar.

Hoje, com mais de seis décadas de vida, ele recorda os momentos marcantes em sua caminhada.

Não gostaria de voltar ao tempo, se possível fosse, é categórico ao falar, pois diz que a vida foi muito difícil para ele.

MIGUEL JOÃO SIMÃO
Enviado por MIGUEL JOÃO SIMÃO em 18/05/2020
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