Emílio Lauro Alves e Aurelina Oliveira Alves - Seu Milinho e dona Leca
Emílio Lauro Alves e Aurelina Oliveira Alves - Seu Milinho e dona Leca, você lembra desse casal?
E a praia da Leca, por que tem esse nome? Você conhece quem foram os primeiros proprietários daquelas terras?
A praia da Leca é uma pequena praia situada em Canto dos Ganchos, e muito procurada por suas águas claras e limpas. É um belo recanto cercado pela mata verde e pelo azul do mar. Lá, até 1979, residiu a família de seu Milinho e dona Leca.
Texto: Professor Miguel João Simão
Escritor Pesquisador.
A lancha “Esperança”, por décadas, era o bem material mais precioso que Milinho da Leca tinha para sua sobrevivência.
Nas madrugadas frias de inverno, a lancha descia as estivas e caia "na água". Colocados os apetrechos dentro, seguia viagem ao pesqueiro. Algumas vezes, nas imediações da Ilha do Arvoredo, outras nas Galés, e por ai afora mar adentro.
Milinho conduzia a lancha pesqueira, confiando em Deus, pois sabia que o mar revolto amedrontava até aqueles pescadores que estavam em barcos grandes.
Mas, a sina do homem do mar, era sempre de novas aventuras e grandes desafios, um dia após outro.
Milinho nasceu em 14 de junho de 1933, no local conhecido por praia da Leca.
As terras pertenciam a Serafim Simão Alves, avô de Emílio, e era uma grande extensão de terras.
Nessas terras, o pescador Serafim Simão Alves tinha sua propriedade e suas embarcações pesqueiras, junto com seus filhos.
Com o falecimento de Serafim, a família vendeu as terras para Lauro Serafim Alves (um dos herdeiros, e pai de Emílio)).
A antiga Rua do Sapo levou o nome de Rua Lauro Serafim Alves, homenageando o proprietário daquelas terras.
Lauro Serafim Alves casou com Rita Merencia (Bittencourt) Alves, no dia 23 de novembro de 1924.
O casal teve quatro filhos: Lauro Serafim Alves Filho, conhecido por Laurinho, Serafim Lauro Alves, conhecido por Dududa, Emílio Serafim Alves, conhecido por seu Milinho, e Maria, conhecida por Liquinha.
Assim que iam casando, os filhos recebiam seu “chão de casa”, para construírem suas moradas e começarem a vida. Apenas Emílio permaneceu no local, os demais venderam suas terras.
Milinho ficou por ali, na casa dos pais, ajudando e trabalhando na lancha “Esperança”.
A casa, com um paredão de pedras que separava o mar, era o recanto de Milinho, que muito fazia por lá. Era no conserto das redes e na própria embarcação, procurando deixar sempre impecável a “ Esperança”. Lavava e dava seus retoques com tintas, passava sebo na quilha, para deslizar bem entre as estivas, tirava o limo, coisas que pescadores fazem sempre para manter a embarcação em bom estado de conservação.
Na vida simples do homem do mar, na casinha de madeira, de onde se ouvia nos dias de maré cheia, o mar bater no paredão de pedras, Milinho tinha sua vida sossegada, mesmo trabalhando bastante. Mas, precisava de uma companheira, de alguém que ele pudesse contar para começar a vida a dois, que fosse uma mulher guerreira nos momentos bons e difíceis da vida. E é Aurelina a moça que ele desenhou em sua mente, a mulher que flechou seu coração.
E nos anos de 1950, Milinho, apaixonado pela filha de Rodolfo e de Rosa Oliveira, resolveu roubar a moça. “Fugir com a moça”, é uma expressão usada para definir a união de um casal, que de forma inesperada para a família, se juntam, e depois de algum tempo oficializam a união. O casamento oficial, no religioso ou no civil, sempre acontece numa data festiva, como nas festas de natal, de ano novo ou páscoa.
E foi nessa prainha, conhecida por “Praia da Leca”, que o jovem casal começou a vida, que as boas coisas lhe aconteceram. Foi lá, que Leca, como era conhecida Aurelina, viu nascer e crescer seus filhos. E lá também, tiveram momentos de dor, que marcaram a família
Nesse local, Milinho se despede do pai, Lauro Serafim Alves, que faleceu, no dia 11 de junho de 1963, aos 67 anos de idade. E que no dia 26 de abril de 1971, se despede da velha e querida mãe que faleceu com 70 anos de idade.
Milinho continua sua luta no mar. O pescado era vendido para pombeiros (comerciantes de pescados), da região, e Milinho vendia para Osvaldo das Neves Lobo, conhecido por Badico, pombeiro bem sucedido nos anos de 1960/70.
Enquanto Milinho saía para o mar, Leca fazia crivos para ajudar na renda da família. Sempre dava para comprar uma coisinha, ou outra com o dinheiro do crivo, suprindo alguma necessidade da casa. Além do crivo, o cuidado com as crianças, uma a uma, sob seus olhares vigilantes, para que nada acontecesse com elas, era a coisa mais importante que Leca se dedicava.
Crianças que cresceram ouvindo o som do mar, batendo nas pedras, e que puderam desfrutar das belezas da natureza. Saudáveis, educados e de bem com a vida, os quatro filhos de Leca e de Milinho, souberam bem aproveitar a educação dada pelos pais.
Com o fracasso da pesca artesanal, Milinho passa a trabalhar no barco junto com o irmão mais velho, o Lauro, conhecido por Laurinho. Depois de algum tempo, trabalhou com o irmão Dududa, e teve sua passagem também, no São Francisco de Assis, com o cunhado Abelardo Rodolfo de Oliveira, mestre do barco.
No ano de 1979, um novo desafio para a família de Milinho, uma mudança para a cidade de Itajai.
Eram momentos novos, na vida da esposa e dos filhos. Um novo recomeçar.
Em Itajai, onde Milinho trabalhava, podia ficar mais tempo com a família, tornava mais econômico em função das passagens de ônibus que gastava para vir em casa, e de qualquer forma era mais cômodo e seguro estarem todos pertos.
Depois de muitos anos na pesca, Milinho trabalhou como redeiro, no conserto e confecções de redes, até se aposentar. No ano de 2007, no dia 07 de novembro, Emílio Lauro Alves, o seu Milinho falece.
Deixou a marca de dignidade e de caráter, que foi passado para os quatro filhos. Como bom gancheiro que foi, por essas terras, além de familiares, deixou muitos amigos.
Os filhos casaram: Emilio (Bilo) casou com a Elisabeth e tem dois filhos, André e Cyntia. Ângela casou com Valério e tem três filhos, Valéria, Adriana e Ângelo. Sônia casou com João e tem dois filhos, João Junior e Bruna. Alcides casou com Roseli e tem dois filhos: Douglas e Davi.
Leca, que tem seu nome emprestado à praia que um dia foi do sogro Lauro Alves, reside em Itajaí aos cuidados dos filhos.
Por terem permanecido longos anos naquela morada, e as praias começarem a serem descobertas para o turismo a partir das décadas dos anos de 1970, permanece como referência o nome “Praia da Leca”. A pequena e bela praia situada após a “Praia do Rio” em Canto dos Ganchos, entre os costões é sempre uma boa sugestão para os dias quentes de verão.
Aurelina Oliveira Alves, nascida em 10 de agosto de 1938, conhecida por dona Leca, tem sempre o carinho do povo de Canto dos Ganchos, por ser uma mulher simples, e acolhedora.