Biografia da Bailarina MEIRE MARIA MONTEIRO DOS REIS

Meire Maria Monteiro dos Reis é bailarina, coreógrafa, atriz, professora, pesquisadora, ativista, produtora cultural de espetáculos de dança, teatro e música e funcionária pública da Assembléia Legislativa do Tocantins. Em 1990, estabeleceu-se como pioneira em Palmas, onde ocupou inúmeros cargos públicos relevantes, tais como: Coordenadora de Eventos da Secretaria Municipal de Cultura, Conselheira da Câmara de Artes Cênicas de Palmas, Conselheira Estadual de Artes Cênicas, Diretora Estadual de Cultura, Delegada do CNPC (Conselho Nacional de Cultura) representando a região Norte e Presidente da Fundação Cultural do Tocantins. Fundou algumas escolas de dança, como: Escola de Dança da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), Escola de Dança do Centro de Criatividade do Espaço Cultural José Gomes Sobrinho, Núcleo Estadual Avançado de Dança (NADANÇA) e a Companhia de Ballet Municipal (atualmente Balé Popular do Tocantins), bem como, manteve por vários anos a sua própria empresa e escola, o Espaço Contágius de Dança. Fundou também a Cia. Contágius de Dança e Teatro, que completa 29 anos de existência e inúmeras produções culturais e artísticas. Consolidou sua brilhante carreira, tornando-se uma das maiores referências da dança e da cultura tocantinense.

Em seu nascimento ficou claro que a vida Meire Maria seria diferenciada. Ela veio ao mundo de maneira inusitada, diferente, chocante, como um prenúncio de alguns adjetivos, como originalidade, criatividade e ousadia, que lhe seguiriam por toda vida.

Nasceu em 29 de outubro de 1965, dentro de um táxi numa das avenidas mais movimentadas da capital carioca, Avenida Rio Branco. É filha de Cantídio Guimarães dos Reis e Maria Maranhão Monteiro. É a filha do meio, tendo como irmãs Elyane e Dalva.

Seu envolvimento com a dança aconteceu em tenra idade.

Aos 5 anos, sua mãe lhe inscreveu numa escola de balé clássico para consertar um problema ortopédico nos joelhos.

Aos 8 anos de idade, ela assistiu ao espetáculo Lago dos Cisnes no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Ficou extremamente emocionada e decidiu que era aquilo que queria fazer por toda vida.

Aos 12 anos, ela foi preparada na Escola Ana Maria Salazar para prestar a prova como profissional no elenco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Dedicava-se intensamente, treinando e dançando por horas, em busca da perfeição de movimentos.

Com 13 anos, passou na seleção concorridíssima para compor a equipe de dançarinos do Teatro Municipal, mas seu pai não permitiu que ela assumisse a vaga. Não era que o seu pai sonhava para ela, pois não acreditava que Bailarina Clássica seria uma profissão digna. Então, ele solicitou transferência de seu cargo na Construtora Camargo Correa para o estado de São Paulo, retirando-a do Rio de Janeiro. A partir daí, declarou que não manteria mais os estudos de balé de sua filha, o que provocou a atitude de Meire Maria começar a trabalhar como professora de balé, e, escondida de seu pai, fazia aulas e trabalhava como professora para manter seus estudos.

Cada vez mais seu amor pela dança aumentava.

Aos 15 anos, ela produziu seu primeiro espetáculo, chamado “Casa de Bonecas”. O ingresso foi vendido por Cr$ 0,50 (Cinquenta centavos de Cruzeiro, e lotou o clube da cidade, coisa que seu pai veio, a saber, depois, e por conta disso, mais uma vez solicitou transferência para Mato Grosso do Sul. Aonde firmou sua profissão de bailarina e coreógrafa, através do Centro Cultural Ballet Arte. Viajou o mundo dançando e se especializando como professora e bailarina, fez cursos com os mais renomados nomes da dança nacional e internacional. Criatividade, ousadia e força de vontade da moça chamavam atenção de familiares, amigos, profissionais da área e membros de sua comunidade.

Os anos 80 foram marcados pela abertura política com o fim do Regime Militar. Foram tempos de grandes mudanças sociais e econômicas. A população tomou as ruas pedindo o retorno completo das liberdades individuais e coletivas.

Meire Maria, assim como quase todos os artistas daquele período, passou a atuar no ativismo cultura e nos protestos pelo retorno da democracia plena. Ela foi ativista no Projeto “Vá ao Teatro”, participava das passeatas na Cinelândia e colaborava com a distribuição do “Pasquim” com o pessoal do pós-ditadura.

O balé clássico para Meire Maria não era só um lazer, uma diversão ou simplesmente uma atividade cultural, a jovem destemida via naquela arte uma maneira de viver e transformar a sociedade brasileira. Os bailarinos, coreógrafos e artistas em geral eram bem mais do que amigos e companheiros de trabalho, eram como uma grande família que partilhava ideais e sonhos em prol de uma nação melhor e mais justa para todos.

Contudo, seu pai não concordava com aquela ideia de sua filha seguir a carreira de bailarina clássica e coreógrafa. Ele almejava outra profissão, professora, administradora, pediatra etc. Aquele idealismo não condizia com o que esperava para o futuro profissional de sua querida filha. Meire Maria ainda tentou por quatro vezes cursar faculdades que deixariam seu pai feliz, mas todas foram abandonadas por conta de uma turnê de espetáculo, montagem e criação de outro, agendas e compromissos relativos à dança.

Criada numa família de classe média, Meire Maria teve acesso à boa educação. Seus pais eram pessoas de hábitos requintados, admiradores do conhecimento, valorizam livros e apreciavam boa música, artes e culinária regional. Contudo, a garota demonstrava certo contraste com alguns princípios e costumes de uma família tradicional, pois questionava sempre todo o sistema político e social que o país vivia. Sentia que tinha que fazer algo à respeito e, invariavelmente, se envolvia em ativismos sociais, culturais e políticos.

Achou um jeito de burlar as ordens de seu pai. Não queria deixar o balé e a dança. Irreverência, busca pela autonomia e uma pitada de rebeldia fizeram parte daquele embate. Sua mãe, na medida do possível, tentava equilibrar a relação.

A jovem foi crescendo, firmando suas vontades, até que, num determinado dia, seguiu seu próprio caminho.

Meire Maria, já em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, em 1988 integrou a equipe de bailarinos e artistas do Centro Cultural Ballet Arte. Dava aula de dança em escolas locais para se manter, enquanto cursava a faculdade de Educação Física na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). Recebia NCz$ 87,00 (Oitenta e sete Cruzados Novos), o equivalente a um salário mínimo.

Com a promulgação da Constituição Federal em 05 de outubro de 1988, foi criado o Estado do Tocantins, a ser implantado a partir de 1º janeiro de 1989.

A ligação de Meire Maria com o norte goiano é antiga. Desde a década de 1950, ela possui familiares vivendo na região do baixo rio Araguaia, como por exemplo: Araguacema, Araguatins e Tocantínia no lado tocantinense, e Conceição do Araguaia, no estado do Pará. Contudo, ela não conhecia esses parentes, devido a profissão de seu pai, que trabalhava na empresa Camargo Correa e mudava constantemente para acompanhar a execução de grandes obras.

Com a criação do Tocantins, sua irmã mais nova, Elyane Monteiro, recém-formada em Educação Física, veio para morar na casa de seu tio Ludovico Monteiro em Tocantínia e trabalhava em Miracema e ela decidiu visitá-la.

Em julho de 1990, Meire Maria chegou à capital provisória Miracema e de lá foi até Palmas, que era um verdadeiro canteiro de obras, com máquinas, tratores e operários para todos os lados.

Palmas era bastante carente, de praticamente tudo. As ruas e avenidas não possuíam asfalto. A poeira, o calor e a falta de infraestrutura eram enormes desafios cotidianos. A população crescia rapidamente com caravanas diárias de migrantes chegando em busca de emprego e oportunidades. Não havia indústrias, nem fábricas. As lojas e demais estabelecimentos comerciais não tinham estoque suficiente para atender a demanda em constante crescimento. Os itens básicos vinham de outros estados e chegavam em geral com preços elevados. Aqueles foram tempos difíceis que os pioneiros tiveram que enfrentar.

Para conseguir suportar todas aquelas dificuldades iniciais, o governo do Tocantins dava inúmeros incentivos para que as pessoas se estabelecessem em Palmas. Os lotes residenciais e comerciais eram vendidos relativamente baratos, havia isenção de impostos e taxas para instalação de empresas e os salários dos funcionários públicos eram bem altos.

Meire Maria por onde ia chamava bastante atenção. Uma mulher alta, elegante, de corpo delineado, sorriso largo e falante rapidamente fez inúmeras amizades. Logo ficaram sabendo de sua qualificação e seu enorme potencial. Assim, aquela visita que era para ser temporária tomou outro rumo.

Ela foi convidada para trabalhar inicialmente da extinta DEPLAN e após isso foi para a Coordenação de Cultura da Secretaria Municipal de Educação. Ofereceram-lhe um salário de NCz$ 780,00 (Setecentos e Oitenta Cruzados Novos), uma proposta irrecusável. Era um contrato de três meses, mas que serviu para fixá-la definitivamente nessa terra. Dali em diante ela não conseguiria mais se distanciar do Tocantins. Ficou e passou a dar contribuições significativas na construção de políticas públicas de incentivo e promoção da cultura.

Em 1992, fundou a Cia. Contágius - Companhia de Dança e Teatro, sendo percursora da dança clássica, moderna e contemporânea no Tocantins.

A arte da dança é uma das maiores manifestações estética, cultural, de lazer e de importância pedagógica por todo o mundo.

A Escola Contágius foi uma escola referência na região norte. Sua escola era um local lindo, bem decorado, aconchegante, que inspira e envolve à prática de uma das artes mais especiais e antigas da humanidade: a dança e o teatro.

Ao longo de quase três décadas, a Contágius tem ajudado no desenvolvimento da sensibilidade artística, aumento da autoestima, sociabilidade e melhoria da qualidade de vida de milhares de crianças, adolescentes, jovens e adultos.

Ocupou inúmeros cargos públicos: Coordenadora de Eventos da Secretaria Municipal de Cultura, Conselheira da Câmara de Artes Cênicas de Palmas, Diretora Estadual de Cultura e Presidente da Fundação Cultural do Tocantins.

Foi responsável pela implantação da Escola de Dança do Centro de Ensino Martinho Lutero (CEML/ ULBRA), com direção de quatro espetáculos. Também implantou a Escola de Dança do Centro de Criatividade de Palmas.

Coordenou e incentivou inúmeras ações e projetos ligados às artes cênicas, teatro, música e dança

Ao longo de sua carreira, Meire Maria e sua equipe receberam vários prêmios e homenagens, tais como: 1º lugar como coreógrafa no Simpósio Mundial de Dança, (2) Prêmio Klauss Vianna MINC/Funarte (circulação nacional do espetáculo “Sós e Nós”), (3) Prêmio Fernanda Montenegro (circulação estadual do espetáculo “Sós e Nós”) e (4) Prêmio Arnauld Rodrigues (para montagem do espetáculo “Ritos e Rituais – Uma Trilha pelo Araguaia e Tocantins).

Meire Maria é uma artista completa, como poucas que existem no Brasil. O Tocantins foi privilegiado por ter recebido essa personalidade incrível, que tanto contribui pela formação e desenvolvimento do estado.

Nós, seres humanos, possuímos um jeito único de manifestar aquilo que somos, pois temos a capacidade de expressar nossos pensamentos e emoções de muitas maneiras diferentes, de uma forma que nenhum outro ser vivo é capaz de fazer.

De todas as diversas formas de arte, a dança é considerada a mais antiga de todas e também a única que dispensa a utilização de materiais e ferramentas. Para expressar a arte da dança o ser humano precisa basicamente do corpo e da sua vitalidade própria. Desde a mais tenra idade, com o simples mover do corpo, seguindo uma coreografia em sintonia com um certo ritmo musical, qualquer criança pode expressar a arte da dança.

Dançar é a maneira mais natural de externar através dos movimentos do nosso corpo as emoções e experiências mais subjetivas, criando uma sintonia com os ritmos e pessoas à nossa volta. Mas, nem todos conseguem desenvolver essa habilidade nata, que recorrentemente fica reprimida e inerte, por anos, às vezes décadas. Assim, é necessário ajuda de um profissional/mestre para liberar as amarras e destravar tal capacidade adormecida.

Meire Maria, como exímia bailarina e excelente professora de dança, auxilia o aluno a se descobrir, aprimorar sua sensibilidade artística e expressar os sentimentos mais profundos da alma por meio da arte da dança. Ela faz isso com maestria, de um jeito inigualável, que marca intensamente àqueles que tem o privilégio de partilhar seus ensinamentos e experiências.

Em sua carreira de mais de quatro décadas no teatro e na dança ela interpretou inúmeros papéis e personagens, desde índia à princesa, de rainha à escrava, de hippie à aristocrata, todos com muita intensidade e amor.

Meire Maria é um furacão de emoções, uma mulher de personalidade forte, impetuosa, vibrante, que ama e vive a vida de maneira intensa. Essa paixão fulgurante que arde em seu interior se traduz ao som de uma bela música em leveza, elegância, gestos suaves, delicadeza de movimentos, fazendo surgir algo fascinante e encantador que mexe com os corações de um jeito todo especial.

Se alguém não sabe o conceito de “espetáculo” basta contemplar a bailarina Meire Maria em ação para compreender com exatidão o significado dessa palavra.

Meire Maria é a personificação perfeita das emoções e sentimentos que permeiam a arte da dança, tais como: força, intensidade, magia, suavidade, graça e beleza.

Por seu pioneirismo, como precursora no desenvolvimento das artes, por seu exemplo como ativista cultural, ela conquistou respeito, credibilidade e centenas de admiradores e amigos. Construiu um legado lindo e permanente, que continuará a gerar frutos por gerações.

Por tudo isso e muito mais que a bailarina Meire Maria Monteiro dos Reis é reconhecida como a “Rainha da Dança no Tocantins!”

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Palmas - TO, Maio de 2020.

Giovanni Salera Júnior

E-mail: salerajunior@yahoo.com.br

Curriculum Vitae: http://lattes.cnpq.br/9410800331827187

Maiores informações em: http://recantodasletras.com.br/autores/salerajunior