O Último Monarquista - um resumo da biografia de Joaquim Nabuco
“O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.”
Joaquim Nabuco
Jamais se cumprirá de forma totalmente satisfatória a nobre tarefa de homenagear a magnitude de um dos mais bravos pernambucanos, o imortal Joaquim Nabuco – o advogado da liberdade, arauto da diplomacia, aquele que melhor representou o que de melhor havia – e há – na sociedade da antiga maior província do Norte, o grande Estado de Pernambuco.
Nabuco rima com o nome e a história de Pernambuco que durante 4 séculos – desde 1630 – vem lutando pela liberdade. Henrique Dias – se pudesse atravessar a história que nós estamos construindo – não veria, senão em Joaquim Nabuco, a glória da concretização de alguns dos seus mais nobres ideais. O mesmo poderíamos dizer sobre Frei Caneca e tantos outros: não simplesmente pela abolição da escravidão negreira, mas da escravidão da ignorância, da pobreza e da corrupção da sociedade em geral.
Por meio de seus livros (cito os clássicos Minha Formação, Um Estadista do Império, A Escravidão, A Campanha Abolicionista, entre outros, que constituem parte significativa de seu legado para nós), vemos claramente que desejava agraciar a humanidade com uma boa narrativa de fatos e uma boa defesa de valores inestimáveis para os que quiserem compreender tudo aquilo pelo que Nabuco dedicou a vida.
Mas toda sua obra – que não se resume, obviamente, aos livros que escreveu – é um grande exemplo de como se constrói um herói. E, talvez um de seus maiores méritos seja deixar um registro mais que satisfatório de sua história, eternizando sua trajetória em preciosos volumes.
Não ambicionava cargos. Apenas elegeu-se deputado. Não foi agraciado com nobiliarquia alguma, mas nunca houve outro venerável como ele. Cavalheiro da mais alta estirpe, cortês, elegante no vestir e no falar – e como falava! – bem, eu nunca o ouvi, mas pelo que se disse sobre ele, não se pode crer que não fora assim.
A partir do 13 de Maio, investiu-se como o defensor-mor da monarquia, o Último Monarquista em suas próprias palavras. Ainda assim, aceitou servir ao governo, anos depois do fatídico 15 de Novembro, como embaixador, por crer servir à Nação, ao Brasil, que é maior que a republiqueta tupiniquim.
Altamente inspirado, Nabuco liderou a Campanha Abolicionista e a defesa de uma série de reformas sociais – como a reforma agrária, uma reforma educacional, a manutenção da monarquia, e a ampliação do liberalismo político para uma democracia à inglesa – mas, salvo a abolição, não viu nenhuma realizar-se concretamente. E mesmo vemos hoje não há sequer uma proposta séria que tenha a intenção de levar a uma real efetivação dessas “reformas nabuquistas”.
Nabuco tinha um projeto nacional de desenvolvimento, com base no trabalho operário, pelo que foi acusado falsamente de comunista, na Inglaterra; suas ideias de 'pós-abolição' poderiam transformar a república recém-nascida numa potência comparável à própria Inglaterra, à França e a outras potências mundiais da época, já que ele conhecia a história do passado e sabia o que fazer para uma nova história de futuro.
Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo – já que é de praxe citar o nome completo dos homenageados – é personagem de alguns paradoxos pessoais.
Católico, crescendo em fervor ao longo dos anos, defendeu a liberdade religiosa, o ensino leigo, a separação entre Igreja e Estado e chegou a criticar a Igreja Romana quando não defendia os escravos – a reação “mais vergonhosa” de todas, segundo ele. Mas, obtido o apoio, quantos elogios não derramou aos pés do Bispo de Roma! Sua relação pessoal com a Igreja e religião que professava talvez tivesse comparação apenas com a que havia entre Winston Churchill e a Igreja da Inglaterra. O próprio Churchill se considerava um contraforte, apoiando a Igreja por fora.
Um paradoxo mais importante, entretanto, é o paradoxo da escravidão. Nabuco, desde a Faculdade de Direito, era abolicionista, apoiou muitos clubes abolicionistas, liderando um grande lobby na Corte – um dos maiores, se não o maior, então experimentado – exigindo a abolição – inclusive sendo testemunha do momento da assinatura da Lei Áurea.
Criado numa família, assim como as todas as famílias de prestígio da época, escravocrata, e cercado de escravos que o bem serviam com o constante temor que o fez se rebelar contra uma condição social secular, ou mesmo milenar. Nabuco sentenciou certa feita que a escravidão deixaria por muito tempo uma marca típica do Brasil, e disse também que sentia saudades dos escravos que lhe cuidaram na infância.
Para compreender esse paradoxo pode-se fazer uma analogia com a história de Sidarta Gauthama – um príncipe rodeado de prazeres e servos, isolado da dor e do sofrimento humanos, que, ao descobrir a miséria e a pobreza, a maldade e injustiça entre os homens, se fez o maior paladino da justiça e da liberdade em seu país.
Joaquim Nabuco é como um Buda Pernambucano. Seu sentimentalismo pela situação do escravo é quase platônico. Sua nobreza não reside – apenas – na defesa pela abolição da escravatura, mas no desejo de oferecer a cada pessoa o mesmo ideal conforto, que cada menino brincasse feliz, que cada jovem estudasse com a mesma paixão, e que cada homem e cada mulher lute por uma boa causa.
Joaquim Nabuco, chamado de Quinquim na infância, se tornou o maior gentleman da história da Câmara dos Deputados e da diplomacia brasileira. A elegância e a etiqueta eram a marca desse grupo social a que se integrara, uma aristocracia que não se destacava pela terra ou dinheiro, mas pela opinião, pela oratória, um poder derivado de sua autoridade moral e das lutas políticas que abraçara.
Sua situação financeira nuca havia sido de grande prosperidade, e o talento que tinha para conquistar a atenção (das damas e dos políticos) ele não tinha para as finanças, e acabou preso unicamente a seu salário de diplomata.
Muitos se lembram de seu romance com Eufrásia Teixeira Leite. Mas, pouco sobre esse assunto é digno de alguma atenção. Suas personalidades eram bastante opostas, ela moderna e ele tradicional, ela independente e ele um cavalheiro intransigente. E por sorte ele conheceu Evelina, com quem se casou e construiu um lindo e próspero casamento.
Em detrimento de Nobre, Buda Pernambucano, Venerável, gentleman, etc., o maior mérito e laurel desse homem é ser o pai de uma família amada e forte – “Minha mulher e meus filhos formam um círculo dentro do qual sou intangível”, disse.
Seus filhos tornaram-se pessoas importantes mas, acima de tudo, pessoas boas. Evelina e seus cinco filhos são os maiores tesouros de Joaquim Nabuco.
Seus maiores títulos são: Marido e Pai.