HISTÓRIAS ESCRITAS POR MEU PAI – JOÃO PEREIRA DE SOUZA
- Estas são histórias contadas por uma grande pessoa: João Pereira de Souza, meu pai, encontradas em seus alfarrábios.Aqui transcrevi. Quem tiver curiosidade poderá conhecer um pouco de sua vida.
- Faleceu, em Belo Horizonte, MG, aos 19 dias do mês de abril de 2008.
PRIMEIRO RELATO
Belo Horizonte, 19 de setembro de 1996.
Eu nasci em 5 de agosto de 1913, na fazenda de meu pai Pedro Pereira de Souza e de minha mãe Maria Neves de Jesus. Ainda me lembro de quando eu, pequeno, trabalhava. Tratava das criações: muitos porcos, galinhas, gado etc. Às 14 horas, tinha que prender os bezerros, separar as vacas. Aí eu fui crescendo. Tudo isto com meus irmãos e irmãs. Meu pai pôs uma tarefa para mim, para meu irmão Francisco, e para minha irmã Querobina: descascar e debulhar 25 alqueires de milho para o tropeiro pegar nos dias de sábado.
Eu e meus irmãos frequentávamos a Escola da Fazenda dos Rodrigues. Ali tinha uma capela em que eu fiz a Primeira Comunhão, com o Padre Agostinho. Minhas professoras eram moças da fazenda.
Aos 23 anos fiquei apaixonado por Maria das Dores de Faria. Com ela me casei em 04 de maio de 1937. Muito pobres, eu e ela. Mas com a graça de Deus, vencemos, criando uma família de seis filhos, sendo cinco homens e uma mulher. Hoje todos casados, graças ao nosso bom Deus. Eu encontrei a mulher dos meus sonhos. Nós já vivemos juntos quase 60 anos.
Note bem. Moramos um ano com meu sogro. Daí arrendamos um terreno para tocar lavoura. Mas estava tão ruim que só ficamos dois anos. Comprei uma venda na roça. Isto em 1941. As coisas eram tão baratas... as mercadorias... E o lucro era pouco.
Fui para a fazenda de meu pai tocar lavoura de cana e os filhos foram crescendo.
Em 1954, viemos para BH. No começo foi muito duro. Eu trabalhei em uma fábrica de tecidos, a da Renascença, mais de oito anos. Ganhava salário mínimo que era muito pouco. Fui dispensado. Comecei com um comércio de mercearia. Pagando INPS, aposentei-me com 66 anos. Hoje estou com 83 anos. Minha esposa, com 80 anos. Esposa que tanto me ajudou nas dificuldades da vida. Eu chegava do serviço, às vezes de madrugada, e a minha esposa estava na máquina costurando, confeccionando roupas para trocadores de ônibus e soldados. Ela também cortava cabelo das crianças do bairro.
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SEGUNDO RELATO
Belo Horizonte, 4 de agosto de 1998.
Dia 2 de agosto, fizemos uma viagem a Rio Espera. Eu, João Pereira de Souza, Maria das Dores, Luiz Gonzaga e seu filho com a namorada. Fomos lá onde nasceu minha esposa Mariinha que ficou muito emocionada com saudade do passado. Parei com o Luiz no lugar em que eu e a Mariinha moramos dois anos, tocando lavoura, vivendo em uma casinha beira-chão. De filho, tinha o José Fidêncio. Aluguei o terreno de Joaquim Miranda, por 5 mil réis. Dava produção boa, mas os mantimentos eram tão baratos que não davam lucro. Era muito trabalho. Só ficamos 2 anos. Mudei para a Liberdade. Aluguei um pequeno terreno com uma casinha, um cômodo de venda. Mas piorou. O dono da propriedade, senhor Gentil, suicidou-se. Fiquei só seis meses. Entreguei a chave à viúva e fui morar na Piteira, no terreno de meu pai, tocar lavoura de cana e fabricar cachaça. Ficamos 15 anos. Mudamos para Belo Horizonte em outubro de 54. Mesmo assim, com toda esta dificuldade, temos saudade da mocidade. Agora estou com 85 anos e a Mariinha com 82. Temos 6 filhos: cinco homens e uma filha, Conceição. Sou aposentado há vinte anos. Os filhos, todos casados, têm casa para morar aqui em BH. Tenho doze netos e dois bisnetos.
• TAMBÉM ESTAVA ANEXADO ESTE PEDIDO DIRIGIDO À SANTA DE SUA DEVOÇÃO:
Oh poderosa Santa Ifigênia de Girona, colocada em um pobre altar por meus pais, peço à Senhora que dê saúde à minha família e livre-a dos perigos. E dê saúde a João Pereira de Souza que se acha doente.