Resumo biográfico de Zé Barros

JOSÉ ALVES BARROS.

José Alves Barros, nascido em Itacoatiara-AM, no histórico bairro Colônia, em 22 de março de 1924. Era o mais novo dos cinco filhos de Joana Alves Barros e Guilherme Barros, e neto do importante empresário catalão Aquilino Barros, chegado ao Brasil em 1874. Conviveu pouco tempo sob a diligência do pai, que estudava na Europa, e de sua mãe, que o deixou precocemente órfão. Próximo dos nove anos de idade, já sem pai e mãe, assumia sozinho os rumos de sua vida.

A maior parte de sua juventude, nos idos da década de 1940, passou viajando, a trabalho, pelos rincões da Amazônia, adquirindo daí desde a habilidade de jangadeiro e cozinheiro à destreza no leme das embarcações marítimas. Zé Barros mantinha uma atenção redobrada em tudo o que realizava, moldando o seu perfil de autodidata em quase tudo o que aprendeu a fazer. É dessas andanças o contato de Zé Barros com a riqueza de costumes e crenças do caboclo amazônida. Em 1949, já como pai de família, sob a influência de suas participações no Boi-bumbá Garantido do Jauari, fundado na década de 1930 por Paulino Andrade e Claudomiro Azêdo, resolveu criar sua própria agremiação, o Boi-bumbá Treme-terra do bairro Colônia, que perdurou até 1953. Dessa forma, Zé Barros assinalava o seu nome entre os precursores das manifestações folclóricas de Itacoatiara, ao lado de Chico Magro, Chico Peruano, Miguelzinho e Zé Garoto.

Entre o final dos anos 1940 e início dos anos 1950, as festas foram muito frequentes no cotidiano de Barros. Ele estava sempre inserido, como integrante, nos antigos cordões de carnaval, dentre os quais: Os Camafeus, Os Palhaços, Os Cafuzos, Os Linguarudos e Os Marujos. No meio artístico, Zé demonstrava um notável engajamento com tudo o que era inerente ao universo das artes. Suas experiências com as cerimônias religiosas o faziam uma figura emblemática nas procissões católicas, nas tradicionais novenas e em quermesses, onde, nessas últimas, também exercia o papel de leiloeiro, junto a nomes conhecidos, como: Antoniquinho e Paulino Nazaré. Sempre em contato com o público, Barros ganhava cada vez mais prestígio popular, com a liderança que lhe era peculiar.

Além de repentista, compositor, músico e cantor, foi ainda carpinteiro, pintor e, mais tarde, escultor e restaurador de imagens de escultura, habilidade que, segundo ele, adquiriu por inspiração divina. Chegou a restaurar todas as imagens dos santos da Catedral de Itacoatiara, inclusive a da padroeira da cidade, Nossa Senhora do Rosário. Tornou-se o principal nome no ramo de recuperação e encarnação de estátuas em sua cidade e regiões vizinhas.

Em meados dos anos 1980 e início dos anos 1990, ocorreram suas últimas participações em eventos folclóricos e carnavalescos. Em 1985, convidado pela professora Terezinha Peixoto (então administradora da Galeria de Artes Profª. Marina Penalber), Zé Barros voltou a organizar, com ajuda de outros colaboradores, o cordão d’Os Marujos, o qual tinha como local dos ensaios a sua própria residência. O último ano em que esteve presente numa agremiação folclórica foi em 1995, no boi-bumbá Caprichoso, de Valmiro Borges. Sempre atuando no grupo de cantadores de toadas.

Zé Barros nunca quis a fama ou as glórias da notoriedade, embora elas o acompanhassem. Certamente os seus feitos o incluíram no rol das pessoas mais conhecidas da Velha Serpa. Nunca abandonou sua religiosidade, nem sua honestidade. Sempre atendeu aos convites de diversas entidades, para relatar suas memórias e do município de Itacoatiara. Em 13 de agosto de 2005, traído por complicações cardíacas, morreu em Manaus o homem que não apenas soube valorizar as tradições, crenças e costumes de sua terra, mas também se tornou testemunha ocular de acontecimentos históricos de sua gente.

*Texto divulgado em 2014 no Festival da Canção de Itacoatiara com o objetivo de homenagear o célebre folclorista itacoatiarense.