Abismos de papel
Emprestarei meus sonhos
A essa cidade vazia.
Em todos os sinais
O meu corpo se fecha.
Pelos meus corredores
As crianças antigas,
quê não envelhecem.
Meus mortos do café
Permanecem no sonho
sentados na escada
Da velha cozinha entristecida.
Por cima dos edifícios
As solidões se jogam
De precipícios falidos
Mas não chegam ao chão;
Um herói falso,
Fadado ao abandono,
Sempre me salva no final.
O coração se corrói
com as mesmas palavras,
Algoz mortal e abatido.
As mãos frias
Procuram no silêncio
minhas próprias alças.
Já é tarde
E esse meu destino
que consome trevas e escuridão;
Terno elegante
Sapato brilhoso
Brasas pra pisar no chão.
Que me valha o gesto
Não acredito em sorte;
Que me valha o verso
Pois eu solitário sou,
E ando sozinho pelos lugares.
Um brado aos amigos
Aos poucos e se os tive!
E nem o amar com suas dores
Que não me valha
e nem o sofrer,
pois não tive amores.